Certo dia, em 1976/7, apareceu alguém no meu posto de trabalho a tentar vender dois livros: Eram ambos iguais, de capa dura e luxuosamente encadernados; da mesma editora e do mesmo autor. Um, “a saúde pelos alimentos” e o outro “a saúde pelos tratamentos naturais”: – Bendita seja a hora em que os comprei, pois ajudaram-me bastante a mudar a minha vida através da alimentação e dos exercícios físicos que, depois de os ler e reler, passei a ser médico de mim-mesmo; consultando-os de vez em quando, principalmente ‘a saúde pelos alimentos’. Os dois fazem um curso completo de como conservar a saúde pelos alimentos e como cuidar do corpo pelos tratamentos naturais. São ambos d’autoria do Dr. Ernest Schneider.
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Um dia fui à minha pequena aldeia e resolvi dar um passeio pelas quatro aldeolas incluída a minha e fazer uma visita ‘de médico’ a todos os velhotes acima de setenta e cinco anos. Com efeito, entre os 75 e 94 não encontrei nenhum acamado e todos, mas mesmo todos, só se queixaram praticamente das pernas. Eu, com os conhecimentos sobre o corpo humano que nesses então já possuía, compreendi-os perfeitamente. Houve um, o Sr. Tomé, que era guarda fiscal reformado, mas sempre foi mais lavrador e em que fui seu criado durante dez ou onze meses quando eu tinha quinze anos, foi buscar o boné da farda, pô-lo na cabeça e fez-me a continência, dizendo-me: – “meu chefe é com muito prazer que o convido prá minha adega, só tenho de levar o pão, que o vinho, o salpicão e o presunto já lá estão” – ‘Mas Sr. Tomé eu não sou o seu chefe, sou apenas e tão só o seu criado’ – “Ó paz o respeito pelas hierarquias é muito bonito, eu fui o seu chefe e o senhor agora é meu superior hierárquico”. Pois é, esqueceu-se de que as antiguidades também são um posto; mas que é que lh’havia de fazer senão ouvi-lo a enumerar passagens da sua vida interessantes e ajudar-lhe a comer aquelas coisas tão boas e a beber aquela pinga da sua colheita, que era de se lhe tirar o chapéu! Bons tempos! E bons trasmontanos!
An apple a day, doctor away
(experiência q. se p. pedagógica)
Já lá vão doze anos em que me tornei anti carne, peixe e ovos mui raramente e só cozidos, refogados, estrigidos e, dum modo geral, anti alimentação tradicional. Estou convicto de que foi a melhor opção que tomei, só tenho pena de não o ter feito mais cedo! Desde que tive acesso a dois livros, comecei a tentar modificar a alimentação cá em casa; mas deparava com a oposição da minha mulher, que se esmerava nos bons (mas maus) pratos que lh’aprazia preparar. Então fui-me deixando levar por ela, que passou a fazer refogados menos apurados, enquanto se ia evitando fritos e passando a privilegiar grelhados, em brasa de lenha, e cozidos. Há uma dúzia d’anos que venho fazendo a minha comida, optando por produtos d’origem vegetal, passando a comer apenas sopa, mas condimentada à minha maneira; pois é evidente que tem tudo de que uma alimentação saudável necessita. Misturo tudo, sempre com adição de elementos crus: alface, cenoura, tomate, cebola, batata-doce, folha de couve-galega, fruta, etc.; e depois, cozido e cru, moio tudo… Mas cuidado! pra mudar d’alimentação radical, como eu em boa hora o fiz, é preciso ter-se razoável conhecimento sobre o valor nutritivo e da composição do que se precisa comer. Eu venho optando pelos produtos integrais, dispensando enlatados e, dentro da possibilidade, congelados. N’alimentação vegetalista, como é quase o meu caso, não podem faltar frutos secos, grão-de-bico, lentilhas, feijão, nozes, avelãs, amêndoas, milho, soja, bata doce e a outra, arroz integral, couve (aqui, sempre que posso, dou prioridade à galega), nabos, beterraba, de preferência rocha, figos da época e secos, tremoços, uma variedade de fruta, com destaque prás maçãs, prefiro fruta da época produzida o mais perto de mim possível, etc. Quando preparo a sopa, meto os elementos mais duros primeiro, que parto tudo miudinho por forma a não estarem muito tempo expostos ao calor da cozedura, sabendo que a cocção destrói parte essencial dos alimentos, mormente se for prolongada; portanto só os