Manuel Igreja

Manuel Igreja

O lado certo da História

Dizem-nos a verdade e saber sobre os acontecimentos, que a História é sempre escrita pelos vencedores. Por isso se torna difícil indicar-se qual é o seu lado certo. Mais não seja, porque há estafermos em todos os cantos e em todas as posições.

No entanto, há que factos que revelam qual é seu lado melhor mesmo que possa não ser em absoluto o seu lado certo. Pode nem se ter a noção necessária no momento dos acontecimentos, mas o filtro que é o tempo, mostra sempre o que há para revelar via juízos implícitos não isentos dos condicionalismos moldados pelas crenças e pelos mitos.     

A História diz-nos essencialmente das mudanças no nosso devir na condição de humanos repetindo-se e pouco se alterando. Podemos dizer que até ao advento da Idade Moderna, até ao dito seculo das luzes, o décimo oitavo na nossa era, ela se repetia sem placitude e com justiça escassa.    

O conhecimento era parco e estava encerrado dentro das paredes dos conventos, os sentimentos eram brutos e a razão era ténue quase inexistente. Valeu-nos no acelerar das coisas a imprensa inventada por Gutenberg com a centúria de quatrocentos quase a meio, e mais a revolução industrial na de oitocentos para que algo se começasse a alterar.

As estruturas sociais e os modos de vida ganharam dinâmica. O futuro deixou de ser o que era e a História que mais não é do que o reflexo e o resultado das ações e das atitudes, elasticamente acompanhou, acompanha e acompanhará o modificar dos contextos e dos pretextos que impelem nesta ou naquela direção e com esta e aquela justificação.

Opiniões acerca do seu lado certo, se é que ela o tem, poderão ser como disse conforme o que se pensa e/ou se é levado a pensar, e podem ser propagadas por convicção, mas também por conveniência. Quem diga uma coisa e pense outra neste mundo de hoje é o que mais existe a toda a hora e a todo o instante.

No entanto existem situações inequívocas. Quando ir da terra à lua é uma escanchina e quando há cidadãos que se passeiam no espaço, prender e matar uma mulher porque se não cobriu com o véu como manda a lei obtusa, não pode ser o lado certo da História. Muito ínfimo de saber e de poder seria um Deus que tal aprovasse.

Também não pode estar no lado certo da História quem concorda que um líder com coração de pedra invada o país do lado só porque sonha alargar o seu território de influência, ou porque quer evitar que a realidade de além encante os que sob jugo vivem a realidade pardacenta de aquém. Nada mais temem os ditadores do que a liberdade do pensamento à solta, pois sabem que não há machado lhes corta a raiz de sustentação.    

No entanto e, contudo, a causa das coisas e as coisas de ondem brotam causas, também podem indiciar se não o lado cabalmente certo da História, pelo menos o que mais dele se aproxima, apesar dos desmandos perpetuados e perpetrados durante séculos imperfeitos e talhados à navalhada na madeira comum e imensa que os seres homens esculpem desde que se conhecem como tal.

A verdade que sabemos e que sentimos diz-nos que no mundo ocidental se elevou a civilização ao seu mais alto nível desde sempre e até agora, e o que se vê, revela-nos que nas outras partes do globo ela é almejada e imitada. Sofre de imperfeição e alimenta-se de alguma injustiça, corre risco porque a desigualdade instala-se e quase campeia, mas é a melhor.

Por isso é temida e repelida pelos ditadores de meia tijela e de ferro em brasa que nada hesitam em a tentar fazer periclitante. Recorrem a tudo. Ameaçam mesmo com o que pode pôr fim a tudo e a todos.

Para eles a História tem lados. Não sei se sabem que o deles não é o certo, mas querem que os seus não ajuízem o nosso para se não encantarem. Por isso, o lado certo da História por agora e não desde sempre é o nosso. O daqueles que sabem que a liberdade não tem preço e que a decência no viver é um direito que se não pode violar.            

Afinal a História por ora tem um lado certo. O nosso. Digo eu.


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