Manuel Igreja

Manuel Igreja

A Europa

A Europa que hoje conhecemos porque nela vivemos, é uma milenar construção feita com muito se passar o fio das espadas pelos corpos inimigos ou assim tidos, com muita cavalaria desabrida e muito rebentar dos morteiros com bolas de fogo feitas destruição.
Muitas mortes e muito sofrimento, muito ódio, mas também muita solidariedade, vincam a identidade deste continente onde se estabeleceu a mais avançada civilização apesar de todos os seus defeitos, que os tem e não são poucos.
Após a queda do império romando, na senda do que era e é uso, os nossos antepassados, dedicaram-se a fortalecer e a implementar poderes, a conquistar territórios, a redesenhar beiras e fronteiras, a saquear e roubar, a odiar e a mar como é timbre dos seres humanos.
Ia o século XIX a meio, quando mais coisa menos coisa, a Europa como hoje a conhecemos ficou definida mais parecendo que a partir daí, não mais a guerra seria necessária. Cada nação saberia dos seus limites territoriais e das suas apetências culturais.
No entanto, foi sol de pouca dura. Logo no quarto ano da segunda década do século XX com toda a insanidade a humanidade de perto de nós fez alegremente rebentar uma guerra na Europa tida como coisa para se iniciar no mês de agosto e se findar antes do Natal. Foi o que se viu. Num rápido virou guerra mundial e durou de 1914 a 1918, com uma mortandade nunca antes vista.
De novo era o nunca mais. Novo engano. Quando o ano de 1939 estava quase no seu fim, rebentou a Segunda Guerra Mundial que durou até 1945. Foi o tempo de todo o horror com toda a bestialidade de que os humanos são capazes andar à solta cavalgando desabridamente mil demónios.
Após isso a Europa com toda a cumplicidade patrocinou e participou noutras guerras quer dentro quer fora dos seus limites, obviamente sempre com o argumento que é para nossa segurança e para o nosso bem-estar. Tretas e ditos, sempre em uso nos dias malditos que são os de qualquer guerra.
Como disse antes a Europa é uma construção. Nem sempre teve ou tem elevação e dignidade, mas é o que somos e devemos sentir orgulho em ela e dela sermos quer individual quer coletivamente. Os que querem reescrever a História que arrecadem os rascunhos no fundo das suas cabeças mentais. Ou então que usem as gavetas das cómodas.
Os europeus deram novos mundos ao mundo, fizeram outros povos evoluir e alinhar-se com o tempo cronológico e civilizacional, ergueram o conceito de justiça até ao ponto possível, semearam nos campos da cultura a decência e a democracia, cultivaram a arte, usufruem de modos de vida que pelo menos até agora valiam a pena.
Cometeram erros e injustiças, não conseguiram erradicar complemente a desigualdade que bem antes pelo contrário aumenta, não conseguiram ainda substituir os Estadistas que tiveram por outros de igual porte para nossa má sorte, mas aguentam-se.
Bem sabemos que não faltam europeus com compreensão lenta e estupidez acelerada, mas é a fruta da época. Tenho fé que a lucidez não fará a Europa embarcar na nau que visa atingir indesejável rumo. Mesmo com ventos contrários e marés revoltas irá dar a bom porto.


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