deixo cozer o mínimo indispensável prós comer. No mesmo dia como da mesma sopa, tentando variar duns dias prós outros. Faço sopa d’ortigas, de dente-de-leão selvagem apanhado no campo em repouso, e outras ervas silvestres que colho da natureza. Mas atenção! há ervas que são altamente venenosas! Portanto é necessário conhecer bem a que é e não é comestível! Aproveito a casca da banana, a menos que já não esteja em condições, tanto prá passar crua com a sopa ou com outros produtos (nunca a tentei comer que não fosse passada e misturada), mas quando resolvo metê-la na sopa é sempre no fim e desligo logo. As maçãs da nossa colheita como-as com semente e casca; já as do supermercado, quando as vejo brilhantes, descasco-as com descascador que lhes tira a casca fina; e o mesmo acontece com as laranjas embora por outros motivos... As pevides d’abobora são extraordinárias e devem ter lugar nas ementas vegetarianas, pois a sua ingestão, para além doutras vantagens n’alimentação, pode servir d’excelente vermífugo. Como não me dou bem a comer com a placa dentária, as varinhas são os meus dentes mágicos. Tal como o título no-lo diz, deve-se comer uma maçã por dia. Esta mensagem, se tiver regaço, continua aqui dividida em mais duas. Tentei abreviar, evitando advérbios e intercalações, pra diminuir espaço em prejuízo da beleza da mensagem, mas o que mais m’importa é transmiti-la no mínimo espaço entendível.
Voltando aos livros, escrevi-vos que dois modificaram a minha vida, porém, para complemento, chegou às minhas mãos o terceiro: – O meu genro, Bernardo, tem um amigo português a viver n’Améria, o qual tinha uma doença de pele chamada ‘Psoríase’; pelo que, consultados diversos dermatologistas, chegou à triste conclusão de que não tinha cura. Entretanto houve um médico, não sei de que especialidade, que lh’indicou e aconselhou a ler o livro “China study”. Pelo que o comprou e seguiu à risca as suas recomendações. O livro não se refere só a doenças individuas específicas, mas à saúde em geral, pondo em evidência as vantagens das diversas plantas n’alimentação humana, bem como as inúmeras desvantagens d’alimentação tradicional, mormente nos tempos mais modernos. Portanto, pela alimentação recomendada no livro conseguiu curar uma doença de pele em que os medicamentos convencionais ainda não o conseguem fazer. Mas também eu tinha a próstata dilatada, jogando-me o desleixo a não consultar um urologista, que só o fiz passados uns anos. Verificada a doença, receitou-me uns comprimidos que não resultaram; receitou-me outros, dizendo-me que se estes não fizessem o efeito desejado tínhamos de partir prá cirurgia. Tive algumas melhorias, todavia longe d’estar convenientemente curado. Entretanto, mudada a minha alimentação completa e radicalmente, ao fim dum ano e tal, na sequência duma revisão geral à minha carcaça, voltei a consultar o urologista que se limitou a constatar que eu estava completamente curado. Assim, ele atirou-se logo prá eficácia do medicamento, mas eu disse-lhe ‘olhe que não, doutor, olhe que não foi bem assim: Quem vem tratando o meu problema é o que há treze meses venho comendo conjugado com o que há outros tantos deixei de comer’! Ficou admirado, dizendo que estava aprendendo algo comigo. Era novato, já lá vão uns anos, mas muito dedicado à sua profissão e competente, portanto a sua experiência deve ter avançado com a sua idade…
Relativamente ao amigo do meu genro, voltando de novo a ele, depois de completamente curado, escreveu no livro uma dedicatória e enviou-lhe o livro d’América pra Lisboa. Ao qual, o Bernardo, ter-lhe-á dado uma vista d’olhos de fugida e ofereceu-mo a mim. Podia e devia lê-lo refletidamente porquanto escreve e fala fluentemente inglês. Traduzi pra português a 1º página do primeiro capítulo pra servir como conto pedagógico:
