Paulo Fidalgo

Paulo Fidalgo

Opiniões que não valem dinheiro são um prejuízo a evitar

Tenho de confessar que estou fartíssimo – até à ponta dos curtos cabelos que ainda me restam – de escutar diariamente dezenas de rematadas palermices, transmitidas por criaturas manifestamente excitadas por fruírem essa forma mais pura de liberdade: falar de tudo sem responsabilidade por nada.

Como defensor intransigente da livre expressão suporto estoicamente todo o tipo de parvoíces orais e escritas, quando delas me não consigo furtar ou quando sobre tais opiniões concluo que devo evitar o preço de uma resposta.

Mas, no correr deste sofrimento diário, tenho refletido sobre o magno mistério da toleima nacional nestes termos: o que leva tanta gente a sentir-se no direito ou mesmo na obrigação de emitir a mais sonante sentença, sempre que algum incauto lhe dirige a palavra ou o correr de uma simples conversa lhe oferece a oportunidade de ser interlocutor?

Esta obsessão opinante de uma multidão de infelizes sem nada de valor a acrescentar às conversas é razão de forte prejuízo para as vítimas. Porque das duas uma: ou as opiniões valem alguma coisa e deviam ser pagas por quem as recebe, ou as opiniões não valem nada e deviam ser pagar por quem as emite.

Creio, portanto, que a questão é muito menos da ordem da filosofia ou da psicologia e muito mais da ordem da economia.  

Quando alguém abre a boca para transmitir uma opinião pode perfeitamente perguntar a si próprio se o que vai dizer é suficientemente interessante para que o destinatário o gratifique com, por exemplo, 5€.

Naturalmente, se alguém pagar 5€ por uma opinião será porque com a dita opinião gerar um lucro pelo menos igual a 5 euros, ou provavelmente fez um negócio estúpido.

Como já confessei, tenho a infelicidade de frequentemente ouvir opiniões com as quais ganho zero euros, o que significa demasiadas horas a fazer negócios estúpidos com gente que também ganha zero com o palavreado que emite.

Porque perder dinheiro não é atividade que sustente ninguém, quero pedir a todos os doutores de opiniões e sentenças que se estabeleçam longe de mim, porque é evidente que dar opiniões sem qualquer valor é um prejuízo para os dois lados.   

Além do mais, ficar em silêncio não custa dinheiro e não causa qualquer prejuízo.


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