O governador do Banco de Portugal (BdP) falou ontem, a alunos de Vila Real, sobre os desafios provocados pela rápida subida das taxas de juro e inflação, destacando que a palavra “crise financeira” não faz parte do dia-a-dia.

O auditório da Escola Secundária de São Pedro encheu-se de alunos de Vila Real e de Ribeira de Pena que lançaram diversas perguntas a Mário Centeno: inflação, juros, mercado de trabalho e imobiliário, IVA zero dos alimentos, criptomoedas, os casos BES e Banif e até sobre o maior desafio enquanto antigo ministro das Finanças.

O governador do Banco de Portugal (BdP) afirmou hoje que o IVA zero em bens alimentares é uma medida com um “grande risco” de poder “não ser sentida” pelos consumidores finais e tem um custo orçamental “relativamente elevado”.O governador do BdP deu uma aula de Finanças e Economia e, nas suas respostas aos estudantes, disse que este ciclo de subidas de taxas de juro estava "nas estrelas”.

“A redução do IVA é temporária, foi assim que foi apresentada, tem um impacto muito difícil de avaliar porque os preços variam todos os dias. Vai, na verdade, lutar contra algo que eu disse ali, há pouco, que tem a ver com os mercados permitirem a tradução, no preço final, da redução dos custos que hoje já se fazem sentir internacionalmente e, portanto, é uma medida que tem um grande risco de poder não ser sentida pelos consumidores finais”, afirmou o governador do BdP.


Na sua opinião, a iniciativa tem também “um custo orçamental relativamente elevado e também é uma medida que, do ponto de vista orçamental, não é focada nos mais vulneráveis”.“Nós queríamos que ele acontecesse. As taxas de juro não podiam manter-se em níveis negativos”, afirmou, explicando que isto não era “sustentável” e, que associadas a essas taxas de juro negativas, estão, normalmente, “períodos de deflação, em que os preços não crescem”, e de “baixo crescimento económico”.

Era, por isso, “muito importante sair daquela quase armadilha” que foi “adensada pela covid-19”.

“A palavra crise financeira não está hoje, no nosso dia-a-dia, portanto eu acho que o que vivemos é um desafio, um desafio que necessita de tempo para nos adaptarmos a ele e para respondermos”, salientou.

Segundo Mário Centeno, “o maior problema deste ciclo de subida de taxas de juro não é o nível da taxa de juro, mas a rapidez com que as taxas subiram”.

“(…) Dada a velocidade com que as taxas de juro subiram, muitos de nós vão se calhar responder que não estavam preparados, mas a economia portuguesa, como um todo, reduziu o seu endividamento, as famílias hoje devem muito menos dinheiro do que deviam em 2009, no auge da crise financeira, as empresas a mesma coisa”, afirmou.

Disse ainda que o rendimento real das famílias “não caiu” em Portugal (2020, 2021 e 2022) e defendeu uma “política orçamental para apoiar os mais vulneráveis” e a “contenção suficiente para permitir que a inflação baixe”.

Centeno disse ainda “que a luta contra a inflação deve partir de políticas coordenadas” e que todos “puxem para o mesmo lado”.

E exemplificou: “Se os salários aumentarem um ponto percentual hoje e as margens de lucro aumentarem um ponto percentual hoje, a inflação vai levar mais tempo a cair”.

“O que significa que o Banco Central Europeu (BCE), nas próximas reuniões, vai ter que ir mais longe do que aquilo que, neste momento, o mercado considera, o que significa que (…) a perspetiva de queda da taxa Euribor não se vai materializar e, no médio prazo, aquilo que foi este ponto percentual que nós ganhamos hoje mais de salários ou de margens de lucro para as empresas vai desaparecer”, sustentou.

E, segundo recordou, a taxa Euribor a 12 meses, um dos três indexantes usados nos créditos à habitação, “atingiu o seu valor mais alto” em fevereiro, tendo já começado a descer, embora “muito pouco”.

“Os contratos que usam a Euribor a três meses ou a Euribor a seis meses, ainda vão continuar a subir em termos de taxas de juro nos próximos meses, começando a descer a partir de agosto”, referiu.

Questionado sobre uma possível crise no setor imobiliário, Centeno respondeu: “Eu não concordo com a visão de que há uma crise iminente no mercado imobiliário em Portugal por causa do endividamento das famílias, porque as famílias portuguesas prepararam-se para este momento, coisa que não estavam em 2008 e tão pouco estavam em 2012”.

Já sobre o mercado de trabalho, referiu que “os jovens hoje têm o mundo à frente deles” e que possuem instrumentos, como a qualificação, que não existiam há décadas.

“Vocês vão ter a sorte que outros não tiveram, porque se prepararam e porque as oportunidades estão aí para vocês. Se elas são em Portugal ou não é uma (…) questão complexa. Cada vez mais essas oportunidades surgem em Portugal”, frisou.

Foto: DR



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