“Para problemas que enfrentamos, soluções precisamos: Numa manhã dourada de 1946, aquando do verão já ali a terminar e o outono com pressa d’entrar, tudo que se ouvia na quinta da família, que se dedicava à produção de leite, era silêncio e calma. Ainda não havia o barulho dos carros por ali a passar, nem a troada d’aviões no ar a cruzar. Havia, isso sim, o trinar dos pássaros, o mungir das vacas e os galos às vezes a cantar, mas estes ruídos eram mero sossego, a paz! De pé no segundo andar do celeiro, aos 12 anos Campbell era um rapaz feliz. Ingerira um pequeno-almoço de fazer crescer a água na boca: – Dois ovos estrelados (pra não escrever fritos) com bacon frito, salsichas fritas, batatas fritas e compota, acompanhados dum grande copo de leite integral. A sua mãe, preparara-lhes uma refeição fogosamente agradável prós seus gosto e apetite, que começara a formular-se-lhe a partir das 04.30 da manhã, que fora quando principiara a ordenha das vacas, com o seu pai Tom e o seu irmão Jack. Aquele, então de 45 anos, que esteve com eles sob pleno sol, abriu um saco de semente d’alfafa de 50 libras e verteu-o no chão do celeiro à sua frente; depois abriu uma caixa contendo um pó preto e fino e misturou tudo. O pó, explicou ele, eram bactérias para ajudar a alfafa a crescer mais rapidamente. Com apenas dois anos d’escolaridade, seu pai tinha orgulho em saber que a bactéria ajuda a alfafa a converter azoto, a partir do ar, em proteína. A proteína, dizia ele, é boa prás vacas que depois a viessem a comer. O serviço dessa manhã foi misturar bactérias e semente prá semear. Sempre muito curioso, perguntava ao pai como é que aquilo funcionava e porquê. Assim, este ficava contente a explicar-lhe e o filho, ali a ouvi-lo, contente quedava outrossim. É evidente que estes conhecimentos pra um rapaz do campo eram sempre muito importantes.
Dezasseis anos depois, em 1962, o pai teve o primeiro ataque cardíaco. Contava então 61 anos, vindo a morrer com 70 dum segundo ataque mais massivo! Como se pode imaginar, ele ficou ali devastadíssimo! Seu pai, que tinha ficado com ele e os irmãos tantos dias no aconchego e tranquilidade do campo, ensinando-lhes coisas que ainda hoje guarda queridas e com uma enorme saudade pela sua vida fora! partia tão de repente quão precocemente!
Agora, depois de décadas em pesquisas experimentais sobre nutrição e saúde, sabe que a doença que levou seu pai, doença coronária, podia muito bem ser prevenida e mesmo evitada, com todas as vantagens… A saúde vascular (artéria e coração) é viável sem cirurgias com risco de vida e sem potenciais drogas letais. Aprendeu, por experiências diversas e alargadas, que o sucesso duma vida saudável pode obter-se por uma simples alimentação selecionada corretamente!
Esta é a história de como os alimentos podem mudar as nossas vidas! Fez carreira a pesquisar e a ensinar, desvendando o complexo mistério: a saúde ilude uns e abraça outros… Agora sabe que os alimentos ditam, primariamente, o resultado; mas esta importante informação pode não chegar em bom tempo!
O sistema de saúde americano custa-lhes muito caro, deixando longe muitas pessoas e não promove a melhor saúde – que é a prevenção das doenças –Têm vindo a ser escritos volumes sobre como o problema podia ser resolvido, todavia o progresso vem sendo sempre penosamente lento”!
Nota final: Traduzi e adaptei a 1ª página do 1º capítulo do livro ‘China Study’ de T. Collin Capbell, cuja leitura – a bem da saúde – aconselho. (10-05-25)
Carta aberta ao Pte. da Câmara
de Vinhais, Luís Santos Ferreira:
Na qualidade de munícipe desse concelho, nascido e criado em Vilarinho de Lomba, quero e devo em primeiro lugar apresentar-lhe os meus respeitosos cumprimentos, enquanto o felicito por haver sido eleito prá governação dos destinos do meu concelho. Sei que já vou muito tarde e que não terá sido da sua responsabilidade, todavia, quero manifestar-lhe o que eu penso sobre o que vou expor:
Aquando da unificação das juntas de freguesia por todo o nosso país, eu estava distante algures dividido entre o Algarve e Lisboa, pois como estou reformado, tenho todo o tempo por minha conta. Pensei que Lomba, com os seus 13 lugarejos a que nós por aí lhes chamamos aldeias, passasse a ser uma freguesia com a sede na Gestosa, por ser o ponto mais central e a entrada e saída de Lomba em direção aos nossos concelho e distrito. Contudo, quando fui a lomba, para desencanto meu, constatei que assim ali não aconteceu.
