Manuel Igreja

Manuel Igreja

O Centro Interpretativo da Mulher Duriense em Armamar

Antes de mim aqui e agora, alguém muito sabedor afirmou que pior do que ser pequeno é não querer ser grande, sendo óbvio que a pequenez e a grandeza das coisas e das causas não se medem nem em palmos nem em quilogramas.

A dimensão que importa e nos leva a mim a escrever estas linhas, e a vossas senhorias a as ler, tem a ver com a dimensão imaterial que sempre nos leva a prosseguir, a tentar, a sonhar e a concretizar. É essa que faz uma pessoa mais inteira e uma comunidade mais completa, mais sabedora e mais acolhedora.

São essas comunidades preenchidas e nascidas das pessoas e para as pessoas que marcam a diferença neste mundo cada vez mais igual, nos equívocos, nas menorizações daquilo que deve ser elevado, e nos anseios e gostos pelo fácil e pelo efémero.

A vida de hoje- em -dia feita de estrondos fátuos em jeito de cogumelos que brotam, florescem e morrerem num só dia, leve-nos a esquecer o que jamais pode ou deve ser esquecido, leva-nos a ajuizar somente o que está a centímetros do olhar, e leva-nos a pensar que só o agora conta porque é por excesso a incerteza quanto ao futuro.

Com a pressa de viver e com a ânsia de estarmos onde não estamos e com a urgência de termos o que não temos, esquecemo-nos com frequência dos caminhos e dos modos como chegamos até aqui. Inconscientemente quase somos levados a pensar que não houve alguém antes de nós.

No entanto, houve. Muitas lutas, muito sofrimento, muitas alegrias, algum folguedo, e essencialmente muita tenacidade foi necessária para que a estrada do viver fosse percorrida. Heróis e heroínas anónimas e anónimas, fizeram fé no que acreditaram, não temeram, não ignoram e concretizaram com ruturas, com tremuras, mas antes de tudo com coragem.

Por isso, mas não só, é essencial que se preserve para memória futura e para ensinamento no presente, a obra, as atitudes e o acreditar sem desanimar, daqueles e daquelas que se distinguiram e distinguem não porque dizem saber mais, mas porque fizeram e fazem melhor.

Tudo isto e muito mais pode ser visto e notado no Centro Interpretativo da Mulher Duriense recentemente inaugurado em Armamar, pequena vila e inquestionável microcosmos da realidade do Alto Douro Vinhateiro e da Beira terra de maçã e de outras novidades da agricultura. Fazem estrema ali as duas regiões e complementam-se como casal de noivos que une os bens ao luar para complemento do património comum.

O Centro Interpretativo dedicado à Mulher, erguido nas instalações da antiga Adega Cooperativa, merece que se lhe tire o chapéu em modo de vénia e de agradecimento. Está lindo em termos estéticos e está excelente em termos de conteúdo. Muita coisa ainda o pode e vai enriquecer, pois o tema não tem fim se a capacidade de criação ganhar asas e voar.

O papel da Mulher na sociedade geral antes de nós está ali bem referido, e o papel da Mulher Duriense enquanto gavinha que suportou e suporta o quotidiano de quem cuida dos vinhedos para que as uvas nasçam e se aguentem sãs até aos lagares, está ali bem patente e distinguido num pleito bem merecido.

A região é pequena, a vila altaneira linda e bonita é quase de se poder meter na algibeira, mas porque quer ser grande naquilo que realmente importa, ansiou, viu a oportunidade e aproveitou. Concretizou algo que extravasa os muros e que evidencia que o universal é o local sem paredes.

Vale a pena a visita. Digo eu que sou suspeito.



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