Manuel Igreja

Manuel Igreja

Hospital D. Luiz I : O Estado nem coisa nem sai de cima

Ao Hospital de D. Luiz I, o hospital da Régua, deu-lhe o trangalomango, como diria o nosso escritor João de Araújo Correia. Recebeu nome do rei que deu forte contributo para o seu nascer, foi uma referência regional e mesmo nacional, deu cartas, que é como quem diz, deu saúde, mas a dado momento, debilitou e feneceu.

Passou por várias vicissitudes advindas de factos históricos, como a sua nacionalização nos revolucionários tempos em que a nossa democracia era ainda uma menina, foi-se mantendo no bem-servir dos cidadãos de um alargado território, ou não fosse a Régua uma encruzilhada de rotas e centro de toda uma região, mas graças aos esquemas traçados no aveludado dos gabinetes do poder central, fizeram-lhe a folha.

Integrado no Centro Hospital de Trás-os-Montes a Alto Douro, perdeu valor porque o esvaziaram. Como um balão, encolheu, encolheu, até que se mirrou para desgosto de todos nós. Com a ideia que iria ser implementado algo como um só hospital localizado não num só local, mas em três, Vila Real, Chaves e Peso da Régua, levaram o D. Luiz I às costas deixando umas migalhas dele.

Pode concluir-se hoje em dia que não houve nem vontade nem coragem de repartir o tal hospital pelos três edifícios, e nem mais tarde pelos quatro se contarmos agora com o de Lamego novo a estrear, mas com uma utilização muito aquém do seu potencial e do que é recomendado e inteligente.

Afincadamente pode dizer-se que o ministério da Saúde tem ao longo de décadas prestado um mau serviço aos cidadãos de Trás-os-Montes e Alto Douro e da parte norte da Beira Alta. Centrou tudo no Hospital de S. Pedro em Vila Real e fez mal. Isto, quer nos cuidados de saúde propriamente ditos, quer nos incómodos que provocou e provoca a quem tem de ali se deslocar numa viagem absolutamente insuportável para os mais desfavorecidos e frágeis.

Ao que sei, ao longo de pelo menos uma década têm ocorrido processos de negociação envolvendo a Câmara Municipal do Peso da Régua, a Santa Casa da Misericórdia do Peso da Régua e a Área Regional de Saúde do Norte, tendo em vista uma solução, mas tem sido um verdadeiro chover no molhado, pois de intenção em intenção, de promessa de acordo em promessa de acordo, o assunto não tem atado nem desatado.

Houve alturas em que só faltava mesmo a assinatura oficial, mas mais parecendo coisa de mau olhado, de repente alteravam-se as circunstâncias e aquele belo e cinquentenário edifício para ali foi continuando a servir de mero, mas imenso arquivo de pastas e de documentos processuais.

Representando os anseios e os direitos das populações, conseguiu-se manter o assunto na agenda atravessando um ror de nuances que davam para um romance realista retratando a pouca atenção dada à nossa região por quem tudo manda, mas pouco decide, lá pela Lisboa fadista e airosa.

Costuma dizer-se que com bolos se enganam os tolos. Mas neste caso nem isso. Nada mais fizeram do que enrolar-nos. Bem pode dizer-se que neste assunto o Estado nem coisa nem sai de cima. Haverá outros e fortes interesses. Digo eu, eu não sei. Mas pelo menos que não nos coisem.


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