Portugal a afundar-se e os partidos a olhar para o umbigo.
Portugal vive um momento político de estagnação preocupante. As dificuldades estruturais: economia débil, envelhecimento populacional, perda de competitividade e descrédito institucional, parecem encontrar pouca ou nenhuma resposta à altura nos partidos com assento parlamentar. O resultado é um país sem rumo, onde o espaço público se alimenta mais de disputas internas e frases feitas do que de um verdadeiro projeto nacional.
À esquerda do PS, o apego a um dogmatismo que resiste a qualquer adaptação, mantém estas forças políticas (alguma exceção para o LIVRE) presas a discussões do passado, enquanto o futuro se constrói à margem da sua participação, por escolha própria.
O Partido Socialista, apesar de perder poder, parece está ainda sem norte. Reage mais do que propõe, com o secretário-geral a tentar manter o barco à tona, mas rodeado de remadores descoordenados e movimentos cansados. Sabe qual é o porto de destino, mas falta-lhe equipa para percorrer o caminho, sobretudo devido a forças internas mais preocupadas com as próximas eleições internas do que com o país. Os responsáveis ainda não fizeram o diagnóstico e sem este não há terapia, permanecendo presos a uma incerteza crónica quanto ao rumo e á renovação, e à margem dos problemas reais, que são muitos e urgentes. Transparece a preocupação de cada fação em conquistar o partido e, mesmo na composição do concelho estratégico, não se vislumbra a vontade necessária para uma verdadeira mudança. E essa mudança, se vier, terá de responder não apenas às disputas internas, mas sobretudo aos emergentes e reais problemas do país, caso contrário, continuará a ser irrelevante para os portugueses.
O PSD, que deveria oferecer um governo sólido, está refém de lutas intestinais e de um pequeno núcleo de jovens ambiciosos mais focados na distribuição de cargos para manter as “tropas” do que na governação com um projeto mobilizador e reformador para o país
O Iniciativa Liberal oscila entre o “soundbite” fácil, desenhado para redes sociais, e a fidelidade à sua matriz ideológica, dispersando-se numa permanente caça ao voto. Internamente, começa a dar sinais de incerteza de liderança e de fragilidade na sua credibilidade.
O CDS, reduzido a uma expressão quase simbólica, sobrevive apenas pela voz que ainda consegue levantar para dizer “estou aqui” e pela tutela política do PSD.
O CHEGA cresce parado. Beneficia do desgaste e da incapacidade dos restantes, sem necessidade de apresentar qualquer tipo de propostas, o que seria desejável, até pelo número de deputados. Ainda aguardamos o “governo sombra” anunciado. Entretanto, basta-lhe assistir à degradação geral e afirmar-se como principal força da oposição na Assembleia da República capitalizando no conflito partidário e na descrença popular.
A política portuguesa carece de líderes com substância, carisma genuíno e projetos sólidos. Líderes com história, moral e visão. A alternativa não vive à esquerda do PS onde persistem certezas do passado, nem à direita, onde falta um projeto enraizado em construtores verdadeiros. O país já teve homens fortes no centro político, com crenças mobilizadoras e valores sólidos e é essa matriz que hoje se revela mais necessária do que nunca.
Assim, a Nação segue num declínio profundo. O risco de irreversibilidade é real, se a política continuar a ser um mero exercício de sobrevivência partidária em vez de um compromisso com o futuro coletivo.
A pergunta que se impõe é simples: haverá quem se erga para inverter o rumo, ou estaremos condenados a ser governados por quem não sabe para aonde vai?