Adelino Martins

Adelino Martins

Aventuras dum marujo dos confins de Trás-os-Montes - Última parte.

Embora não tivessem acabado as aventuras, não tencionava escrever mais sobre este tema. Contudo, encontrei a última carta que da inglesa recebera a reforçar o meu o despedimento, que m’encorajou a ir até ao fim desta história real. A missiva, que foi recebida já no meu Vilarinho, comigo fora da Marinha, rezava assim:

(London,1968 – December-19 – Dear Adelino: – It worms me knowing you’re home for Christmas, with people who love you and who you love, even though it still stings a tiny bit thinking back about how we talked about a cosy Christmas together in Lisbon. I’d be lying if I say I hope you find someone to finish the bucket list with you, but I do sincerely hope you find someone amazing. You say, you look for excitement, but I think at least a part of you is really looking for someone to love. Maybe all travellers are (I don’t mean tourist). We don’t know your destination yet, but whether or not it’s faraway, please get there safe. And I’ll see you again on the way someday. I’m optimistic about that. Let’s move on without forgetting the adventure we’ve had that I still doubt to have been a dream until today. Merry Christmas Adelino – yours truly). Não a traduzi pra desanuviar e conservar a originalidade.

Devido à hidrografia, atracávamos ou fundeávamos em diversos lados. Numa base inglesas, já referido no 6º parágrafo da 2ª parte, estivemos duas semanas. Aqui, o cabo art. Almada e o sarg. ajudante artífice, Calçada, foram a uma danceteria de mulheres sem os maridos – e deixaram-se engatar por duas…. Eram 04.30 quando aparecem a bordo cada um com a sua. O Calçada, o mais novo e o mais antigo dos sargentos, entrou na camarata e berrou: “quem manda aqui sou eu” e correu com eles, ficando tudo por conta dos dois e suas girlfriends, até às 15.30!

Com o navio embandeirado em arco e o convés aperaltado pra um briefing nesse dia a partir das 20.00, com comes e bebes servidos em pé, foram convidadas entidades, onde, na qualidade de cmte. da base onde estávamos atracados, vinha o marido da do sarg., a captain-of-sea-and-wor. Ela quis apresentar o Calçada ao Marido, e este fez questão de saber onde tinham pernoitado – pelo que foi conduzido ao camarote do comte.!... Depois, o comte. inglês, aquando ia receber as honras militares de despedida ao portaló, agradeceu-lhe por ter dispensado o seu camarote à sua esposa…! Ora, como ele pernoitara fora essa noite, ficou ciente de que tinham lá dormido. Pelo que, na 2ª feira, (estávamos num sábado) mandou chamar o sarg. que, na sua defesa, lh’explicou tudo….

Ela preferiu sair com o engate, argumentado ao marido que ia descansar. Foram no carro em que tinham vindo. Ela fez questão que fosse o seu engajado a conduzir, contudo, como o trânsito ali é pela esquerda e as mudanças eram automáticas, quem levou o atualizado mercedes foi o aliciado da outra, com ela ao lado – e o outro casal no banco de trás engalfinhado! A do cabo, que era divorciada, sem compromissos e não das de botar fora!… Aquele, que era solteiro e também ele sem compromissos, começou a pensar coisas.... Pediu o destacamento, dizendo que ia requerer a baixa, a fim d’ir trabalhar pra Inglaterra, desconhecendo-se o desfecho final.

Por sua vez, no sábado seguinte, o comte. inglês organizou uma festa na Base, pra oficiais da sua guarnição e da do nosso navio. Entre os convidados, vinham doze raparigas soltas, aparentemente trintonas, deduzindo-se logo que vieram numa boa… com vista aos oficiais do “João de Lisboa”! O navio, pelo facto da hidrografia, tinha mais oficiais do que a lotação. Entre estes, só o que estava de serviço é que dormiu a bordo. Quando, porém, soube da fartura de raparigada e das aventuras dos colegas, ficou com pena por não ter podido ir. Eu estive 23 meses a bordo e os últimos 19 fui impedido dos oficiais; por isso ouvia conversas entre eles, mormente na câmara – que era o salão de refeições, de visitas e de repouso.

