Manuel Igreja

Manuel Igreja

A Inteligência Artificial

Deus Nosso Senhor nos livre e guarde. Era assim que os antigos de não ainda há muito tempo, diziam quando viviam ou perspetivavam coisas inquietantes e sem o seu devido e eficaz controle.

Ainda que eu não seja pessoa de posições contrárias aos avanços da civilização, ou pessoa que tenta encravar os ponteiros dos relógios para que não surjam novas épocas e novos modos de vida, perante o que se adivinha no que respeita às novas tecnologias, não resisto a socorrer-me do pedido com que iniciei o escrito.

Temo. Começo a pensar que utilizando e desenvolvendo e o que foi aprendendo, a humanidade começou a ter poderes de pequenos deuses, no ponto em que se encontra e quando ainda não aprendemos a ser Homens, sendo que aqui o H significa toda agente, antes que os cruzados dos comportamentos me acusem de falta de sentido de integração de género.

Foi e está a ser tudo muito rápido. Num modo de dizer quando era pequenino acabado de nascer, os computadores pouco mais eram que uma inexistência, os algoritmos ou o diabo por eles, começavam a das os primeiros passos, mas agora poucas décadas depois, já são eles que influenciem tudo e todos e nada tarda, serão eles a mandar em tudo sem que seja a seu bel-prazer, já que pelos menos por ora, isso de sentir emoções é nosso exclusivo.

Começa a haver quem vaticine que até as emoções, o se amar e o se odiar, o se gostar, poderá ser também qualquer dia coisa de máquinas, mas não acredito. Caso seja, qualquer um se há-de benzer com a mão esquerda para espantar o demónio que só serve para nos atentar. A ver vamos, como diz o cego.

Convém que se diga que noutras épocas perante as novidades, se verificaram iguais temores, mas tenho para mim que agora é diferente. O que poderá vir a acontecer de disruptivo e de enorme perigo, é o facto de a páginas tantas a criatura poder ou querer destruir o criador, unicamente porque ganhou autonomia e o pode ultrapassar sem virtudes, mas com muitos defeitos.

Obviamente que qualquer máquina somente contém aquilo que o utilizador lhe introduz, no fundo tem as competências que lhe são dadas, mas começa a não ser assim. As máquinas começam elas mesmas a autodesenvolverem-se. Ainda não exigem, mas já se modificam e já nos influenciam a bom influenciar. Ainda não mandam, mas já desmandam. Ensinam-nos para o bem, mas também e crescentemente nos ensinam para o mal.

Graças a elas, a própria realidade deixou de ser o que era. Está difusa e sem contornos definidos. A verdade e a mentira confundem-se e surgem em paralelo separadas por linhas quase invisíveis. O que não aconteceu, pode ser dado como acontecido, e que aconteceu, pode ser dado como não acontecido. O que surge como tendo sido dito, pode jamais em tempo algum ter sido falado.

A decência, levaram-na as aves de rapina, para a profundeza dos infernos, onde habitam os que a detestam e a quem ela não convém. Devemos inquietar-nos ou pelo menos estarmos atentos, pois são eles quem detém o poder de utilizar e manipular as ferramentas no admirável mundo novo.

Diz-nos o saber e o olhar sobre os acontecimentos disruptores que sempre o mundo melhorou através deles. Claro que agora, com a Inteligência Artificial, a IA para os mais sabidos, igualmente possibilita inúmeras e importantes coisas excelentes. Está à vista e não vale a pena ocupar tempo e espaço na folha a mencionar o que é e o que está ao nosso dispor.

Um dos seus resultados a prazo, por exemplo, será a dispensa de trabalho humano nas atividades de todos os dias. Haverá mais tempo para o ócio. No entanto, haverá o usufruto de mais lazer? Estou em acreditar que sim. Basta que haja bom-senso de se perceber que o resultado obtido porque se cria mais riqueza em menos tempo, possibilita o devido equilíbrio financeiro e o devido suporte económico.

A grande questão, será pois então, utilizar a IA com decência e com inteligência humana, para que não vire a picada do escorpião que nos mata porque não soubemos evoluir como deve ser.



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