Como sabe, hoje estamos mais perto uns dos outros do que nos tempos em que a comunicação se fazia a pé entre aquelas aldeias todas – o que felizmente hoje já assim não acontece. Veja que as escolas em lomba fecharam todas; como assim fizeram os diversos postos fronteiriços d’antiga guarda-fiscal, outrossim. O médico, tanto quanto m’apercebi, vinha à Gestosa, não sei se ainda vem, e os pacientes ali se deslocavam desde Sanjomil à Cisterna.
Tenho cá pra mim que vale mais uma freguesia com alguma capacidade do que três ou quatro minúsculas. Exemplando, temos a vila de Ponte-de-Lima, aqui perto e do distrito de Viana, que já foi solicitada a passar a cidade e até por mais do que uma vez e nunca aceitou, preferindo ser uma Vila forte a uma cidade fraca. No entanto, Ponte-de-Lima continua a desenvolver-se e a crescer em todas as direções, possíveis, e a passos largos e firmes (possíveis, porquanto é condicionada pelo rio lima, que lhe traz vantagens e desvantagens) e muito se digna de ser a maior vila do nosso país! Enfim, coisas deles mesmos...
Assim, no total das 13 aldeias, creio que não haverá mais de 130 votantes, se tanto. Ora, sendo assim e quanto a mim, não deveria haver juntas de freguesia sem, no mínimo, 800 votantes inscritos, ressalvando-se aqui as situações geográficas em territórios encravados; como aliás é o caso de Lomba que, como sabe, fica isolada perifericamente entre o Rio Rabaçal e o Mente, encarregando-se este de fazer a marcação divisória entre Portugal e a vizinha Galiza.
Estou a pensar dar uma volta, saindo daqui de Viana do Castelo, onde moro há cerca de 50 anos, passando por lomba e vinhais em direção a bragança…. e espero ter a oportunidade de o voltar a ver pessoalmente pró cumprimentar e conversar um bocadinho, se tal me for possível e permitido, o que me dará muito gosto com toda a minha certeza. Mas então, com toda a legitimidade, perguntar-me-á: afinal quem é que tu és?
Pois bem, em primeiro lugar sou um dos genuinamente trasmontanos que, embora morando fora do distrito, aqui em Viana, me sinto sempre trasmontano até morrer. Fiz da Polícia Marítima a minha profissão onde subi meros cinco degraus e sou um simples chefe reformado vai para 30 anos. Entretanto tenho vindo a dedicar-me à escrita prosaica, mas sobretudo poética. Ainda só tenho 28 anos ao contrário, por isso sou um jovem aqui prás curvas. Olhe que já percorri o caminho, de Vilarinho a Viana, acavalo tendo sido titulado pelo jornal de notícias, que soube do caso por um rádio de Bragança no programa “O Tio João”. Mas talvez seja melhor ficar por aqui e, depois, contar a história melhor aos leitores deste jornal. Assim irei fazê-lo num destes dias e então podê-la-á ler aqui, se a quiser saber um pouco mais pormenorizada. Até lá, um abraço do seu munícipe e candidato a possível bom amigo,
Adelino N. Martins.
Don Quixote Trasmontano
Quando passei á pré-reforma, então com cinquenta e dois anos e meio, ia muitas vezes a Vilarinho, onde então tinha os meus pais. Em Espanha, ali numa aldeola fronteiriça chamada Barja, (em galego quiçá se barxa) havia um indivíduo, o Serra, que comprava e vendia diversas coisas entre elas burros, mulos e cavalos. Havia uma vacaria numa aldeia, cujo nome nunca o soube, que consoante os mais velhos se iam reformando, os descendentes não queriam continuar a atividade, pelo venderam as vacas, restando lá uma burra e um cavalo. Ora o Serra, que geralmente era comprador de restos, comprou-os e, enquanto não os vendia, alimentava-os soltos na serra juntos com outros animais. Já o conhecia, ele fazia os seus negócios em Portugal e Espanha, mas tavez mais em Portugal. Ora, como sabia que eu tinha cavalos e que os comprava e vendia, disse-me ‘tenho lá um cavalo que é capaz de t’interessar, o problema é o transporte que é muito longe’.
