A antiga Central Hidroelétrica do Biel, pioneira no país no século XIX, está a ser musealizada em Vila Real e foram já inventariadas cerca de sete mil peças, entre as quais “uma rara” turbina construída na Alemanha.

O projeto de musealização da Central do Biel/Fábrica do Granjo é promovido pela Câmara de Vila Real, representa um investimento de 2,5 milhões de euros, visa preservar o património industrial e criar um novo ponto de tração turística na cidade.

“Recuperar o nosso património da época industrial é vital para recordar o passado, mas sobretudo para perspetivar o futuro”, afirmou hoje à agência Lusa o presidente da autarquia, Rui Santos.

É preciso descer uma encosta íngreme, de acessos difíceis, para chegar à antiga central hidroelétrica, construída em 1894 na margem esquerda do rio Corgo, que atravessa a cidade.

A rede de energia elétrica, inaugurada pela mão de Emílio Biel, é considerada “pioneira” em Portugal e alimentou a rede local de distribuição de eletricidade até 1926 e, em 1932, o edifício foi transformado numa fábrica de curtumes por José Pires Granjo.

“É a primeira central hidroelétrica portuguesa de serviço público, que alberga um conjunto de maquinaria do século XIX e, em Portugal, não temos nada de parecido relacionado com a produção de energia elétrica. O próprio Museu da Eletricidade reúne tecnologia do século XX”, afirmou Vítor Nogueira, que está a fazer o acompanhamento da obra.

Escritor e gestor cultural da autarquia, Vítor Nogueira há anos que alerta para a preservação do espaço que se encontrava em avançado estado de degradação.

“Granjo aproveitou a maquinaria existente para produzir energia para alimentar a fábrica e, por essa via, acabou por preservar os maquinismos que ainda aqui estão e que, do ponto de vista museológico, estão com todo o seu potencial”, salientou Vítor Nogueira.

No local, prossegue a recuperação das estruturas dos edifícios, com recurso a técnicas e materiais de construção originalmente utilizados. O que se pretende é que os maquinismos fiquem funcionais do ponto de vista museológico e que se aproximem o mais possível do seu estado original.

Também o poço da turbina, com cerca de nove metros de altura, foi alvo dos primeiros trabalhos de conservação e restauro.

Para Vítor Nogueira, a “turbina é, no fundo, o motor” da central hidroelétrica, considerando tratar-se de uma “peça raríssima”, só havendo outra idêntica numa cidade alemã. A turbina “Knop” foi construída nas oficinas da empresa alemã Briegleb Hansen.

O arqueólogo Pedro Pereira foi um dos primeiros a entrar “em obra”, em junho, e, segundo salientou, foram já “inventariadas cerca de sete mil peças”, entre pequenas e grandes, umas que foram recolhidas porque estavam fora dos locais originais, outras que se manterão no sítio original.

Acrescentou que algumas peças ainda não foram identificadas e serão estudadas posteriormente. O material é diverso e está relacionado com a central hidroelétrica, com a posterior fábrica de curtumes e também com “a vida” das pessoas.

“Encontrámos uma grande variedade de peças. Encontrámos desde canecas de cerveja do início do século passado até as peças de suspensão, porcas, rebites até escovas utilizadas para tratar o couro, muitas ferramentas”, referiu o arqueólogo.

Pedro Pereira referiu que, em Portugal o trabalho de campo em arqueologia industrial “é relativamente diminuto”, acrescentando ser uma investigação mais comum em países da Europa do Norte mais industrializados, como, por exemplo, Inglaterra ou Suécia.

O presidente da câmara, Rui Santos, apontou ainda o exemplo de “boas práticas ambientais” da produção hidroelétrica que estão patentes nesta central, nomeadamente o facto de ter sido aproveitado um desnível natural do próprio rio, de cerca de 25 metros.

Nesta fase do projeto vai ser feita a estabilização do edificado para que possa ser visitado em segurança e recuperados os acessos, compreendendo ainda a construção de um sistema de elevação (vagonetes) e a recuperação de alguns dos mecanismos eletromecânicos originais da Central do Biel e da Fábrica do Granjo.

No espaço exterior, os velhos carris do elevador instalado em 1932, para cargas e descargas, também já foram limpos do coberto vegetal que os escondia há muitos anos.

A empreitada tem um prazo de execução de 16 meses.

Fotografias de Jorge Filipe Photographya 



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