Manuel Igreja

Manuel Igreja

O Insondável Paradoxo na Habitação

Interesses. Grandes interesses públicos e privados, fazem com que no setor da Habitação, ou melhor, no setor Imobiliário, como é moderno dizer-se, se verifique um insondável e bem visível paradoxo, com enormes consequências, quer para os que dele beneficiam, uns poucos, quer para os dele são vítimas, obviamente, e grande maioria dos cidadãos.

O fenómeno, que só não se pode dizer-se que é do Entroncamento, porque é absolutamente concreto, faz-se sentir em Portugal, mas também grosso modo, nos países mais territorial e civilizacionalmente próximos em ternos de território. Apesar de os seus efeitos de curto e de médio prazo, poderem vir a ser terrivelmente consequentes em termos de estrutura da sociedade, ninguém, governo algum, se mostra predisposto para o remediar.

Mas indo ao paradoxo propriamente dito, antes que me perca nos fundos, e para satisfação da curiosidade que imagino por parte de quem vai neste ponto da leitura. Atentem um pouco por favor, e reparem. Sabemos e sentimos que existe um enormíssimo desequilibro entre a procura e a oferta, sabemos que os preços estão estratosféricos e pouco ou nada acessíveis para a dita classe média, a tal que é inequivocamente o motor de toda as sociedades que se querem evoluídas.

Sabemos que a geração que pode e deve agarrar as pontas da corda para que as coisas do mundo sigam convenientemente em frente, pura e simplesmente, não consegue alcançar o almejado e aconselhável desejo de ter no bolso as chaves de uma casa para habitar, seja de propriedade sua ou seja com arredamento justo e devido.

Devido a isso, está a ser adiado ou impedido, o acesso ao modo de vida que resulta do casamento como garantia de continuidade geracional porque ser-se mãe ou pai, é uma aventura com contornos que levam ao receio agravado com os quase míseros salários que só dão para comprar dez mil reis de mel coado, que agravam a falta de uma cor alegre no futuro que visualmente se antecipa.

No entanto, e daí o paradoxo, há quem esteja a ganhar com toda a facilidade muito dinheiro no meio da confusão e no desequilíbrio no setor. Uns porque têm disponibilidades financeiras e lhes basta fazer uma razoável transferência bancária para a compra de uns riscos no projeto de construção de habitações a construir para na hora certa vender a posição adquiria em algo que ainda existe. Obviamente, legal e fácil, e com algum risco.

Outros, empresários no ramo em que Portugal há décadas se pendurou, porque deixou e alguém optou por destruir quase todos os outros, pois o país iria ser como é, uma esplanada para estrangeiro frequentar e usufruir, ganham muito dinheiro a construir habitações de luxo para os poucos que podem muito, nem que seja a terrenos ambientalmente muito importantes e valiosos.

Obviamente, pelo meio, é de excelente retorno o negócio de comprar e de vender, inequivocamente legítimo, pois a culpa não é de quem pratica ou faz, mas sim de quem permite que as regras sejam como são. Assobia-se para o lado, pois a procissão já não está no adro e vai linda.

Por outro lado, quiçá ainda pior, o próprio Estado é proprietário de milhares de imóveis degradados e a sujar a paisagem urbana, mas não consegue de uma vez por todas, colocá-los em recuperação para se tornarem habitação eficiente e concorrente no mercado, permitindo mais equilíbrio na oferta e na procura. Os nós cegos da burocracia, são quase impossíveis de desatar, quando se não está para isso com vontade a sério.

Diria ainda e para irmos à nossa vida, que quando se decidiu saloiamente que Portugal mais não seria que um destino turístico, se não viu que todos ou quase todos os paraísos de veraneio são países do chamado terceiro mundo, devido às desigualdades sociais e económicas sofridas pelos respetivos cidadãos, mordomos de suas mercês que se digam vir usufruir de bom e do melhor.

Desde os primórdios da humanidade, a habitação, ter-se um canto para arrumar as tralhas e um teto para dar conforto, é o mais profundo, estruturante e importante direito e desejo. Basta ir à História cujos registos do passado, permitem no presente vislumbrar os caminhos rumo ao futuro.

Sigam-ma. Os mal-entendidos e os paradoxos, que mais dia menos dia, dão mais resultados, não se resolvem. Evitam-se. Digo eu.



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