Batista Jerónimo

Batista Jerónimo

A Social democracia

Muito se tem falado sobre o socialismo, sobretudo na Europa, onde foi durante décadas a força dominante em grande parte dos países. É inegável que os partidos socialistas nestes países tiveram um papel decisivo no desenvolvimento europeu: promoveram e asseguraram a paz, reduziram desigualdades, criaram oportunidades, equilibraram relações entre empregadores e trabalhadores e, reforçaram a dignidade humana.

Contudo, não é possível viver apenas da memória e das conquistas do passado. Na minha modesta opinião, estes partidos adormeceram agarrados às suas vitórias históricas e não perceberam que o mundo entrou numa fase de profunda mutação. As políticas, em vez de se manterem estáticas, precisavam de acompanhar a evolução.

Na Europa, o Partido Socialista quase só é relevante em dois países. Em Espanha, governa através de alianças complexas. Em Portugal, o Partido Socialista, depois de uma maioria fragilizada pelo Ministério Público, pelo comodismo dos governantes, tacticismo político da oposição e do Presidente da República, perdeu votos de forma significativa nas duas últimas eleições legislativas.

Mas o fenómeno é mais amplo: não é apenas o Partido Socialista a perder influência. Em Portugal a social-democracia vai do PSD até à estrema esquerda. À direita do PSD, os democratas cristãos praticamente não têm expressão, os liberais têm crescimento tímido, e quem mais cresce é o CHEGA: não pela visão ideologia, mas sobretudo pela contestação que simboliza.

O verdadeiro problema não é as pessoas deixarem de acreditar na social-democracia e nos seus valores fundadores: liberdade, solidariedade e igualdade. Não deixaram de acreditar nas ideias, mas sim nos políticos, cuja imagem se degrada ano após ano, associada à incompetência e corrupção.

Medidas como o apoio social, subsídio de desemprego ou o RSI continuam a ser aceites e valorizados pela sociedade, mas criticadas pela falta de fiscalização e de critérios na atribuição. E, mesmo com falhas, convém refletir:

• Que sociedade seríamos sem estes estabilizadores automáticos?

• Que segurança teríamos se um pai não tivesse condições mínimas para sustentar um filho?

• Que povo seríamos sem igualdade de acesso à escola e ao emprego?

• Que saúde teríamos sem SNS, mesmo fragilizado dia após dia?

A experiência do Estado Novo e a memória das antigas monarquias deixam claro o avanço qualitativo que o regime democrático e a social-democracia nos proporcionaram. Nega-lo é puro sectarismo. Basta pensarmos nos direitos das mulheres: a evolução foi tão significativa que, por si só, justifica a defesa dos regimes democráticos que nos trouxeram até aqui.

Um dos maiores problemas da política atual é a perceção generalizada de que ela se transformou num “elevador social” para carreiras rápidas e influência, até para os incompetentes e preguiçosos. Este sentimento faz com que muitos cidadãos acreditem que o país está a ser governado por oportunistas, que desperdiçam património coletivo.

Mesmo os salários dos políticos, que parecem baixos para os padrões da função, são vistos como fortunas por quem vive com dificuldades. É uma realidade difícil de ignorar, grande parte dos nossos políticos demonstra baixo nível académico, pouco conhecimento, falta de honorabilidade e de verdadeira competência. Isso afasta os melhores da vida política, tanto pela desilusão de ouvir “são todos iguais”, como pela comparação dos salários do sector privado, bastante mais atrativos para os qualificados.

Perante isto, coloca-se a questão: será necessário refundar o Estado? Seria desejável, mas parece impossível.

O que fazer, então? Eis a pergunta de um “milhão de dólares”

Resta-nos acreditar que, mais cedo ou mais tarde, surgirá alguém, um verdadeiro líder de preferência na social-democracia, capaz de endireitar este país e recuperar a confiança dos cidadãos.

Baptista Jerónimo, 17/08/25



Partilhar:

+ Crónicas