Passar para o conteúdo principal
Diário de Trás-os-Montes
Montes de Notícias
  • Início
  • Bragança
    • Alfândega da Fé
    • Bragança
    • Carrazeda de Ansiães
    • Freixo de Espada à Cinta
    • Macedo de Cavaleiros
    • Miranda do Douro
    • Mirandela
    • Mogadouro
    • Torre de Moncorvo
    • Vila Flor
    • Vimioso
    • Vinhais
  • Vila Real
    • Alijó
    • Boticas
    • Chaves
    • Mesão Frio
    • Mondim de Basto
    • Montalegre
    • Murça
    • Ribeira de Pena
    • Sabrosa
    • St.ª Marta Penaguião
    • Peso da Régua
    • Valpaços
    • Vila Pouca de Aguiar
    • Vila Real
  • Reportagens
  • Entrevistas
  • Fotogalerias
  • Vídeos
  • Opinião
  1. Início

O boneco de madeira ( Conto de Natal)

Retrato de igreja
Manuel Igreja

O boneco de madeira ( Conto de Natal)

Era uma vez um carpinteiro. Não foi há muitos anos, foi agora mesmo. Como o próprio nome indica trabalhava com madeira. Mas ele era um pouco diferente, pois também trabalhava a madeira, torneando-a e moldando-a ao jeito do seu poder de criar. Fazia arte.

Nas horas de pouco que fazer, esculpia-a. Dizia que se limitava a retirar o que num determinado pedaço estava a mais e fazia nascer belas e expressivas imagens. Tanto podia ser uma ave a voar, uma pessoa com ar de sonhar, um rio a correr ou o sol a nascer.

Deleitava-se e deleitava os outros. Chegou a ganhar fama nos arredores, mas nunca se lhe deu para vaidades ou para tentar ir mais além. Ficava-se pelas três ruas da sua vida que só ultrapassava quando imaginava. Então, o seu mundo não tinha fim.

Num certo dia no meio do monte de bocados de pau de todos os tamanhos, reparou num que quedo, inerte, como é próprio do que não tem vida, lhe pareceu estar mesmo à espera que reparasse nele. Sentiu assim como que um chamamento.

Quando deu por si, estava a torneá-lo, a moldá-lo. Cortou um pouco aqui, mais um migalho ali, raspou, soprou e limpou. Acabou a obra. Nem saberia dizer quantas horas ali esteve a fazer nascer. Caiu nele e viu que tinha nas mãos um bonito boneco de madeira.
Ficou-se esquecido a olhá-lo.

Não conseguia apartar-se dele. Um forte magnetismo atrai-a a sua atenção. Sentiu mesmo que o boneco lhe falava pelo olhar e pela expressão do rosto. Não fora poder ser pecado, e quase juraria que tinha alma.

Levou-o para casa. Fez dele a sua prenda de Natal. As semanas, os meses, foram passando. Ao se erguer da cama olhava para o boneco fazendo questão de ser para ele o primeiro seu olhar, e pelo se deitar, deitava-lhe um olhar de despedia antes de entrar na etérea vida dos sonhos. Morfeu descia e ele dormia.

A vida do carpinteiro foi acontecendo ora melhor, ora pior, ora mais alegre, ora com alguma angústia como é comum em todas as formas de vida. Mantendo o seu hábito continuou a laborar na e a madeira, moldou muitas outras coisas, mas nenhuma mais lhe mereceu tamanho afeto como o boneco a que se agarrou.

Sentia nele a sua própria identidade. Seria dos seus olhos, mas a cara do lanho moldado e feito imagem de menino, exprimia os sentimentos, os estados de ânimo do seu criador. As rosas da sua alma com os seus espinhos e as suas pétalas, eram também dele. Podem não crer, mas era verdade, pois como se sabe, para o ser basta uma pessoa acreditar. Ele acreditou, por isso aconteceu.

Por mor de um mal que aperrou o mundo, o artista de que vos falo teve muitos momentos de temor. Mesmo sem querer, de dentro do seu ser, nascia um inquietante temor. Com ao dele, todas as almas andavam desinquietadas, os olhares reluziam menos, os rostos andavam mais fechados e os sorrisos muito mais apagados. Nem sequer havia abraços.

Quando fez o presépio naquele ano do descontentamento, decidiu colocar nele o seu predileto boneco bem perto do Menino recém-nascido e nas palhinhas deitado. Bem sabia que ele não era uma das figuras representativas, mas deu-se a essa liberdade.

