Luis Ferreira

Luis Ferreira

O jantar dos loucos

O que se serve ao jantar quando os loucos se sentam à mesma mesa? É difícil escolher e decidir uma ementa que agrade a todos. Mais difícil é engolir o prato que se serve. Ainda mais custoso é se os loucos são mesmo loucos e não estão dispostos a comer seja o que for.

A segunda ronda de negociações entre emissários russos e ucranianos que teve lugar na Turquia, sentou à mesma mesa, pessoas que não se suportam e que á partida, deveriam tentar engolir o prato demasiado temperado que colocaram em cima da mesa. Não passaram das entradas. Não engoliram mais nada e deixaram na mesa a sobremesa, pouco apetitosa, que certamente se estragará até ao próximo jantar.

Talvez por ser demasiado agreste para engolir as sobras deixadas na mesa pelos loucos russos, os ucranianos resolveram mostrar que não deveriam ser ignorados e serviram uma sobremesa surpresa aos russos, deixando-os de boca aberta. Engoliram em seco.

A verdade é que ninguém esperava que tal sucedesse. Foi uma vitória extraordinária e bem estruturada. Dias antes, os loucos russos que não se serviram dos aperitivos que lhes foram servidos, devem ter pensado que mal fizeram não o terem feito.

Longe, do outro lado do Atlântico, o senhor americano também ficou surpreendido e sem palavras. A verdade é que foi ultrapassado e bem. Quem quer fazer, faz, não leva nem trás. Mas este louco nunca se sentou à mesa com os outros. Ainda anda em busca de apetite.

A Putin custou-lhe engolir o prato venenoso que a Ucrânia lhe serviu e por isso resolveu retaliar com o que tinha mais à mão. Sem estratégias estudadas, mandou enviar mísseis e drones sobre o território ucraniano. Uma dinâmica de guerra em que Putin aposta, bem distante do cessar fogo ou da paz que tanto apregoa, numa ladainha de entretenimento infantil, que faz lembra os jogos de PlayStation. Mas a realidade é diferente e morrem muitas pessoas. Muitas crianças.

Incapazes de qualquer sentimento, tanto Putin como Trump, continuam a jogar com a vida dos outros, esperando que os contendores se cansem e cheguem a um ponto em que tenham de negociar a paz. Não será fácil.

A Europa não pode deixar que a Ucrânia perca a guerra. A América é da mesma opinião, mas Trump está demasiado longe e como não lhe toca na pele diretamente, também não lhe dói. Está a nascer uma economia de guerra na Europa o que não agrada nada à Rússia. Esta está a ficar com os seus efetivos militares, tanto exército como armamento, muito desgastados. Quase sem aviação de guerra, sem tanques e com soldados inexperientes, vê-se cada vez mais sem tempo e sem possibilidades de ganhar a guerra. Assim, vai tentando adiar o cessar fogo e a paz, com a apresentação de Memorandos inaceitáveis e com reuniões de loucos à volta de uma mesa onde nada é servido que interesse à Ucrânia ou lhe abra o apetite. Mas a Rússia sabe que nada disso seria aceite pela Ucrânia. É tudo uma perda de tempo que só interessa a Putin. Ao mesmo tempo engana os ucranianos e Trump que ainda acredita que consegue obrigar Putin a engolir um dos pratos que são servidos à mesa na Turquia. Eles nem devem gostar dos pratos turcos!

Mas a curiosidade é que o Presidente americano está agora a ser atacado pelo seu grande amigo sul-africano Elon Musk. Fora da administração Trump, Musk ficou muito aborrecido e resolveu atirar-se contra o Presidente, dizendo que foi à sua custa que foi eleito, pondo a descoberto mais umas quantas realidades que, a serem verdade, podem pôr Trump em maus lençóis. E por falar em lençóis, uma das setas apontadas por Musk, revela algo relacionado com abusos sexuais e pedofilia. Será? Parece mais uma zanga de garotos num jardim infantil do que outra coisa. Bem, também Musk é acusado do consumo de drogas durante a campanha a par de outras asneiras graves. Como diz o povo, zangam-se as comadres, descobrem-se as verdades. A realidade é que eles se zangaram e não se falam. Trump ameaça retirar os subsídios às empresas de Musk e este diz que o projeto do presidente é uma aberração.

A Rússia, sempre atenta a estas desavenças e, mesmo em jeito de brincadeira, tenta retirar dividendos e, nesse sentido, não se importa de dar asilo a Musk em troca de ações da Starlink. Os loucos nem sempre se entendem, mas… nunca se sabe.

Isto está a servir para desviar as atenções americanas da guerra da Ucrânia, o que até convém a Trump e a Putin. Não há notícias, não há interesse, não há decisões, nem mais jantares de loucos, pelo menos para já. Mas como esta rixa de garotos pouco interessa à Europa, esta continua a viver momentos de incerteza, já que Trump não toma decisões, sejam a favor ou contra. Aliás, estamos habituados a que ele diga uma coisa hoje e amanhã o seu contrário.

Na União Europeia continuam a sentar-se à mesa, não os loucos, mas os interessados na obtenção de um plano de paz para a Ucrânia. É o único prato que se serve e que quase todos apreciam. Continua a faltar servir a sobremesa. Esta, só será boa se for uma cereja no cimo de um bolo que se chame paz. Quem o irá cozinhar?



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