Manuel Igreja

Manuel Igreja

A candidatura a cidade europeia do vinho 2023 : - O começo do fim da paróquia

Quem ande usualmente por aqui a deitar palavreado ou escrita sobre assuntos de todos, tem tendência para afirmar que no Alto Douro Vinhateiro, está tudo cada vez mais na mesma.

Eu, pecador me confesso. No entanto ele move-se. Vai-se modificando quer em termos de mentalidades quer em termos de realidades. A dinâmica das coisas num mundo de portas escancaradas vai possibilitando novas visões, novas missões e novos modos de se fazer acontecer.

Nesta nossa modernidade o longe fica perto, o ir ali e vir quase virou instintivo sem obstáculos notórios, os vizinhos deixaram de ser os da porta que se segue na rua onde moramos. A lua que brilha na noite passou a ser a mesma porque a sua luz já faz parte da nossa esquina.

No Alto Douro serpenteado por um rio de águas cálidas para onde escorrem os suores que ajudam no crescimento dos cachos para que virem néctares, muita pedra tem sido partida para que se vão moldando novas estátuas mentais que por serem imateriais, não necessitam de pedestais erguidos em cada praça na terra de cada um

. O território começa inequivocamente a ser visto como comum e com o largo situado na cabeça de cada qual. Somos crescentemente filhos e habitantes da mesma terra, que mais do que uma aldeia, vila ou cidade, é uma região de vinho, de terra e de gente, mas também de algumas mais coisas complementares alargando e explorando as maravilhas. Exemplo acabado e que no deve contentar, é a candidatura comum ao reconhecimento e título de Cidade Europeia do Vinho 2023.

Não é uma cidade no sentido comum que se candidata. São dezanove concelhos, dezanove autarcas que a uma só voz, e com um só sentimento de pertença se esforçaram e esforçaram para que o nosso Douro seja no próximo ano uma cidade onde todos somos cidadãos.

Tenho para mim que nenhum se preocupou neste míster, nesta nobre missão, em saber onde fica a praça em que se vai montar o palco para o bailarico, ou qual o campanário onde os sinos irão badalar de regozijo. Os foguetes multicolores e sempre belos, brilharão na visão do céu alargado porque para a mentes não existem fronteiras.

Com esta candidatura, e por ela estar a ser apresentada pensada nestes moldes, no vale do rio Douro e por entre as montanhas vestidas de videiras, o universal passou a ser um pouco mais o local sem paredes. Derrubaram-se alguns muros. Só por isso, já estamos melhores e mais fortes.

O arrojo é próprio de quem quer fazer a diferença e de quem porque sabe a hora fazer acontecer. No momento em que se lavra na folha em branco feita campo do nosso contentamento ainda não se sabe o resultado da candidatura, mas já vencemos.

Estamos a ser capazes de alargar os limites saltando cercas e cortando os silvados que sempre nos impediram de ir em frente e mais além dos contornos da nossa paróquia,


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