Manuel Igreja

Manuel Igreja

As Armas da Morte

Existem armas para todos os gostos, para as mais variadas finalidades, e com as mais diversas formas. Por exemplo, existe o sorriso que pode ser uma das mais eficazes quando desenhado a preceito e com origem na alma, existe a palavra que é uma das mais eficientes quando bem utilizada, existe o voto, a arma do povo como diz a canção, e existe até o maçar para alguém desistir, pelo que por aqui me fico para tal não lhe suceder neste ponto do escrito.

Nenhuma destas é morte, ainda que seguidos que sejam caminhos insondáveis, algumas delas possam levar a ela, por desgosto ou por falta de esperança, a tal que nunca morre, dizem, mas que se farta de falhar e morrer. Aliás, a própria esperança é uma arma para fazer continuar a viver, mas de vez em quando, em qualquer pessoa e em qualquer lugar.

Esperançado que ainda aí estejam do lado de lá destas linhas, sigo para falar acerca das armas da morte. Das que matam, ferem e destorem. Foram feitas aparecer há muitos milhares de anos, quando em cada ser humano nasceu a noção de que além de si existe um outro, para ser ajudado ou para receber ajuda, mas também para ser arreado na luta pelo essencial para a sobrevivência.

As pedras que estavam mais à mão, foram os primeiros instrumentos de agressão, rombudas ou pontiagudas, foram pioneiras. Depois, foram-no os paus afiados para furar e as estacas para dar bordoadas a valer. Vieram depois o ferro e o aço que devidamente aperfeiçoados com o jeito para o mal que todos temos, possibilitaram o aparecimento de armas cada vez mais letais. Foi então a vez da pólvora para ser usada em outros meandros que não o das armas, mas foi o que sabemos.

Pistolas e pistolões, arcabuzes e canhões, fartaram-se e fartam-se de disparar com estrondo, destruindo e matando nas guerras que são monstros que de sangue se alimentam, num devir da humanidade que nos revela que a cada nova invenção tecnológica que segue o aproveitar da ciência e do conhecimento para se matar e para se destruir mais em menos tempo.

Despoletavam-se as cavilhas, colavam-se milhares de homens, de máquinas e de a animais, em frente uns dos outros, e fazia-se jorrar o sangue impelido pela sede e pela loucura próprias e sentida quando se ultrapassam as ténues linhas que separam o bestial da besta.

Na medida em que a ciência ia e vai permitindo que cada Homem se aproxime da condição de um pequeno deus sem que tenha a devida maturidade, as armas evoluíram e assumiram características e potencialidades assombrosas e terríveis dentro da sua magnificência e beleza estética, na proporção inversa do seu poder de destruição enquanto semente de miséria e de sofrimento.

Neste nosso tempo encantador e inquietador, para fazer a guerra, a mais destruidora de todas a cada qual que fazem acontecer, praticamente não são necessárias rações de combate, cantis para a água, ou botas cardadas. Bastam uns botões a piscar simbolizando várias formas de morte, e mais a ganância e a insensibilidade de quem tem poder de mando, e o inferno acontece. Na guerra já não há cavalheiros, como disse um senhor muito importante há umas décadas desta era das contradições humanas.

Não aprofundando mais, se é que me entendem, para irmos à nossa vida, coloco-lhes o exemplo do muito recentemente acontecido no médio oriente, zona onde as pombas da paz não voam impedidas que são pelos falcões. Foram lançadas bombas que perfuram até dezenas de quilómetros. Cem, ao que afirmam. Quase até ao inferno, digo eu.

Um pouco mais ao fundo, e mesmo o mafarrico ao vê-las se admiraria. Nem ele, deves ser capaz de tal obra. Nem de outras.



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