Manuel Igreja

Manuel Igreja

A Escola Técnica da Régua

Quem hoje passa junto ao Centro Escolar da Alameda, nem lhe vem à lembrança o que antes ali existia. Não se passaram muitos anos desde a renovação, mas o ser humano tende a deitar para o canto do esquecimento o que lhe não é imediatamente útil. As recordações das coisas e das loisas, ficam apilhadas, vão perdendo nitidez, afundam-se e quase desaparecem quando não desaparecem mesmo cobertas com o lençol das indiferenças.

Será mau, mas é assim que sucede para mal dos nossos pecados e para alguma falta de lucidez e conhecimento acerca do futuro que a cada dia se constrói tendencialmente feito ao sabor do vento e das marés feitas modas.

Não vai longe o tempo em que ali se viam para vergonha crescente de todos e muito mais dos reguenses, um monte de ruínas daquilo que começou por ser em 1927 a Manutenção Militar de onde saía pão e outros mantimentos, escassos porque fartura só havia de ar, para os quartéis da tropa que se situavam a poucas léguas da Régua. Também nisso a nossa centralidade fez da Régua o centro.

Encruzilhada de rotas que era, foi entreposto abastecedor das terras em seu redor e um sinal de tranquilidade, quando os armazéns estavam cheios de produtos em distribuição ou para serem levados para fora da região. Mas volvendo ao meu trilho que isto das teclas nem sempre se lhes pode dar a liberdade de dizerem o que querem, pois se não, dizem de outros assuntos que não o que de momento importa. Depois, quando uma pessoa dá por isso, já falou disto e daquilo mesmo que não invente. Digo eu.

Pois bem então. Depois de ter de dar alimento aos militares, aquele edificado de pavilhões originais acrescentado com outros mais do tipo provisório para sempre, alimentou de conhecimento e de sabedoria muitas almas nadas e criadas na Régua e suas redondezas. Durante décadas, funcionou naquele espaço a Escola Técnica da Régua e também a Escola Preparatória João de Lemos. Foram milhares os rapazes e as raparigas que por ali aprenderam, por ali passearam os livros, por ali passearam as suas vaidades e por ali deram o seu primeiro beijo num namorico tantas vezes alicerce para o resto da vida.

A entrada era franqueada por um enorme portão sempre aberto que antecedia pelo lado direito a Secretaria. Depois, era um terreiro largo ocupado por pavilhões feitos salas de aulas. Ao fundo, num outro transversal eram as oficinas onde se aprendia eletricidade e mecânica, matéria reservada para os moços, já que para as moçoilas eram mais as coisas dos bordados, numa época em que alguém pensava poder parar o tempo.

Subiam-se umas escadas e ia-se dar ao patamar onde num edificado em forma de torre também havia salas de aulas. Eram o R1, o R2, e o R3 salvo erro, pois já se me esfuma a memória mais concreta. No resto do patamar decorria o ensinar dos dois anos do Ciclo Preparatório. Mais tarde, foi aproveitado e bem para ser ali instalado um Infantário.

Parece que foi há muito tempo, tudo isto, mas não foi. Pouco mais que uma mão cheia de anos decorreu. Basta que se liberte um pouco o sonho e a recordação de certos viveres e de certos sentires que nos dizendo de onde viemos, nos indicam os caminhos por onde ir.

A Escola Técnica da Régua, fisicamente já não existe, mas ainda mostra a sua técnica. Ainda a utilizámos com a força que se ganha e se tem quando ao que aprendemos na Escola, acrescentamos o que nos vai ficando da vida, no edificar da obra que somos.


Partilhar:

+ Crónicas