Batista Jerónimo

Batista Jerónimo

“A melhor bolacha do pacote”

A expressão “julga-se a melhor bolacha do pacote” é utilizada quando a pessoa que estamos a evocar é egoísta, narcisista, egocentrista muitas das vezes endeusada não pelo contributo a uma causa mas, pelo que se fez passar aos outros seja num contexto familiar, profissional e principalmente político. Tanto dinheiro público é gasto na comunicação social, e não só, a “cultivar a imagem” para se auto denominar a “melhor bolacha do pacote”. Tempos de modernice que contraria a evolução cultural dos povos.

Na verdade, as bolachas do pacote são todas diferentes, até uma pode ser melhor que a outra, mas num contexto simplista a diferença não sobressai, bem diferente é no desempenho de um cargo electivo dado o poder ser efémero. Quando a “melhor bolacha do pacote” está no poder – é insubstituível, ninguém o desagrada, a sua palavra não é posta em causa, em caso de asneirada são todos os da equipa a justificar o ponto de vista do chefe, a falta de liderança confunde-se com o maior atributo da própria liderança – delegação de responsabilidade (neste caso o culpado a existir é sempre o mais fraco que não percebeu a mensagem), a coerência é justificada com a falta de atenção do subordinado, o objectivo foi redireccionado? Não, esta equipa está distraída. Por poucas palavras: pior que uma má decisão é a indecisão que gera a confusão, coisa que a “melhor bolacha”, o insubstituível, não aceita a falta de liderança.

A “melhor bolacha” após perder o poder, de sair da redonda auto criada e suportada pelos subservientes, é que se apercebe da irrealidade da sua vivência. De que a sua existência sobrenatural foi um logro. Afinal é substituível, outros até fazem mais e melhor, e o mundo não pára. A sua vida passa a ser miserável, não só porque deixou de ter subservientes e também porque leva com o maios castigo possível para este tipo de gente, passar à situação incógnita.

No Distrito de Bragança, no Estado Novo e após 25 de Abril, houve efectivamente algumas “boas bolachas”, daquelas que, sem comunicação social os seus feitos, foram à data e são hoje reconhecidos de homens visionários, que abraçaram causas públicas, combateram as adversidades, ignoraram os descrentes, muitas vezes sozinhos mas, no final foram aplaudidos – mas nunca foram, nem são e nem quiseram ser a “melhor bolacha do pacote”.

É justo que mencione os nomes, para que os mais desatentos lhe prestem homenagem e os seus feitos sejam eternizados e os alguns dos actuais “melhores do pacote” tenham coragem de imortalizar os seus nomes em ruas, praças ou monumentos.

Claro que só podia estar a referir-me a Camilo Mendonça e Dionísio Gonçalves. Sim, estas individualidades nunca foram nem vão ser “as melhores bolachas do pacote” mas, serão sempre recordadas como homens de causas, de serviço pelo bem comum, de valores como a solidariedade, trabalharam para distribuição da magnificência, valorização da riqueza endógena do Distrito, para que os nossos jovens mais desfavorecidos tivessem acesso ao conhecimento, que Bragança Distrito vencesse fronteiras e nunca se ouviu que exigissem contrapartidas materiais ou pessoais.

Para “as melhores bolachas do pacote” com responsabilidade política, recomenda-se que adoptem o exemplo destes homens, tomem um banho de humildade e façam um acto de contrição nos bons costumes da igreja cristã

Bragança, 17/07/2022


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