Luis Ferreira

Luis Ferreira

Travar a fundo...

Quando envoltos por situações excitantes resolvemos acelerar a fundo, mais tarde ou mais cedo vemo-nos obrigados a travar também a fundo antes que aconteça um acidente grave.
Portugal assistiu na semana passada, a uma corrida tremenda entre Costa e Seguro que acabou com a vitória de António Costa. O PS e não só, decidiu arredar Seguro da liderança do partido e colocar essa responsabilidade nas mãos de Costa. Este, empolgado, agradeceu e prometeu cumprir de imediato, algumas das suas propostas. Era necessário que ficasse claro que o partido socialista tinha um novo líder e que tudo iria mudar. O governo que se acautelasse!
Mesmo antes de ser ratificado o seu mandato e antes de se apresentar em Congresso, António Costa começou a funcionar como secretário-geral e como líder de facto, arrastando algumas críticas atrás de si que o levaram a questionar-se em alguns dos aspectos inerentes a essa tomada de posição. Desde logo a questão de continuar a ser ou não o presidente do município de Lisboa. O que fazer? Deixar e dedicar-se só ao partido ou continuar a exercer o mandato para o qual foi eleito no município? Continuar na Câmara de Lisboa até perto das legislativas, ou sair antes das legislativas para preparar atempadamente a corrida para primeiro-ministro? Primeiro-Ministro! Pois, esta era outra questão que se lhe punha, ou talvez não. O Congresso tem que se pronunciar! Mas afinal o Congresso ainda não aconteceu!
Contudo, empolgado pela vitória e com a ansiedade de chegar depressa às legislativas, começou a aparecer como sendo o grande senhor de toda esta problemática e, mesmo antes de lhe darem esse poder, representou o partido na reunião com o Presidente da República, como se fosse de facto et juris o secretário-geral do partido. Do que se passou, nada disse.
No seguimento desta política, foi necessário eleger o líder parlamentar, já que o anterior secretário-geral, António Seguro, se demitiu também de líder no parlamento. Aguardou-se pela tal mudança que Costa apregoou. E o que se viu? Mais do mesmo. Do mesmo, do tempo de Sócrates. Ferro Rodrigues assume a liderança e na primeira intervenção logo se disse que o Ferro estava enferrujado! Costa não ficou contente.
Mas no seguimento desta mudança apressada, Ferro Rodrigues vai à TSF e na entrevista vai travar ainda mais toda a euforia que Costa adiantava ao dizer que era difícil chegar à maioria, já que o PS se encontrava “pulverizado” e isso não era bom nem para o partido nem para o mesmo se apresentar às eleições legislativas, apontando mesmo a hipótese de coligação com outras forças políticas para chegar ao governo. Muitos socialistas arrepiaram-se!
Mas se tudo isto refreou o ânimo de António Costa, o facto de a Câmara aprovar um subsídio de 40 mil euros para a Fundação Mário Soares, criou outro dilema e um mal-estar não só nos vereadores do município como também nos socialistas. Porquê? Pelo facto de a lei das fundações prever um corte de 30% nos subsídios a atribuir e não 20% como foi o caso. Isto limitaria em muito o subsídio a atribuir à Fundação, mas não nos podemos esquecer que Mário Soares apoiou Costa na campanha para a liderança do PS!
Ora perante tanta interrogação e tanto problema para resolver, António Costa teve de travar o seu entusiasmo um pouco exagerado e viu-se na obrigação de começar a dar algumas explicações. Claro, era o mínimo que podia fazer! Então veio a terreiro para dizer que afinal iria continuar à janela do município de Lisboa a satisfazer a vontade dos lisboetas que o elegeram, mas não disse até quando o vai fazer. Essa questão ainda não resolveu. Pelo menos não deu satisfações sobre ela. Mas tem de dar.
Para se candidatar nas eleições legislativas terá de prescindir da Câmara de Lisboa. Resta saber quando o vai fazer e quem vai assumir esse encargo.
As eleições legislativas ainda estão a um ano de distância, tempo mais do que suficiente para tudo mudar no espectro político português. Nas últimas sondagens, o PS parece ter subido alguma coisa, pouca, mas o PSD desceu na mesma proporção o que deu um CDS mais seguro, reforçando a sua posição. Mas isto tudo pode alterar-se ao longo do próximo ano. O governo tem na sua mão, as armas eficazes para que isso aconteça.
A Costa resta travar a fundo o seu entusiasmo antes que se estampe e não chegue à meta! E já o está a fazer!


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