Batista Jerónimo

Batista Jerónimo

Conteúdo e a Forma

Em política, o conteúdo é subalternizado pela forma como comunicamos e pior, desvalorizada a tomada de decisão, a concretização, ou seja o acto simples de governar.

Por certo, nunca saberemos o que levou Pedro Nuno Santos (PNS), experiente e conhecedor de como estar na política como poucos, a fazer o anúncio para resolver o problema do aeroporto de Lisboa. Cada um dos intervenientes, António Costa, Governo e o próprio sabem a sua verdade mas, poderá ser uma verdade diferente do colectivo ou até não coincidente com a verdade dos outros.

O Ministro PNS decidiu apresentar uma solução. Após meio século alguém teve a ousadia de decidir – de governar. Aparece o caso político. Tudo porque, e também, já se percebeu que nunca em tempo algum haverá consenso entre as várias e múltiplos interessados: cidadãos, câmaras, associações de todo o tipo, partidos políticos, ordens de vários géneros, ministros, secretários de estado e o rol podia continuar.

A Forma na política, sempre a forma! Seria tudo diferente se o PNS fizesse um embrulho bonito e dissesse: O Ministério das Infraestruturas e da Habitação tem a solução para o Aeroporto de Lisboa, apresenta-o em Conselho de Ministros e depois aos partidos, …

E, se a forma tivesse sido diferente … as mesmas vozes levantar-se-iam a pedir a sua demissão. Então o que mudava?

Todos os interessados vieram criticar a forma, mas e o conteúdo? Quem com fundamento, depois dos tais 50 anos a pensar numa solução, criticou esta? Quem destes interessados alguma vez calendarizou e vinculou-se com datas? Com financiamentos? Qual foi o Ministro, de anteriores governos, que deu a cara por uma alternativa?

Na minha vida sempre valorizei quem decide, quem governa, quem afronta os poderes, sejam políticos, económicos ou de qualquer tipo de agregação. E na alternativa ao Aeroporto da Portela, temo-los todos e mais alguns. Pior que uma má decisão só a ausência dela – é o meu lema. E na política o dia-a-dia é criticar a inércia, não a suportamos mas, mas depois também criticamos quem decide, e o que está mal é - porque decide.

Depois, a norma, que felizmente está a deixar de ser, por tudo e por nada, por decidir e não decidir, por falar e não falar, por ter cão e não ter cão, surge o pedido de exoneração, própria ou do superior hierárquico, e ponto, está o problema resolvido. Fica resolvido? Ou agravado?

Todos os governos tiveram mais que uma decisão “irrevogável” , tiveram demissões que em nada contribuíram para a melhor governação e, esta, a de PNS em nada iria contribuir, e não é só pelo substrato do conteúdo, mas a forma, não pode ser a arma de arremesso daqueles que vivem da intriga e da criação dos “factos políticos” só na sua imaginação ou pior pela ausência de iniciativas.

Vêm aí tempos difíceis, PNS será um governante debaixo de fogo constante, porque é um homem de causas socialistas, coisa muita para um PSD “Passista” que regressa, com menos competência é certo, mas com políticas neoliberais. O tal que incentivou os jovens a emigrar, que dizia que estávamos a viver acima das possibilidades, o do aumento “brutal de impostos”, o do corte nas baixas pensões, o que é contra o salário mínimo nacional, acabar com a classe média, a submissão ostensiva a Merkel e tantas outras.

Alguns desmemorizam muito rápido mas, não é por isso que a história se altera ou apaga.

Bragança, 05/07/2022

Baptista Jerónimo


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