Luis Ferreira

Luis Ferreira

Salas virtuais

Vivemos todos uma nova era, não que ela não tivesse sido anunciada já há alguns anos, mas que a realidade a fez realmente ver com os olhos da modernidade.

Ao longo de toda a História o homem encarregou-se de fazer avançar a ciência ao ritmo das necessidades e, por isso mesmo, apareceram grandes invenções que fizeram avançar o mundo em quase todas as vertentes, das económicas às sociais. Contudo, a Natureza, sempre à espreita e por vezes adversa aos interesses do homem, prega-nos partidas incomensuráveis que nos obriga a inventar à pressa novas formas de combater a adversidade. Diz o povo e com razão que devagar se vai ao longe, ora o seu contrário pode ser catastrófico.

Na realidade o aparecimento do Coronavírus, fosse derivado ao avanço da ciência e ao seu descuido ou a razões desconhecidas como se quer fazer crer, foi uma machadada enorme para a sociedade mundial que se reerguia de uma crise económica e social brutal. O desconhecido inimigo viral levou a ciência a correr muito à pressa para descobrir o meio de o combater, antes que fosse demasiado tarde, perante as inúmeras mortes que se estavam a verificar em todo o mundo. Em menos de um ano, foram descobertas quatro ou cinco vacinas capazes de iniciar um combate feroz ao vírus assassino. Apesar disso, os milhares de mortos não foram evitados, nem se evitam ainda em todos os países. Vemos o que se passa no Brasil, no México, na Alemanha, na Itália, na Espanha e em Portugal, por exemplo.

Entretanto, as consequências foram terríveis e as medidas impostas foram extremamente necessárias, mesmo perante a contestação idiota dos apregoadores da liberdade e da democracia que não se lembram que a sua liberdade acaba onde começa a liberdade dos outros. Isto sim é democracia. O confinamento foi a medida mais imposta como indispensável ao avanço do vírus e ao travar da sua expansão. Infelizmente, muitos acharam que era um ultraje. Para o vírus, era a autoestrada para o seu progresso.

As casas transformaram-se em salas virtuais, onde as pessoas passaram a trabalhar e a conviver, sem poder fazer a vida que até então era normal. A prisão que ninguém queria!

As escolas esvaziaram-se à pressa logo que o vírus se começou a espalhar, antes que as crianças e os professores fossem atingidos e os novos veiculadores do crescimento da doença. Os alunos tomaram contacto com uma nova realidade e um novo método de aprendizagem, bem diferente do habitual. O regresso à escola foi feito com alguma emoção, mas incompleto. Faltavam os cumprimentos, os abraços, a energia da empatia comum num espaço que todos queriam e querem, de alegria e sã convivência para além da aprendizagem e preparação para o futuro.

Quando todos já pensavam que entrávamos numa época nova deste combate desigual, eis que uma nova vaga assola a comunidade mundial e também atinge Portugal, o tal do milagre português que, subitamente vira o pior exemplo da contenção da pandemia, tal o número de mortos e de contaminados diariamente. E apesar da relutância em admitir novas soluções drásticas, o governo vê-se obrigado a decretar novo estado de emergência e de confinamento. O não querer admitir que o fecho das escolas era uma medida necessária depois da abertura extemporânea do Natal e do Fim do Ano, vê-se coagido a fazê-lo antes que seja demasiado tarde. A teimosia do senhor ministro da Educação e do primeiro-ministro, fez com que tardasse a indispensável tomada de decisão. De novo, as escolas fecharam abruptamente e à pressa, antes que os alunos e as escolas estivessem devidamente apetrechadas para encarar o novo confinamento. De novo em salas virtuais, os alunos vêm-se confrontados com aulas à distância onde impera o distanciamento social forçado, a incapacidade de interagir com os professores em tempo certo, a dificuldade na resolução de dúvidas e no avanço da matéria curricular proposta. Mas também os pais enfrentam o confinamento e o trabalho via internet, juntando-se assim aos filhos na mesma sala virtual a que o confinamento obriga. Seria escusado? Talvez.

Que sirva de lição para a nova vaga que já se anuncia. Como costuma dizer a minha mãe, isto só acaba quando o mundo acabar! Talvez tenha razão.


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