Castanheiro em Portugal: Um Desafio que Exige Ação Imediata
O castanheiro (Castanea sativa) é uma árvore emblemática de várias regiões de Portugal, especialmente nas zonas de Trás-os-Montes, Beira Interior e algumas áreas do Centro. Tem sofrido, ao longo dos séculos, com diversas doenças e pragas.
Nos últimos anos, a ameaça à cultura do castanheiro, agravou-se de forma alarmante. A tinta do castanheiro, causada por Phytophthora cinnamomi e Phytophthora cambivora, foi introduzida na Europa no século XIX e provoca graves declínios de soutos ao atacar o sistema radicular, levando à morte por asfixia das árvores. Já o cancro do castanheiro, causado por Cryphonectria parasitica, chegou a Portugal em meados do século XX e provoca o colapso dos ramos e troncos, destruindo árvores inteiras.
Estas ameaças, somadas à recente infestação da vespa-da-galha (Dryocosmus kuriphilus), representam um desafio colossal para os agricultores e para toda a economia do setor. A vespa, ao desenvolver-se nos gomos do castanheiro, provoca a formação de galhas que comprometem a floração e o desenvolvimento vegetativo, impedindo a formação das castanhas. Como resultado, a produção caiu drasticamente. Em 2023, os prejuízos na região de Bragança ultrapassaram os 20 milhões de euros, e as previsões para 2025 indicam que a situação pode piorar ainda mais.
Apesar das ações de controlo, como a introdução do parasitoide Torymus sinensis, os resultados têm sido limitados, e a infestação continua a avançar de forma descontrolada. É urgente que o Governo e as Câmaras tomem medidas concretas e eficazes, reforçando o apoio técnico e financeiro aos produtores, e investindo seriamente em investigação e desenvolvimento de novas soluções.
A produção de castanha nos concelhos de Bragança e Vinhais representa cerca de 85% da produção nacional e movimenta aproximadamente 100 milhões de euros por ano. Não podemos permitir que continue vulnerável a uma combinação de ameaças que põem em risco a sua sobrevivência. A par de uma questão económica, trata-se de preservar o nosso património agrícola e cultural, símbolo de resistência e riqueza das nossas regiões de montanha.
É imprescindível que o Governo reconheça a gravidade da situação, considere o castanheiro como uma espécie de interesse nacional e implemente medidas de apoio à recuperação das explorações afetadas. A luta contra a vespa-da-galha, assim como contra as outras ameaças que pesam sobre o castanheiro, é uma batalha pela nossa identidade, pelo futuro das nossas comunidades e pelo património que herdámos.
Chegou a hora de agir com urgência, inteligência e solidariedade. Não podemos continuar a deixar esta situação num limbo, à espera de um milagre. O Ministério da Agricultura deve reforçar as medidas de controlo da praga, apoiar financeiramente os produtores afetados, subsidiar a plantação e replantação de castanheiros, e reconhecer oficialmente o castanheiro como uma espécie de interesse nacional.
Só assim poderemos proteger o que é nosso, garantir o futuro do setor e deixar às próximas gerações um património vivo, forte e resistente.