Henrique Ferreira

Henrique Ferreira

Legislativas 2024: o Chega engoliu o PS e derrotou a AD

A democracia é tão criadora que permite gerar autênticas revoluções sem sangue. Os resultados da eleição dos representantes do Povo Portugiuês à Assembleia da República, para a XVI Legislatura assim no-lo permitem ler.

Os partidos da Esquerda (Livre, PCP e BE) e os do Centro (PS e PSD) passaram cinco anos a dizer que o Chega é populista, é xenófobo, é racista, é extrema-direitista, é radical, é quase todos os adjetivos que se pode usar em política para achincalhar os adversários mas, na hora de decidir, levaram a bofetada que se pode dar aos intolerantes das ideias dos outros. Imagino-os agora a proclamarem que 1,1 milhões de portugueses são dotados daqueles pergaminhos todos.

Qual é o mal de, em Portugal, alguém ser de Direita se esse alguém se integra na ordem constitucional portuguesa? É crime pensar diferente? Para os intolerantes - que não têm nada nem de democratas nem de liberais -, é crime. Qual será o crime de querer mais ordem e mais mérito na vida social? Para os intolerantes - que não têm nada nem de democratas nem de liberais -, é crime.

Claro que os resultados da eleição não resultaram assim por o Povo querer reabilitar o Chega mas essa reabilitação coincidiu com um voto de protesto contra a incompetência do Governo do PS e contra a incompetência da Oposição do PSD. Afinal, nem com o CDS, nem com a «brigada do reumático» o PSD conseguiu melhor resultado do que em 2022 e, agora, vai ter de governar e provar as suas capacidades e habilidades técnicas e humanas. Oxalá as tenha, mais do que eu imagino que possa ter, para o bem do país.

Já escrevi em outro jornal que a melhor forma de esvaziar o Chega é levá-lo para o Governo e confiar-lhe responsabilidades. Nesse aspecto, parece-me que Luís Montenegro está enganado. O Chega quer poder tanto quanto o PSD e o CDS.

Estas não foram umas eleições quaisquer. Vinte e cinco por cento de abstenção, no Continente, revelam uma vontade de participação e de mudança poucas vezes vistas em Portugal e o país partiu-se em dois, norte e sul, o norte dos valores tradicionais e o sul, do protesto e do pedido de ajuda ao Chega, contra o PCP.

É por isso muito difícil interpretar o resultado destas eleições sendo, para isso, necessário conhecer primeiro os diferentes fenómenos regionais que provocaram os resultados. É preciso ter muito cuidado com o que se diz porque o que se diz só é verdadeiro se for confirmado pela realidade.

Há três razões fundamentais para a derrota do PS: o mau desempenho do Governo, as circunstâncias internacionais pouco favoráveis à economia e a mudança apressada de líder, mas um período de reflexão e de oposição fará muito bem ao Partido.

Infelizmente, esse período de reflexão pode ser curto dadas as dificuldades que os resultados provocaram em possíveis entendimentos na Assembleia da República, mas oxalá tenhamos um governo estável, por mais dúvidas que uma tal qualidade me pareça difícil de realizar.


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