Bragança o Saneamento Básico: “a promessa eleitoral”
Após o 25 de Abril, o Movimento das Forças Armadas (MFA) assegurou algumas das ligações viárias essenciais dentro concelho. Ao longo das últimas décadas, os sucessivos executivos autárquicos de Bragança promoveram melhorias significativas nos arruamentos e no abastecimento de água ao domicílio, particularmente em zonas rurais e nos bairros periféricos da cidade.
Contudo, permanece por resolver uma carência estrutural grave e inaceitável, que atravessa mandatos e campanhas autárquicas sem nunca ter a atenção exigida: o saneamento básico. Em todas as suas dimensões, emissários, coletores e Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETARs).
O saneamento básico não é um luxo. Não é uma moda. Não é um capricho político. Não é uma bandeira partidária para agitar em tempos de campanha. É, isso sim, uma condição mínima de dignidade humana, um direito fundamental das populações e um critério elementar de desenvolvimento civilizacional.
É uma urgência de saúde pública, uma exigência ambiental, um imperativo de justiça social e territorial.
Ainda hoje, e, continuam a existir bairros urbanos em Bragança, pelo menos três ou quatro, onde os esgotos domésticos são encaminhados para fossas sépticas rudimentares, sem qualquer controlo ou tratamento. A ETAR de Bragança apresenta deficiências graves de funcionamento, permitindo descargas regulares no rio Fervença, que por sua vez alimenta o Sabor, comprometendo não apenas a salubridade dos cursos de água, mas a credibilidade de qualquer discurso sério sobre sustentabilidade e preservação ambiental.
Mas se na cidade a situação é grave, nas aldeias é dramática. Em muitas delas, os esgotos continuam a ser lançados diretamente para linhas de água, muitas das quais ainda abastecem captações para consumo humano, chegam a praias fluviais, atravessam zonas agrícolas, servem para os animais beber e para irrigar campos.
Não há, que se saiba, uma única aldeia com cobertura total da rede de saneamento. E são apenas uma dezena as que dispõem de ETAR funcional. E mais de duas dezenas sem qualquer investimento. Isto compromete a saúde das pessoas, a segurança alimentar, a proteção dos solos e, claro, o direito à dignidade básica das populações do interior.
Chegou o momento de romper com o círculo vicioso das promessas inconsequentes e dos adiamentos estratégicos. É tempo de encarar o saneamento básico como uma prioridade absoluta do próximo mandato. Não como mais uma linha num manifesto eleitoral, mas como um compromisso firme, transparente e calendarizado.
Quem, entre os candidatos às próximas eleições autárquicas, terá a coragem de colocar a saúde e a dignidade das populações acima do marketing político e das obras de fachada?
Quem se comprometerá, de forma séria, com um plano que assegure 100% de cobertura de saneamento básico, na cidade e em todas as aldeias, até ao final do próximo mandato?
A resposta a estas perguntas definirá não apenas a qualidade da gestão autárquica, mas o próprio grau de civilização que estamos dispostos a exigir e a construir.
Porque o saneamento não é apenas uma obra pública. É um sinal inequívoco de respeito por quem aqui vive.