As licenças de 2ª a 5ª eram até à 01 hora, exceto pra quem estives autorizado a pernoitar fora; mas de 6ª a 2ª não havia hora de regressar. Uma noite em Ferrol, em que saíra só, perdi-me. Aqui uma rapariga aparentemente bem jeitosa: – “At first, I gev your pardon, but I wish you a good night! I have seen you’re lost! Then, what can I do for you? I’ll be happy to helpe everyone who needs” E logo: “Yo por un marino como tú me daria todo y todo yo lo haria….” Mal abrira a boca, percebi logo que era espanhola. Não só confiei nela, como ia todo envaidecido, mas também um pouco comprometido, achando-a sorte a mais pra mim de supetão ali assim. Perguntei-lhe porquê, sendo espanhola, me falara em inglês? Disse que pensava que eu não a entendesse, criando um cenário em que lhe seria mais fácil entabular conversa comigo. Entre outras coisas, disse-lhe que estava a ser mui simpática. Ficou radiante, dizendo que estava ansiosa pra meter conversa comigo. Deixei-me conduzir por ela. As pessoas olhavam muito pra nós. Claro, um mero marujo raso de mão dada com uma brasa daquelas, pensei eu; contudo e pelos vistos, não pensei bem! Eles já conheceriam a brasa, que afinal era um embuste braseiro!...

Perguntado, disse-lhe a minha idade certa, enquanto ela alegava que fizera no mês passado 19. Parecendo-me mais velha, pedi-lhe pra me mostrar o documento identitário: Começou a rebuscar na mala, como se tivesse lá guardado os 19 anos. Entretanto, desviou-me pra outra rua e convidou-me a ir lá a casa dos seus pais que, segundo ela, estavam o fim de semana fora. Começámos ali a agarrar-nos e ela a querer-me logo beijar intimamente, mas eu desviava-me a boca, ora prá esquerda, ora prá-direita! Entretanto, embora comigo de pé atrás, entrámos. Mostrou-me a casa, um duplex de luxo no rés-do-chão com jardim e piscina, apresentou-me a uma irmã. Esta, a sós, perguntou-me se eu era gay. Disse-lhe que não. Aqui ela questionou-me se gostaria de dormir com um. Disse-lhe decidida e redondamente que não. Depois de, também eles, terem conversado, a sós, ele pegou na mala, despede-se de nós com um beijo: – “Me voy por ahí mirar si cojo alguno que se quiéra acostar comigo, como tu lo vas a hacer con mi hermana”. E lá foi ele, ansiosamente d’artola, ao engate novamente!

 Quedei ali dividido entre atrapalhado e contente, confessando aos leitores deste jornal, que paguei bem caro esta dormida especial! Dormida?! Qual dormida nem qual carapuças!!! Nem sequer preguei olho toda a santíssima noite! Mas é claro que quem anda à chuva molha-se! Chamei artola ao outro, contudo, quem foi ali o verdadeiro artola fui eu! Perdido o medo, o que me valeu foi a língua e o dedo…. Era daquelas que nunca se satisfazem, quiçá por saberem que existe o orgasmo e, até, já o terem obtido, porém terem muita dificuldade pró conseguir, mas sempre com grande prazer ativo e quase infinito, escrevo eu. Assim, avaliando por mim, não há homem que as satisfaça! E, neste caso, ainda pra mais uma trintona danada, enfim, daquelas d’encher o olho logo à primeira mirada! … Eu já só queria libertar-me dela! Não! Não vou pormenorizar, todavia, garanto que sofri muito naquele dia d’azar! Enquanto pra ela, segundo ela, foi a melhor noite da sua vida!... Queria-me a passar o domingo com ela, mas eu, depois dum pequeno-almoço ajantarado, argumentei que tinha d’estar a bordo às 15 hora sem falta. Fomos prá sala, demos uma queca e eu tive um orgasmo estonteante! Depois ela queria a língua, mas teve de se contentar com o dedo a mexer no sítio certo. Por fim, foi-me levar ao navio, numa bruta máquina descapotável!!!

A seguir, nas Canárias, fomos oito a uma discoteca. Dois envolveram-se com duas raparigas bem jeitosas, pelo que, depois dumas danças e uns copos, começaram os apalpões com beijocas à mistura! A comunicação era boa, mesmo falando cada um no seu idioma. Diziam ser dali-mesmo, ter acabado a licenciatura em direito, que viviam juntas e estavam a estagiar num escritório d’advogados. Lá seguiram um grumete e um marinheiro, cada um com a sua. Incumbimos o conhecido Tobias – de tirar o boné e segui-los, a fim de ver em que porta entravam; e isto porque desconfiámos que se poderia tratar d’algo menos comum. Dizia-no-lo a minha infeliz experiência

Ficámos por ali perto, a modo de sentinela; vimos acender e apagar luzes, ouvimos uns barulhos inusitados, imaginando que lá dentro estaria perto d’haver peleja. Então, fomos à volta e entrámos na residência de supetão, deparando-os em preparos prá luta de dois pra dois, concretizando-se a dúvida de que se tratava de gays! Dominámo-los! Mas um dos nossos que, valendo pouco, era uma cegueira quando tinha as costas quentes a atirar achas prá fogueira, pelo que teve d’arcar com uma chapada. Eu já era gato escaldado desde que mas tecera o diabo, embora doutra maneira.

(Fim)



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