O Túnel do Marão foi atravessado por 19 milhões de veículos em cinco anos, que geraram uma receita de 43 milhões de euros de portagens, e representa um custo de manutenção de 2,5 milhões de euros anuais.

A abertura do túnel teve um impacto muito significativo na forma como os transmontanos se libertaram das curvas da Marão, essa barreira física mas também psicológica que nos trazia acorrentados, presos ao mundo de Torga e Guerra Junqueiro, ao interior telúrico que tanto nos fez sofrer e pena para uma vida melhor..

Se de um lado a fronteira nos castrava a liberdade (só conseguida a salto durante décadas) de outro o Marão e o rio douro a sul  impediam a nossa integração plena nessa Portugal que se quer único e equilibrado em todo o território, traduzida numa maior equidade social.

Essa visão está bem demonstrada nas várias opiniões demonstrações recolhidas.

Com a abertura do Túnel do Marão, há cinco anos, Helena Ribeiro passou a fazer uma deslocação “diária, segura e rápida” entre a empresa, instalada em Vila Real, e a sua casa, em Penafiel, no distrito do Porto.

“Foi uma liberdade porque finalmente pude ir dormir a casa”, contou hoje à agência Lusa a engenheira química que instalou a Cosmetek, empresa vocacionada para a prestação de serviços na indústria cosmética, no Parque de Ciência e Tecnologia de Vila Real – Regia Douro Park.

Trabalha há 20 anos em Trás-os-Montes e foram muitas as viagens feitas pelo Itinerário Principal 4 (IP4) que serpenteia a serra do Marão. Mal a Autoestrada do Marão abriu e com ela o túnel que ao longo de quase seis quilómetros rasga as entranhas da serra, esta passou a ser a sua principal opção para as deslocações.

A viagem pela autoestrada, apontou, "é segura, é rápida, faz-se bem e a paisagem é bonita”.

Mas esta é também, referiu, uma viagem dispendiosa. Só em portagens, por dia, gasta “cerca de 10 euros”, ao que se acrescenta o combustível.

“Mas, o facto é que morar em Vila Real ficava também igualmente dispendioso, além de que é difícil arranjar alojamento na cidade”, salientou.

Agora, acrescentou, só regressa ao IP4 quando o túnel fecha.

“O túnel fez uma grande diferença na minha vida, a nível profissional e pessoal”, frisou, lembrando que fez questão de ir à caminhada que se realizou na infraestrutura rodoviária no dia da inauguração, a 07 de maio de 2016.

Helena Ribeiro referiu que a escolha do Regia Douro Park para a instalação da empresa teve vários fatores entre os quais os laboratórios, a maior proximidade à terra natal e as acessibilidades que se perspetivavam em 2015, ano em que a autoestrada estava em conclusão.

A Cosmetek foi criada com o intuito de assessorar a indústria e comercialização de produtos cosméticos, dedicando-se à investigação e desenvolvimento destes produtos, à produção e à regulamentação dos mesmos.

Pedro Mendes é natural de Vila Real, onde trabalha, e vive em Matosinhos, no distrito do Porto.

“O Túnel do Marão vem facilitar e muito, vem dar mais tranquilidade à viagem. Para quem faz a viagem com muita regularidade, quase diariamente, o túnel para além de reduzir o tempo melhora o conforto”, afirmou o cofundador da Spawnfoam, também sediada no Parque de Ciência e Tecnologia de Vila Real.

Pedro Mendes apontou a desvantagem do “aumento da despesa”. Cada viagem entre Vila Real e Matosinhos custa 7,30 euros em portagens e, por mês, faz cerca de 40 viagens.

A Spawnfoam é uma ‘spin-off’ da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, foi constituída em 2017 e valoriza subprodutos da agricultura e da floresta, nomeadamente os sobrantes da limpeza das matas e os desperdícios da indústria agroalimentar que são transformados num biomaterial que tem várias aplicações como vasos para plantação florestal e ornamental, em materiais de construção e embalagens biodegradáveis.

No mercado estão a ser lançados os vasos que pretendem substituir os de plástico e podem ser colocados diretamente no solo com a planta.

Para além das condições proporcionadas pelo Regia, laboratórios, tecnologia e proximidade com a academia, também as acessibilidades contribuíram para a instalação da empresa na cidade transmontana.

“Vila Real está no centro da região Norte, é central, estamos a uma hora de Espanha e a uma hora do Porto. Há desvantagens porque ainda se sentem algumas assimetrias”, referiu.

Nuno Augusto, responsável pelo Regia Douro Park e vereador na Câmara de Vila Real com o pelouro do desenvolvimento económico, afirmou que a infraestrutura rodoviária “é de extrema importância” para a região.

“Permite-nos dizer que o Porto é já ali ao lado e exemplo disso é que temos alguns empresários aqui que atravessam todos os dias o túnel”, salientou.

O responsável não tem dúvida em afirmar que a nova autoestrada “tem efetivamente contribuído para a instalação de empresas e criação de emprego na região, bem como para a fixação de quadros qualificados, permitindo competir com outros polos de desenvolvimento do litoral”.

“Há cinco anos o túnel foi, finalmente, concretizado e julgo que trouxe segurança, previsibilidade, rapidez ao movimento rodoviário e, sobretudo, terminou com aquela barreira psicóloga de que o Marão era, de facto, algo muito complicado de transpor”, afirmou o presidente da Câmara de Vila Real, Rui Santos.

Para o autarca, o resultado nestes cinco anos “é mais positivo do que aquilo que inicialmente se previa”.

No entanto, lembrou que “quando essa obra foi anunciada, muitos consideraram que se estava no campo do delírio e que jamais isto se conseguiria fazer”.

“Espero que esta experiência do Túnel do Marão possa ser também a luz que nos guiará naquilo que agora se está a aprovar que é o plano ferroviário nacional”, salientou, apontando que, Vila Real, “quer voltar a ter uma ligação por comboio”.

Texto: Paula Lima e Fotos: AP



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