Henrique Ferreira

Henrique Ferreira

Há quinze anos, quatro mães pediram para lhes salvarmos os maridos

«Entre marido e mulher não metas a colher» mas elas pediram para que metêssemos.

Eu não conhecia a Montelomeu mas ouvia dizer que ia lá muita gente do jetset. Uns que «alternavam», outros que só bebiam uns copos e se divertiam.

O negócio era próspero financeiramente mas ilegal porque não pagava impostos. As autoridades tributárias chamaram-lhe um figo mas, em vez de ganharem dinheiro, perderam-no todo ao fecharem a discoteca.

Havia o problema da escravatura sexual das mulheres, aprisionadas enquanto não pagassem as viagens desde o Brasil e desde outros países da América Latina, a estadia e a alimentação e esse problema, sim, era grave e intolerável. Até que um juíz disfarçado resolveu participar na festa e providenciar o arresto.

A Igreja e os políticos locais de então tentaram, hipocritamente,capitalizar as honras do fecho da coisa. Duas jornalistas americanas da Time divertiram-se à brava com o controlo social sobre a vida sexual das pessoas, acharam que a história ia motivar imensas vendas da Revista pela permanência dos mecanismos das sociedades tradicionais num cidade universitária do interior português. E a notícia correu mundo.

No Mensageiro de Bragança, Fernando Calado exaltou a publicidade mundial a Bragança e Henrique Ferreira, solicitou a legalização da prostituição como forma única de a controlar. O CDS/PP, através do então Governador Civil, pediu ao Bispo Dom António José Rafael para correr com Henrique Ferreira. O Bispo, que Deus tenha, respondeu-lhe que o jornal era pluralista e que era normal que um católico achasse que a prostituição devesse ser legalizada.

As mães perderam todas os seus maridos e não há memória de que alguém das Finanças, da Justiça, da Igreja e da política tentasse salvar os casamentos. Era assim a sociedade na Província. No tempo do Crime do Padre Amaro, de Eça de Queiroz, também era assim. Era e continua a ser: iliberal, regida por um controlo social quase mecânico e incapaz de se organizar para a solidariedade.


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