Fui com ele vê-lo ao monte e de facto não desgostei dele. Perguntada a idade, disse-me que tinha cinco anos; mas, feita a minha inspeção ao bicharoco, verifiquei logo ali que tinha entre e oito/nove, disseram os seus dentes que não costumam mentir. Pareceu-me dócil e com ‘cabeça’ e que ali havia sangue andaluz. Discutimos o preço, ele baixou e eu subi, mas ainda queria que ele baixasse mais, pelo que dividimos a diferença a meio e, assim, eu comprei o animalejo
Regressei a viana e uma semana depois meto os arreios no carro, quatro ferraduras e a ferramenta mínima necessária pró ferrar, eu soube com facilidade o número que o tipo calçava. No entanto, na hipótese de não me deixar colocar as ferraduras nos ‘pés’, que é sempre mais perigoso por causa da cravagem dos cravos, já levava uma câmara d’ar de carro com duas correias afiveladas para me desenrascar pró resto da viagem, que sempre seriam quase duzentos quilómetros. Todavia, como utilizei atalhos pedonais e caminho que não estavam asfaltados os cascos aguentaram bem e não precisei de nada, pois tanto ele com eu chegámos a viana frescos como uma alface.
O Serra tinha um atrelado e veio-me trazer o cavalo a Vilarinho, que foram 5 km. Mas tive um problema com ele: como o tipo estava habituado ao pasto e às carquejas e o resto do monte, não gostava de rações nem de centeio nem de milho nem moído grosso ou fino, pelo que tive de o vir alimentado com o que encontrava pelo caminho.
Como nunca fora desbastado, para ser montado, em vilarinho foram 12 dias de treino de manhã e de tarde. Primeiro fiz-lhe boca, termo hípico que quer dizer direção, andava arriado e com os alforges cheios d’areia que pesariam cerca de 30 kg. Assim, quando o montei a primeira vez já fui acavalo dele pra onde quis. Com efeito, fui ter com o Serra a Barxa que, quando me viu acavalo dele, queria-mo comprar e dava mais 30 contos pra lho vender, que era praticamente o dobro do que lhe dera por ele, mas eu queria fazer a viajar acavalo e por isso não lho vendi.
Por meio dum rádio de bragança, no programa “Tio João”. O jornal de notícias, através do correspondente em Vila Real, soube do meu caso e pegou nele, mas eu não levava telemóvel. Fui entrevistado em Montalegre, ele sabia em casa de quem eu ia pernoitar e tinha lá um amigo dele à nossa espera para nos fotografar e a notícia saiu no Jornal com a nossa fotografia e o referido título “Dom Quixote Trasmontano”. Já em viana, também fui entrevistado e saiu a segunda noticia, agora da nossa chegada.
Depois d’haver pernoitado n’aldeia então nomeada Curral-de-Vacas do concelho de Chaves, hoje errada e complexadamente, Santo-António-de-Monforte, (tive pena que lhe tivessem mudado o nome, pois parece-me que lhe tiraram a graça), aquando na estrada que liga chaves a Verim, na parte d’Espanha e antes do desvio prá direção de Montalegre, encontrei o Serra com um amigo, que vinham à Feira dos Santos em Chaves, por isso em pleno inverno. Parou e, admirado e curioso, veio ver o cavalo e as ferraduras da frente e perguntou como é que eu arranjara o ferrador. Disse-lhe “o ferrador estás a falar com ele”, mas o homem não queria acreditar.
Antes d’alcançar Montalegre, passámos por dois marcos fronteiriços e lá estavam o E. e o P. do respetivo lado. Eram trilhos pedonais planos e foi muito agradável passar por ali a trote, tendo feito, até, uma pequena galopada. No entanto o percurso foi quase todo feito a passo, acavalo e a pé. Claro, vinha sem pressa nenhuma. Vim sem me dar conta que era inverno que não trazia telemóvel e nem sequer a previsão do tempo sabia, sem capa prá eventual chuva, pelo que só depois é que me apercebi no problema em que me poderia ter metido.
O cavalo portou-se lindamente, pelo que tinha diversos compradores pra ele, mas fui-o aguentando. Estava a dar aulas d’equitação aqui num centro hípico dum amigo, que tinha à minha disposição dois cavalos prás aulas e aquele também ficou. Quando saía com os alunos pró exterior dispunha de nove cavalos e um meu, que o vendi logo para dar lugar a este. Porque eu tinha direito a um boxe e à alimentação de um cavalo.
