Henrique Ferreira

Henrique Ferreira

As costas de António Costa sob o peso da rebeldia

Seja qual for a perspectiva com que olhemos para o episódio da promulgação e posterior revogação do Despacho sobre a possível muleta do Aeroporto de Lisboa no Montijo, não deixaremos de exprimir espanto e incompreensão.

Lembrando a história: no dia28 de Junho de 2022, à tarde, Pedro Nuno Santos (PNS), Ministro das Infraestruturas de Portugal, publicou um Despacho a despachar que a Base Aérea do Montijo seria a muleta que, a partir de 2026, ajudaria o Aeroporto da Portela a desencravar-se do excessivo tráfego aéreo que o procura. Mais despachava que deveriam começar já os estudos e as obras para que o Campo de Tiro de Alcochete fosse transformado no Novo Aeroporto de Lisboa (NAL), a inaugurar em 2032. António Costa (AC), Prineiro-Ministro, ausente em Madrid na Cimeira da NATO (a que chamei a segunda versão do filme «Morte em Veneza»), alertado, nesse mesmo dia,  por Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República, terá ordenado ao Ministro a revogação do Despacho, sob pena de demissão.

As questões são: 1) como pode um Ministro com quatro anos de experiência de Governo contrariar o Primeiro-Ministro que, dias antes, tinha dito que o dossiê Aeroporto tinha de ser consensualizado com o novo Presidente do PSD, a eleger no dia 3 de Julho, no Congresso do PSD? E 2) que autoridade tem, afinal, o Primeiro-Ministro sobre os ministros para não conseguir demitir o Ministro?

Este caso levanta muitas hipóteses, todas elas possíveis mas não comprováveis por mim.

Elenco as mais prováveis:

1) Revoltado com a atitude inicial de António Costa de esperar pelo PSD, o Ministro resolveu agir para confrontar AC com um facto consumado conhecendo a falta de coragem do Primeiro-Ministro para o contrariar e face à urgência do NAL e à previsível estratégia de contenção do PSD para só se fazer a infraestrutura num mandato de governo deste partido;

2) Ao contrário do pensamento de muitos, estes factos podem ter sido todos acordados entre PNS e AC para se livrarem do PSD, o que o PR não tolerou;

3) Também podem estes factos terem sido engendrados pelo «mestre de cerimónias» A. C. para «disciplinar» PNS;

4) Nenhum dos dois intervenientes, PNS e AC, esperaria a intromissão do Presidente da República e, face a ela, retrataram-se ambos de uma forma intolerável para o bom nome e autoridade deles e do Estado;

5) Marcelo Rebelo de Sousa aproveitou para, mais uma vez, aparecer na televisão, para dizer (minha interpretação): estão a ver, estas «criaturas» são tão inconsequentes que eu tenho de segurar o barco mas, para a próxima, vão embora o Ministro e o Primeiro-Ministro já que este parece tão inconsistente como aquele.

No final, como se se tratasse de um episódio de uma questiúncula entre dois adolescentes crescidos, o Despacho ficou revogado, o Ministro desacreditado e o Primeiro-Ministro completamente desautorizado. Que se passa com António Costa?

Mas, num país de soluções sempre adiadas, estas não são as grandes questões mas sim a do vencedor das contendas desportivas. E, como estamos em período de defeso, deixaram-se os jogadores em paz para a «guerra» do Outono/Inverno.

O país é que sofre com estes «desgovernos».

 


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