Manuel Igreja

Manuel Igreja

O Tempo

O tempo é sempre tema de conversa. Mais não seja, permite meter tema e desfiar palavreado desbloqueador de diálogo ou para preencher o tempo que passa. Por exemplo, neste momento, está a servir para fazer os dedos voarem para as teclas do computador, pois eu sendo do tempo em que os não havia, agora quase não os dispenso.

Será o tempo a caminhar para o futuro. Não sei. Mas há quem diga que o tempo não existe, assim como também há quem afirme que ele não é sempre igual na maneira como decorre. Por mim, estou quase em crer, que ele, o tempo, é mais uma perceção do que uma realidade concreta.
No entanto, sei que ele nos marca e nos molda, nos ensina e nos encaminha até ao ponto do último suspiro, coisa que se virmos bem, ninguém pode jurar que é o derradeiro, uma vez que também se não sabe, se lá na outra dimensão onde mora a eternidade também se respira. Se calhar não e por isso é que não entramos nela com o corpo que a vida nos fez.

Ao longo do nosso viver, vamos aprendemos algumas coisas acerca do tempo, tido no sentido dos dias que passam. Sabemos que o que passa depressa, não é o tempo que passa, mas o tempo que passou, sabemos que em despedida de pessoa querida, a última hora antes da partida, é fogo ardente que dura o consumir de um fósforo, sabemos que um minuto num elevador com alguém desconhecido é uma eternidade, e sabemos que algumas coisas se resolvem com o tempo, e outras nem com o tempo se resolvem.

São mistérios do tempo que é um grande mestre. É ele que qual escultor, nos deixa marcas no corpo e na alma, é dentro dele que nos afligimos e nos alegramos, é com o seu passar que aprendemos a valorizar e a menorizar, é fazendo cada coisa no seu tempo e a tempo, que vamos vivendo com equilíbrio e com brio.

Qualquer amor ou qualquer amizade, somente se revela como essência, com o passar por entre os filtros do tempo. Qualquer sentimento só lhe resiste sobrevivendo, se passar a prova maior que o tempo permite. Fora isso é mera promessa e simples carta de intenções. Temos que dar tempo para o amadurecer das coisas prometidas e sentidas. Se não, ficam as palavras que são sempre levadas mesmo quando o tempo está bom e sem vento.

Não sei se já reparam, mas desde o tempo em desenhei a primeira letra, um modo de dizer, e o aqui e agora, já vamos para lá de meio do texto. São coisas de engenho e arte que permitem levar até ao fim qualquer desafio que se aprumam com o passar do tempo, encurtando distâncias.

O tempo é uma rara lição dada por um professor quase inaudível e invisível que se não cansa de ensinar. Mesmo que os alunos lhe façam orelhas moucas e não se lhes deixem colocar os ensinamentos como tantas vezes infelizmente fazem.

Não reparam que ele nos revela a vã glória do poder e que cada coisa o deve ser a seu tempo e com a medida certa no decurso da vida. Há que diga, que o tempo é nosso, mas nós é que somos dele. Por isso ele existe para com ele fazermos e sermos feitos.

Por exemplo, enquanto se me desenrolou este escrito, eu tive o meu tempo e agora estou a usar o seu que isto lê. Peço desculpa e bem que lho devolveria se pudesse.

Olhe, para nos irmos: agasalha-se que o tempo não está para brincadeiras. Não este, mas o outro que vem do céu para onde iremos deixando a vida que em todo o nosso tempo levámos. Digo eu.


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