Manuel Igreja

Manuel Igreja

O mundo da jovem Greta

Uma mocinha sueca com dezasseis anos de idade, está a dar que falar porque nos acusa, a nós assim já para o entradote e não só, de sermos a primeira geração que vai deixar aos que se seguem o planeta Terra em piores condições do que as que existam quando o recebemos para irmos utilizando e para dele cuidarmos.

Greta Thunberg de sua graça, assume um ar zangado e faz um barulho ensurdecedor levantando ondas e marés ora de feição, ora contra si, não deixando ninguém indiferente quer pela causa quer pelo feitio. A moça, nesta espuma dos dias, está a ser um verdadeiro despertador.

Tempos houve em que para se palmilhar o caminho que ela já palmilhou e para se chegar à fala com os poderosos entre os poderosos era necessário fazer-se muita coisa e mostrar-se muito valor, mas hoje em dia é totalmente diferente. A modernidade deu-se nisto.

Bastou-lhe uns dizeres na hora certa e no local certo, e logo graças às redes sociais que tudo conectam sem nada ligarem, pelo menos com nó que segure, num ápice a miúda virou ídolo em jeito de bezerro de ouro que se idolatra ou se vilipendia.

Como se tornou costume, faz-se escarcéu, mas pouco se levanta a ponta do véu. Que ela está a ser movida e aproveitada por interesses escusos, dizem uns, que ela é a nova Joana d’ Arc no meio dos exércitos, dizem outros que juram que se ainda não é santa, pouco falta à pobre rapariga para o ser.

E ela vai. E ela vem. Desloca-se de modo a não sujar o tapete quiçá gostando de ter asas para levitar sem gastar sola de sapatilha ou ladrilho do chão que urge preservar. Logo seguidores a imitam jurando que pouco ou nada comem, que somente ingerem verduras e jamais em tempo algum andarão de avião para não conspurcar as nuvens.

Exageram, não toleram e condenam. Como alguém que viu a luz, com arrogância intelectual que baste, cheios de si mesmos, dão-se o monopólio das preocupações com o ambiente e com o modo como se exploram os recursos, esquecendo que no meio é que está a virtude.

Por isso perdem eficiência. Desconhecedores do que realmente é a Natureza porque só a conhecem em estufas, em grande parte nunca viram uma minhoca a furar a terra, não sabem nem sonham que tudo se regenera, e que nada se perde e tudo se transforma. O passado e mais o tempo que é mestre ensina-nos isso, assim como nos ensina que o sentido das coisas está no comedido.

Greta Thunberg é um fenómeno de era moderna. Um tufão com efeitos benéficos, mais não seja porque abana. Mais não seja também porque alerta e desperta a consciência dos que têm decência. Deixa um grito de cuidado que nos pode condenar um dia perante os nossos filhos e netos.

O problema é que enquanto isso, não se faz nem se apregoa a verdadeira revolução que urge erguer nos modos de ser e de viver, quer individual quer colectivamente. Por isso continuamos a querer uma coisa e o seu contrário, crendo que basta seguir a moda.

Mas não basta. Antes de mais, cada um tem de pensar no que pode fazer quotidianamente pelo planeta em vez de pensar no que dele pode egoisticamente aproveitar. Acima de tudo, impõe-se que os políticos concretizem medidas ambientais eficazes e impunham regras que evitem que os recursos e a riqueza criada sejam proveito de uns muito poucos, em detrimento dos muitos que somo todos nós.

O equilíbrio do mundo passa essencialmente por isso. A luta tem de começar pelo combate à ganância desenvergonhada que tudo destrói e de miséria se alimenta. O futuro defende-se identificando e acabando com a causa das coisas.

Por favor, se a virem, digam isso à Greta.


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