Quando se organizavam por aqui gincanas e eu concorria com ele ganhava-as todas e quaisquer outras provas também, sim, porque na terra onde só há cegos eu podia ser o rei. Claro que não era cavalo pra grandes competições, mas fazia uns saltitos, ladeava bem, mudava de mão a galope curtinho e à minha solicitude e fazia mais umas coisitas que os outros cavalos geralmente não faziam. Fui com ele no cortejo de Carnaval em viana e na procissão das conhecidas grandes festas da Senhora d’Agonia em Viana do castelo.
Depois vendi-o como fiz a tantos outros, aliás, já fora com vista à venda que então o comprara. Por mais que pense, não me consigo lembrar do nome de tão dócil animal. Fora o tratador que lh’arranjara o nome e eu concordei, que por coincidência também é espanhol e de Galiza, casado com uma portuguesa desta zona.
24 fevereiro 2022 / 24 agosto 2024
Nestes últimos seis meses aconteceu alguma coisa muito importante no Mar Negro, que surpreendeu praticamente todo mundo, até então considerado impossível, mas que pode mudar o futuro da guerra do século 21 para sempre desde o início da invasão da Ucrânia pela Rússia. Efetivamente, depois de dois anos de luta em terra, os ucranianos tiveram necessidade d’estender a guerra pró Mar Negro e não foi com pezinhos de lã que lá chegaram:
Alguns dos navios d’Armada russa, ali posicionados prós ataques em terras de Kiyv, não tiveram grande sorte! Os ucranianos durante esses dois anos foram estudando a melhor maneira de resolver o grave problema, tentando arranjar as melhores e mais adequadas ferramentas prá resolução do mesmo, que muito bem as conseguiram. Pelo que, com elas, começaram por eliminar navios uns a seguir aos outros e limpar assim o Mar Negro, encurralando a frota russa pra outro lado mais longe e, portanto, mais resguarda das ferramenta de Kyiv, perdendo assim o controle com que durante dois longos anos vinham infernizando a invadida com acordos e desacordos prás tão desejadas quão necessárias exportações das suas mercadorias, nomeadamente as cerealíferas. Começaram então pelo navio almirante, que pelos vistos era a joia da coroa da monarquia imperial ‘Vladimir Putin’; seguiram-se-lhes Cruzadores, Destroieres, Fragatas e outros navios de grande interesse prá frota russa no Mar Negro; todos modernamente equipados com equipamentos muito caros como, aliás, bem se pode calcular. Todavia, para esta importante viragem haver assim acontecido a favor da martirizada Ucrânia, esta tinha mesmo d’eliminar os referidos navios inimigos e perigosos, perdendo assim a mãe-Rússia mais dum terço dos vasos de guerra da sua frota no Mar Negro; e 4o% de toda esta tonelagem foi pró fundo do Mar, portanto a perda desta parte foi total. Pelo que, em virtude destas perdas catastróficas, refletiu-se logo na Crimeia:
Como resultado dos ataques ucranianos nas bases e muitos outros aquartelamentos militares russos, onde foi destruído muito material de guerra, tendo empresários russos se mudarem para Sebastopol. Mas será que aqui estão a salvo? Sim, porquanto como será o futuro da Crimeia ainda é uma incógnita.
Os ucranianos da linha da frente e a centenas de quilómetros de distância, destruíram os sistemas de comando e controle radar instalados numa plataforma ao largo do Mar Negro. No interior da Crimeia também tudo se modificava, deixando de ser o que Putin em geral afiançava.
E assim foi a frota naval da Rússia no Mar Negro derrotada por um país que não possui um único navio, nem sequer uma lancha! A região da península da Crimeia é, de facto, uma região muito apetecível. Mas então aquela zona de Sebastopol é duma beleza natural de realçar. Sebastopol é uma pequena região da Crimeia pertencente à Ucrânia, que tem uma pequena cidade com o mesmo nome e outra ainda mais pequena. Com a invasão da Crimeia, em 2014, passou a ser administrada pela Rússia, ficando situada a 1.275 km ao su-sudoeste de Moscovo e a 690 a sul-este de Kiev. Administrativamente, depois da sua anexação feita pela Rússia, a cidade de Sebastopol passou a constituir a 3ª cidade de maior importância da Rússia, logo a seguir a Moscovo e Sampetersburgo….
