Manuel Igreja

Manuel Igreja

O Marão

O Marão é uma serra. Para que conste, a segunda com mais altura em Portugal Continental, logo a seguir à serra da Estrela. No entanto, para os que lhe estão perto no sentimento com que se gosta e dá proximidade, é o Marão. Assim. Simplesmente Marão.

Eu gosto muito do Marão. Vejo-o e sinto-o praticamente desde o berço que me embalou num tempo que passou depressa mas que ia devagar quando passava. Lembro-me bem quando espraiava o olhar na altiva aldeia em que cresci e o apreciava azul e imponente. No meu entendimento de moço sem noção de lonjura nem distância, um local no território era tido como longínquo quando surgia pintado de azul celeste. O acastanhado, era sinal de sítio perto.

Alto e volumoso, o Marão é uma presença constante nestas nossas terras de Deus Nosso Senhor como se costuma dizer. Isto obviamente referindo-me ao lado de cá, de onde se diz sem fundamento, que manda quem por cá está. É mentira, mas isso são contas de outro rosário que agora não vêm ao caso, que é o mesmo que se dizer que não é para esta altura.

Os antigos tinham um dito que referia com um certo menosprezo, que o Marão não dá palha nem negrão. No entanto estavam enganados. Também, convenhamos, não de anos, era o fundo do mar, não se podem semear searas de trigo ou de cevada, pois quando muito há umas restevas e umas ervas daninhas onde os pinheiros se não aguentam. Mas mesmo assim.

Das fragas do Marão pouco ou nada brota diretamente, mas graças a elas muitas e boas coisas medram noutros chãos e noutras bandas. Basta para irmos onde quero chegar, termos em conta que é devido à sua ação de barreira aos ventos marítimos a par do Alvão e do Montemuro, que o Douro usufrui do microclima que possibilita as condições únicas para o granjeio do ímpar vinho generoso, comumente conhecido como vinho do Porto.

Não só a ele mas também aos outros. Sem eles, quem sabe se o Alto Doiro Vinhateiro, em vez de o ser, não seria antes Alto Doiro vinagreiro. Felizmente que a natureza assim não quis, Nosso Senhorpermitiu, e os homens sonharam e lutaram para hoje sermos parte integrante desta incomensurável obra com que o mundo se assombra. Houve e há muito suor a humedecer o xisto, mas também foram e são necessárias as condições naturais pois não nos podemos esquecer do rio que nos tempera os ares que respiramos.

Mas o Marão pode proporcionar muito mais. Pode por exemplo, dar-nos um forte contributo no turismo que cresce de mãos dadas com o setor do vinho e da vinha que mete o sol em garrafas. Aquela espantosa e omnipresente massa de granito tem todas as condições para ser um potentado de atração turística. Lá no seu cume, com deslumbre uma pessoa perde o norte. Nem sabe para que ponto cardeal está virado quando toma noção de que este nosso pequeno mundo é um enorme mar de terra.

O que a vista alcança do alto do Marão parece sem medida. Muito facilmente um cidadão se desnorteia caso se queira centralizar, mas igualmente se encontra consigo mesmo, caso se busque e escute o som do silêncio no momento em que lhe apetece tocar nas nuvens para que se desviem e deixem vislumbrar a porta do céu, algo que como sabemos, é o que cada qual quer que seja.

Não sei se vossemecês já encontraram o vosso, mas mesmo assim, vão por mim que ando em permanentedemanda, e olhem em redor. O Marão é ou não é de se admirar? Reparem e sintam bem e depois digam.


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