Manuel Igreja

Manuel Igreja

Uma birra e o muro da vergonha

No outro lado do mar Atlântico, nos garbosos Estados Unidos da América, o mais poderoso país da nossa Era, anda tudo num badanau por causa da construção de um enorme e infame muro. A parede da vergonha custa um elevadíssimo montante a erguer, mas o presidente eleito, despenteado dos miolos e birrento não desiste.

Quer dinheiro que baste, mas do outro lado, quem lho pode libertar, devido a maior posse de juízo e de vergonha, mas por certo também por convicção e motivação política não autoriza que os dólares sejam disponibilizados para um efeito que só de ser pensado deve fazer corar de vergonha qualquer ser humano solidário e civilizado.

A necessidade de se levar a enorme barreira, diz o senhor que a pensou e quer, advém da circunstância de estando o mundo cada vez mais sem tento e desequilibrado, andarem em marcha multidões de desesperados que só querem fugir de onde lhes foi roubada a decência para irem em busca de um lugar onde lhes parece brilhar um poucochinho de esperança.

Nada tendo a perder porque nada possuem além da vontade de encontrar uma qualquer terra de ilusão para se tornarem de outra vez seres humanos inteiros, vão por aí ao deus-dará e ao sabor dos ventos, quando outros supostamente humanos os não enganam e transviam. Quando assim é, vão ao som do rugido das hienas, mas correm ainda maiores perigos.

Claro que nada disto toca o poderoso presidente em cujas veias circula um qualquer líquido feito de moedas derretidas que lhe estorva o discernimento para tudo o que não diga respeito à vitória das feras numa arena situada no mais baixo patamar da moralidade, e no mais elevado patamar da indignidade.

O homem olha e só vê perigosos assassinos, infames gatunos, e seres com mentes torpes ansiosos por conspurcar o chão que ele afirma como sagrado da sua terra, mas que ele sem notar porque lhe faltam a visão e os valores que nos diferenciam do resto da criação, diariamente suja em atitudes insanas, vergonhosas e impróprias quer do cargo que ocupa, quer da modernidade em que vivemos.

Tivessem ele e mais uns poucos que o rodeiam e lhe dizem amém, ou não lhe conseguem dizer que não, um migalho que fosse de noção do que é ser-se estadista e líder do mundo que é ou se diz livre, e saberiam que o problema destas migrações foi adivinhado há décadas, e mais não é do que a repetição de muitas outras ao longo do devir da humanidade.

Saberiam também que o problema se resolve na origem. Resolve-se criando condições de vida dignas nos países dos cidadãos sem sorte, nas terras que se mostram madrastas porque a isso levam os escusos e infames interesses dos bandoleiros engravatados que não pululam porque se escondem, mas agem eficazmente no seu interesse próprio.

Vissem eles um pouco mais longe no tempo e saberiam que na memória futura da humanidade, este muro a ser feito, será um verdadeiro monumento à imbecilidade do nosso tempo.


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