***
Agora, relativamente à incursão na Rússia pelas ousadas tropas de Kiev no dia 06 d’agosto, passadas que foram três semanas, as notícias prá Ucrânia estão sendo muito boas. Em primeiro lugar, a seguir aos ataques sigilosos e bem coordenados nas profundezas da Rússia, Kyiv deve desmontar a propaganda falsa em que os russos são grandes peritos, sendo uma das sua principais armas de ataque…
Tenho vindo a ouvir muita narrativa isenta e com enquadramento detalhado, todavia necessita de ser mais atualizada prós últimos avanços da heroína Ucrânia depois da incursão e invasão de Kursk e os avanços tecnológicos dos peritos concretizados na sua prática pelos heroicos soldados ucranianos; refiro-me aos drones fabricados na Ucrânia e que, mediante tantas hesitações dos apoios ocidentais, foram e serão sempre uma mais-valia importante, quiçá mesmo determinante nesta guerra que já se prevê muito longa.
Com efeito, a rápida evolução da sua tecnologia, alcance e armamento, dão-lhes um valor estratégico capaz de transformar uma guerra de resistência longa, num fator d’implosão do próprio regime russo a curto ou médio prazo. Isto ficou demonstrado com o drone-foguete ucraniano ao rebentar com refinarias, aeroportos e depósitos de munições, e tudo bem no interior da Rússia, destruindo-lhe o seu principal ativo: o petróleo que deixou de ser exportado para começar a ser importado!...
Para além disso, outro grande elemento das exportações soviéticas eram a venda d’armamento militar, que despencou simplesmente devido às provas da sua falibilidade e ineficiência nos campos de batalha! Até mesmo a exportação de mercenários foi posta em causa recentemente no Mali e pela necessidade de recuperar carne pra canhão para enfrentar as Forças Armadas Ucranianas, apesar d’estas estarem em muita desvantagem numérica, talvez um para cinco e algumas vezes dum pra seis.
Não há dados fiáveis das baixas militares, todavia se crê que as ruças tripliquem as ucranianas; já em relação às baixas civis as ucranianas são muito mais elevadas e isto por duas razões: uma são deliberadamente atingidas e a outro porque a guerra tem-se vindo a desenrolar só no território ucraniano; mas isto acontece porque o Ocidente deixou muito tempo a Ucrânia sem poder fazer nada de mãos atrás das costas atadas. Todavia, se assim não fosse, talvez a guerra já tivesse acabado. Porém, se conseguirem empurrar as tropas russas pró seu território, os civis russos passarão a contar também, já que Putin não tem pejo em abater os seus-próprios cidadãos se com isso obtiver ganhos! Já não seria a 1ª vez que o fez. Com efeito, fê-lo num país africano, já não me recordo qual, mas sei que dizimaram uma companhia de militares russos de cento e tal homens pra justificar os horrorosos crimes que a seguir pretendiam praticar – e praticaram-nos!…
Esta guerra d’agressão da Rússia grande à menor mas grande Ucrânia e na Ucrânia, acabe como acabar, há sempre dois enormes perdedores, e em tempo algum haverá ganhadores, tirante a China e a miserável Coreia do Norte: o primeiro grande perdedor, infelizmente, é a Ucrânia, e o segundo é o povo russo que, outrossim infelizmente, vive numa completa escuridão política e económica, da qual não se libertará enquanto Putin conseguir vestir as calças e, mesmo depois, dependerá de quem lhe vier a suceder no trono...
Qualquer uma das duas partes nem daqui a 20 anos recuperará o perdido. Tenho pena, mas também orgulho da Ucrânia e dos que por ela tombam por culpa dum ladrão medroso, assassino e sem coração!... Tenho pena do povo russo, que está sendo atirado, sem qualquer pudor, prá morte e prá miséria sem nenhuma necessidade!
