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O Pobre da Sra. D. Merkel

Retrato de igreja
Manuel Igreja

O Pobre da Sra. D. Merkel

No Portugal pardacento e tristonho feito quintal à medida do senhor de Santa Comba Dão, havia como se sabe, muitos pobres. Havia-os de espírito e não eram poucos à semelhança de hoje, e havia-os de bens materiais essenciais e básicos, tal como agora, tempo em que por ideologia se teima em os fazer nascer para expiação de pecados, e por suposta inevitabilidade de trilhos seguidos ao sabor de alguns que batendo e a toda a hora com a mão no peito, todavia não temem a Deus.

Naquele tempo, existiam como nestes nossos dias que nos couberam em sorte ou em azar viver, os pobres entre os mais pobres. Eram e são os mendigos. Gente de carne e osso, se bem que em proporções desiguais, dado que entre o esqueleto e a pele é muita a míngua de algo que se apalpe por falta de apeguilhos que forrem minimamente os estômagos, mas pessoas, dizia eu, com todo o direito a viver e a amar, a respeitar e a ser respeitado.

Infelizmente no entanto, não era nem é bem assim. Só é respeitado que se sabe dar ao respeito, mas não consta que em modos de vivências infra-humanas, exista por razões de contexto grande capacidade para se semear seja o que for. Como é sabido, o homem é ele e mais as suas circunstâncias, e não me parece que aqui estas ajudem na construção de uma imagem e de uma postura que levem ao fluir de sentimentos e de posturas de dignidade, principal ajuda na conjugação do verbo respeitar.

Na sociedade de então, injusta porque era estratificada e cristalizada dado serem ténues as possibilidades de mobilidade social, os males dos mais desinfelizes eram parca e esporadicamente minorados através da caridade. Praticando-se esta, sempre se dava um pouco de aconchego a quem nada tendo, precisava de umas migalhas, enquanto pelo outro lado se faziam dormitar consciências num caminhar em direcção ao céu em jornada a findar em lugar almejado logo ao lado do Criador.

Para melhor garantia de posse do assento, algumas senhoras com teres e haveres, e vá lá, com alguma e verdadeira vontade de praticar o bem, adoptavam para os seus especiais cuidados, este ou aquele mendigo. O eleito passava a ser então o pobre da senhora dona fulana de tal, perante quem só lhe faltava ajoelhar. Mercê dessa sua sorte, de oras em quando, as côdeas sempre vinham acompanhadas de mais uns coiratos, as sopas eram um pouco mais frescas, e no inverno, os agasalhos davam mais algum conforto em dias de frio de rachar.
Era uma sorte, era o que era, pelo menos no modo de ver de quem dava e de quem recebia, num mundo de louvar a Deus de tão cordato ser. Distinguido e assim se vendo, o pobre da senhora dona não questionava, e agradecia mesmo que nas entranhas lhe escorresse o azedume.

Quando sentia o espaço invadido e o pedaço em perigo mediante a presença de um qualquer concorrente de igual condição, rosnava, escorraçava. Podia de imediato, ser cruel entre os cruéis. Noções como a solidariedade ou a bondade que não dirigidas directamente a si, eram desconhecidas e escusadas.

Foi meio século, antecedido de um ror de outros tantos que nos moldaram se não para sempre, pelo menos até hoje ainda, muito do nosso modo de ser, tanto nas mais pequenas e comezinhas coisas, como nos grandes e abrangentes assuntos. Moldou-se em parte assim, uma sociedade amorfa, acrítica, egoísta, invejosa, e de horizontes curtos, que pouco vão além da ponta do nariz, em quotidianos sem ambição em que o contentamento se atinge não porque se está bem, mas antes porque ninguém está melhor nem que seja na aparência.

Se não nos ficou no sangue, pelo menos ficou-nos na mente, excepções à parte que sempre as há e isto de se generalizar têm que se lhe diga, para deitar um pouco de água benta aqui neste ponto do responso motivado em boa parte por certos dizeres que por aí se têm ouvido em relação à Grécia e mais ao modo como os ricos se devem comportar perante ela e ela por sua vez perante eles.

Por táctica, por mesquinhez e por preconceito, ouvem-se ditos a indicar o castigo que se dá a quem não obedece prevarica e se atreve a dizer não. No entanto, na cegueira de quem alvitrou o uso do chicote, houve um esquecimento, pois sucede que aos gregos devemos a democracia desde há séculos, e devemos agora algo de novo. Num mundo comandado na sombra por agiotas e por bandoleiros, resultados imediatos à parte, eles fizeram com que se notasse que a esse poder de mando insano, se pode e deve sobrepor o poder da política vindo da vontade dos cidadãos, a mais equilibrada e justa fonte do poder que vale a pena, forte ao ponto de fazer perigar grandes estratégias.

Não seremos todos, mas que me parece que Portugal está a agir nisto como o pobre da senhora Merkel, lá isso está. Não sei. Digo eu.

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