Barroso da Fonte

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Afonso Henriques e Nuno Álvares Pereira:

Unidos pela santidade e pela história no dia de Portugal

Este mês de junho está a enobrecer a comunidade da lusofonia com factos que cheiram ao perfume dos 900 anos da sua «primeira tarde Portuguesa».

Após alguma acalmia política interna, o país deu sinais de estabilidade social que se espera retome a normalidade, que o meio século democrático anterior agitou. Cá dentro quase se esfregam as mãos de contentes, enquanto lá fora, em quase todos os continentes, as guerras se multiplicam, gerando focos de crescente receio que veio, sobretudo, desde que a Rússia e a Ucrânia se transformaram em matadouro universal, como se as pessoas fossem frangos de aviário.

O mês de junho trouxe-nos esta primavera lusitana que nos remete para datas históricas, iniciadas pela substituição do Papa e pela serenidade e proteção divina que, desde há 9 séculos, nos acompanha e nos alenta nos maus momentos. Escrevo esta reflexão filosófica que agrega a história do país, que nasceu nos Campos de S. Mamede, em Guimarães, em 24 de Junho de 1128, numa renhida contenda entre Afonso Henriques, apoiado pela nobreza portucalense, e sua mãe D. Teresa. Foi desta velha contenda que, nas imediações do Castelo da Fundação da nacionalidade, o infante Afonso Henriques legitimou a divergência entre o projeto independentista do pai - Conde D. Henrique - e a sua mãe, “rainha” viúva D. Teresa, que era apoiada pelos galegos irmãos Trava.

Pelo facto de ter-se auto-proclamado Cavaleiro na Catedral da Zamora, em 8 de Junho de 1125, Afonso Henriques reunia as exigências formais daquela época para ser reconhecido como líder do Condado, após a vitória na batalha de S. Mamede. É neste contexto que no dia 8 de junho ocorreu, na catedral de Zamora, a cerimónia comemorativa dos 900 anos dessa investidura histórica. O acontecimento foi organizado pela Associação Grã Ordem Afonsina, sediada em Guimarães, onde se pressupõe que o Infante Afonso Henriques nasceu e a família tinha residência. Na véspera dessa efeméride, a Grã Ordem Afonsina ensaiou uma deslocação a Zamora, participada por novecentos cidadãos que, a cavalo, de moto e de transportes de todos os tipos, marcassem presença nas cerimónias alusivas à data. A referida instituição promotora e várias outras, irmanadas pelo mesmo simbolismo, concentraram-se no Centro Histórico de Guimarães, onde decorreram várias intervenções alusivas ao ato histórico que terminou com um sarau musical liderado pelo maestro Vitorino de Almeida.

Coincidências temporais ocorreram na 2ª semana de junho.

1- Alguns séculos depois do Rei Fundador, Nuno Álvares Pereira, Condestável, pio, beato e santo, deve considerar-se a figura humana mais marcante da história de Portugal. Não haverá muitos países que, além dos seus fundadores, se vangloriem de uma segunda figura universal com tamanha dimensão histórica e simbólica.

É neste contexto que no Dia de Portugal, a Junta de Freguesia de Pedraça, concelho de Cabeceiras de Basto, teve a feliz ideia de inaugurar uma estátua ao Condestável Nuno Álvares Pereira, que nasceu em Cernache do Bonjardim, a 25 de junho de 1360. Casou em Vila Nova da Rainha, no ano de 1376, com D. Leonor de Alvim, nobre senhora nascida em Reboreda, freguesia de Salto, dona das Terras de Basto, que acabara de ficar viúva. Após o casamento foram viver, durante cerca de 4 anos, para a Casa da Torre, em Pedraça, que fora propriedade do marido de Leonor de Alvim, Vasco Gonçalves Barroso e que foi o cidadão mais rico das zonas de Barroso, de Basto e suas redondezas.

A estátua de Nuno Álvares Pereira, também conhecido por São Nuno de Santa Maria, que foi santificado pela Igreja Católica em 2009, está situada num novo espaço ajardinado, oferecido pela doutora Margarida Barbosa, actual proprietária da Casa da Torre, localizada nas imediações e onde D. Nuno viveu durante cerca de 4 anos, após o casamento.

A doutora Margarida Barbosa editou, em março último, um livro intitulado «Casa da Torre - Recantos e Retratos», com dois prefácios: o primeiro assinado pelo Presidente da Assembleia Municipal, Joaquim Barreto, e o segundo pelo Presidente da Junta de Freguesia, João Luís Mouta. Ambos e mais o presidente da Câmara, Francisco Alves, marcaram presença neste ato histórico, que é uma espécie de aquecimento para as celebrações dos 900 anos do nascimento de Portugal, a realizar em 24 de Junho de 2028.

De facto, o enriquecimento com esta muito viva e sugestiva escultura artística do nosso São Nuno de Santa Maria, implantada junto do chão sagrado da Casa da Torre, em que viveu, preenche um vazio que tardava no coração do Condado Portucalense. Pedraça fica a meia hora do Paço dos Duques de Bragança e do Castelo da Fundação e do território de entre Douro e Minho, onde Afonso Henriques nasceu e se começou a construir uma das mais antigas nações da velha Europa.

2- Dia 10 do corrente, a Comunidade Lusófona celebrou os 900 anos do ato fundacional que foi a auto-aclamação do infante Afonso Henriques, como Cavaleiro, no dia de Pentecostes de 1125. Portugal, através da Grã Ordem Afonsina e outras instituições, voltou à Sé de Zamora, em caravana motorizada, associando-se à celebração da efeméride. Foi uma romagem histórica que levou ao local religioso castelhano 900 cidadãos aderentes, em todo o tipo de transportes.

3- Finalmente, mais uma nova estátua de Afonso Henriques foi inaugurada, no último dia 13, em Ponte de Lima. Mónica Mota Lopes, autora na nova escultura sobre o primeiro Rei Português, declarou que cada distrito de Portugal «deveria ter uma obra destas». Nesse ato solene e muito público, além de outras personalidades de renome, participou o ex-deputado à AR José Ribeiro e Castro, que acabara de participar nas comemorações da investidura de Zamora.

Em 24 de Junho de 2028, daqui a três anos, Portugal vai festejar os 900 anos do seu nascimento. Esperemos que até lá consigamos estar à altura deste enorme legado histórico, que mudou a história mundial há 500 anos atrás com os Descobrimentos.

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