De Brinquedos a Assassinos
Os drones são comparativamente baratos e quiçá por isso sejam bastante utilizados nos dois lados dos conflitos, mas outrossim por serem muito letais, pois parece que estão a mudar potencialmente a guerra d’agressão da Rússia à Ucrânia. Convém aqui explicar ou pelo menos tentar, o efeito que estão a ter nesta prolongada guerra, que já vai a mais de meio do terceiro ano! Eles têm o condão de fazer milagres nas mãos de ambos os lados, mas sobretudo nas dos ucranianos. Podem descolar de pequenas rampas, simples e improvisadas e causar avultados prejuízos materiais, embora não duma só vez. Todavia, relativamente ao seu baixo custo, podem ser lançados em mais quantidades e assim avolumar os estragos materiais do inimigo; todavia, sobretudo, são causadores da numerosidade de baixas humanas. Eles estão a ter uma valência muitíssimo importante prós ucranianos principalmente na região de KursK. Efetivamente, todos os dias morrem uma média de 100 inimigos pelos efeitos diretos daquela temível arma nesta guerra de agressão da Rússia à Ucrânia. Com efeito, aqueles minúsculos aviões, sem piloto presente, tem a vantagem de poupar a vida d’alguns pilotos d’aviões de combate – ao ser substituído o seu trabalho por estes passarinhos inteligentes e bem-mandados, que obedecem sempre ao seu dono, a menos que sejam abordados antes de chegarem ao seu destino para cumprirem a sua incumbência. De qualquer maneira, quando não lh’aparecem intrusos ao seu caminho, estes pássaros perseguem o seu objetivo que, por bem armado que estiver; quando assim é e se se tratar de ser humano, instala-lhe a morte – fuja ele pra onde fugir. Portanto está provado que morrem mais pessoas com o efeito dos drones do que com as bombas dos aviões, incluindo os pilotos destes quando abatidos ou por qualquer outro motivo aterrarem sem controle…
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É impressionante como Moscovo recebe o maior ataque aéreo da Ucrânia. Enquanto o Mundo observa com incertezas, a Ucrânia deu um audaz passo que ninguém esperava. Numa noite em que o silêncio foi interrompido pelo rugido dos drones, Moscovo foi convertido num dos cenários dum dos ataques mais impactantes deste o início do conflito. Quê significa este movimento pró futuro da guerra? Como responderá o Kremelin perante uma ofensiva desta magnitude?
O conflito entre a Rússia e a Ucrânia intensificou-se consideravelmente. De facto, num recente acontecimento, a dinâmica da contenda russo-ucraniana deu uma volta significativa aquando da Ucrânia lançou uma ofensiva inesperada introduzindo-se no território russo. Esta ousadia ucraniana caraterizou-se principalmente pelo uso de artilharia e drones, sendo nítido testemunho duma viragem notável. A Ucrânia experimentou um importante ataque com drones de fabrico ucraniano, marcando assim um dos incidentes com maior envergadura desde o começo das hostilidades em fevereiro de 2022. À noite a Ucrânia executou um ataque massivo com drones contra a Rússia, marcando um acontecimento significativo no conflito em curso. Este ataque em território russo foi duma envergadura significativa, comparável à escala das invasões estrageiras durante a 2º guerra mundial.
O líder russo, Vladimir Putin, mostrou-se comocionado pelo maior ataque com drones sobre a sua capital, desde o início da guerra que desejou e fomentou na Ucrânia. A última missão dos drones ucranianos, levou ao coração da Rússia, em Moscovo, um grande pânico. Durante a noite o ministro da defesa russo informou da neutralização de 45 drones ucranianos por parte da unidade de defesa antiaérea do ministério da defesa, confirmando que faziam parte dum plano mais amplo dirigido contra a Rússia. Em concreto dizem ter eliminaram 11 drones sobre a região de Moscovo; 23 na região fronteiriça de Briansk e seis na região, também fronteiriça, de Belgorod. Durante a noite as forças de defesa aérea neutralizaram com êxito três drones na fronteira de Briansk, segundo anunciou o governador da região de Kaluga, Vladislay Saapsa, que deve ter anunciado consoante lhe foi autorizado que anunciasse.
Os meios de comunicação russos difundiram imagens, não verificadas, dos drones que se infiltraram de madrugada na região de Moscovo e foram neutralizados posteriormente pelo sistema de defesa antiaérea segundo informação do ministério da defesa russo, que vale o que todos sabemos! Que os drones foram laçados podemos acreditar, agora os que foram abatidos nem o Vladimir Putin sabe e, se calhar, nem o próprio ministro da defesa russa tem conhecimento concreto: O medo dos superiores e de Putin, leva os comandantes das linhas da frente a mentir, que podem inflacionar as destruições. Por outro lado, são sempre os destroços que destroem as refinarias – os destroços dos pássaros, vejam só –.
O presidente da câmara de Moscovo, Sergei Sanin, informou da interceção, com êxito, de vários drones na cidade Podolsk; esta cidade, da região de Moscovo, está situada a cerca de 38 km a sul do kremlin.