Depois da Ceia e depois de distribuídos os presentes entre os seus a quem tudo de bom queria, foi-se até junto do presépio para desejar um bom Natal ao seu boneco e através dele a todas as pessoas do mundo, pois sabia-o fruto daquela magia que faz tudo acontecer.

Estando-lhe ao pé, sentiu um estremecer. Viu o boneco sorrir com um sorriso de luz daqueles que nascem quando os olhos fazem de janelas da alma.

Naquele falar do boneco de madeira, percebeu uma semente de esperança e uma mensagem de coragem. Acreditou que tudo ia ficar bem. Foi a sua prenda de Natal.

Fique também com ela. Ele não se importa.

Partilhar
Facebook Twitter

+ Crónicas


As vessadas
Publicada em: 20/02/2021 - 14:07
As rogas
Publicada em: 15/02/2021 - 09:49
Andar aos cestos
Publicada em: 06/02/2021 - 15:27
A nova idade das trevas
Publicada em: 31/01/2021 - 09:51
Os Saberes
Publicada em: 23/01/2021 - 12:57
O boneco de neve
Publicada em: 16/01/2021 - 14:24
Os bárbaros andam à solta
Publicada em: 08/01/2021 - 18:41
O Abraço ( conto de Ano Novo)
Publicada em: 31/12/2020 - 17:16
O boneco de madeira ( Conto de Natal)
Publicada em: 19/12/2020 - 15:15
O Caso SEF
Publicada em: 11/12/2020 - 19:23
  • 1
  • 2
  • 3
  • 4
  • 5
  • 6
  • 7
  • 8
  • 9
  • …
  • seguinte ›
  • última »

Opinião

Retrato de chrys
Chrys Chrystello
Timor 45 anos depois
25/02/2021
Retrato de Preto
Ana Preto
Das palavras que nos desqualificam
23/02/2021
Retrato de Guerra
Luis Guerra
Olhares e paisagens
23/02/2021
Retrato de luis
Luis Ferreira
Salas virtuais
21/02/2021

+ Vistas (últimos 15 dias)

ASAE encerra Continente de Vila Real
// Vila Real
Salvou uma raposa e ganhou companhia diária ao jantar em Oleiros
// Bragança
Alegada vacinação ilegal contra a Covid-19 em Valpaços
// Valpaços
Minas de ferro de Moncorvo exportam primeiras 50 mil toneladas para a China
// Torre de Moncorvo
Homem encontrado morto na rua em Bragança
// Bragança

Publicidade Google

CRONISTAS

Retrato de leon
José Leon Machado
Retrato de marta
Marta Liliana
Retrato de Paulo
Paulo Fidalgo
Retrato de Bandarra
Carlos Ferreira
Retrato de ana
Ana Soares
Retrato de chrys
Chrys Chrystello
Retrato de joaomartins
João Gabriel Martins
Retrato de Angela
Ângela Bruce
Retrato de barroso
Barroso da Fonte
Retrato de henrique
Henrique Ferreira
Retrato de batista
Vítor Batista
Retrato de igreja
Manuel Igreja
Para sugestões, informações ou recomendações: [email protected]

Formulário de pesquisa

Diário de Trás-os-Montes

© Diario de Trás-os-Montes (Desde 1999)

Proibida qualquer cópia não previamente autorizada.



  • Ficha Técnica
  • Estatuto Editorial
  • Contactos
  • Login


Bragança

  • Alfândega da Fé
  • Bragança
  • Carrazeda de Ansiães
  • Freixo de Espada à Cinta
  • Macedo de Cavaleiros
  • Miranda do Douro
  • Mirandela
  • Mogadouro
  • Torre de Moncorvo
  • Vila Flor
  • Vimioso
  • Vinhais

Vila Real

  • Alijó
  • Boticas
  • Chaves
  • Mesão Frio
  • Mondim de Basto
  • Montalegre
  • Murça
  • Peso da Régua
  • Ribeira de Pena
  • Sabrosa
  • St.ª Marta Penaguião
  • Valpaços
  • Vila Pouca de Aguiar
  • Vila Real

Secções

  • Douro
  • Trás-os-Montes
  • Livros
  • Mirandês
  • Emigração
  • Diversos
© Diário de Trás-os-Montes