Manuel Igreja

Manuel Igreja

Em defesa da palavra Mãe

Como se o mundo não estivesse de pernas para o ar e com mudanças tão profundas que acarretarão alterações dos modos de viver, uns desocupados mentais, para não dizer outra coisa, dedicam-se agora a pretender que se deixe de utilizar a palavra MÃE, a palavra sagrada entre as sagradas, pelo menos quanto a mim e creio que igualmente para vossas senhorias.

Já se tinha visto e continua a ver-se muita coisa desconchavada, muitos esforços pífios se têm vindo a encetar para que se reescrevam coisas e loisas que nos chegam da profundidade dos tempos, pessoas há que se entretêm a descobrir o que se alterar porque supostamente a vanguarda a isso obriga, mas convenhamos que esta não lembra nem ao diabo que não tendo mãe, julgo eu respeita a seu jeito a que cada um tem. Apesar de tudo.

Note quem me lê aqui e agora que utilizo o verbo ter no presente, pois acho que mesmo quando uma mãe fenece, ela eternamente permanece na memória dos seus filhos aconchegada no canteiro onde brota a flor chamada saudade. Continua viva, deixando a vida que levou para nosso quotidiano auxílio frequentemente impercetível porque resulta do exemplo seguido.     

Os tais que se ocupam a guerrilhar tudo o que se fez e se escreveu, não sonham nem sabem, contrariamente ao que pensam, que uma palavra é muito mais que um conjunto de desenhos feitos letras. Não sabem que a cada palavra corresponde um conceito que de imediato se nos afigura com todos os contornos no nosso cérebro, obviamente quando ele está capaz e mais ou menos aferido quem nem um relógio suíço.

Num tempo cada vez mais de sombras que de luz, numa época em que se vislumbra um futuro em que o próprio papel dos seres humanos poderá vir a ser questionado em face do potencial das novas tecnologias, quando o chão parece estar a fugir-nos porque cada vez em maior número cada qual pode ser excedentário, uns e umas mariolas sem preocupações concretas, ou quiçá porque querem alhear-se delas, andam preocupados a discutir a cor dos pimpilros e se o facto de se ter uma pilinha significa ou não que se é rapaz. Por exemplo.       

Agora, como disse antes, metem-se com a palavra MÃE. Querem que seja substituída por algo que eu me nem dei ao trabalho de decorar e de compreender porque se me revoltam as entranhas e me sobem uns calores que só não viram em raiva porque logo desvalorizo. Nem sequer merecem e como diziam os antigos, não vale a pena gastar cera com ruins defuntos.          

Uns tristes, uns tolos, que julgando que encimam a civilização, não sentem vibrar as cordas da alma de cada vez que pronunciam ou se deparam com a palavra que significa quem lhes deu o ser e o viver. Nunca se lhes reluziu o olhar só de ver a palavra que querem esconder e que olvidemos.

Bem sei, estarei a ser injusto quando ajuízo sobre o que outros sentem no seu íntimo perante o que de mais importe e profundo existe. Mas confesso que me destempero um pouco mediante certas atitudes que a todo o custo e com nenhum tino querem alterar paradigmas ancestrais tonando o passado imprevisível só porque alguém em todo o presente o reescreve.      

São uns tontos desmiolados que se não lembram que no colo de quem nos trouxe ao mundo, cabe todo universo, que nele brota a força que acalma as tempestades, e que com um mero afogo nos cabelos faz o planeta parar. Quem dera que as melodias cantadas para nos fazer adormecer jamais deixassem de se ouvir feitas cotovias em repetidas primaveras.  

Tudo isto e muito mais cabe na pequenina palavra MÂE. Três letras alinhadas que significam tudo. Nada as pode substituir.             

             


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