Os aniversários são marcos indesmentíveis, ou, como diz o dicionário Âncora, não se podem desmentir. Nos meses de junho e de julho últimos, por razões várias, ocorreram, além dos convencionais, outros que colidiram com atos políticos, casos das eleições legislativas; outros por causas casuísticas, como a inauguração, na Freguesia de Pedraça, Cabeceiras de Basto, de uma escultura do Condestável Nuno Álvares Pereira; e outros, por registos de caráter celebrativo como esta nota de leitura que o aniversário do Notícias do Douro merece. Parabéns ao seu proprietário e diretor que, apesar dos maus tempos e das crescentes dificuldades tem resistido às intempéries ,a começar pela falta de leitores e anunciantes.
Cada país tem, tal como as pessoas, um dia próprio para comemorar o seu aniversário. Do mesmo modo as nações. Esse espaço de tempo, nós, como todos os povos que têm história, festejamo-lo como herança de todos os atos ocorridos, para lá chegarem. Ainda ninguém, em milhões de anos, acertou a distância de tempo, de modo e de fim, desta sobrevivência, por que todas as gerações já passaram e vão continuar a passar.
Estamos a três anos de distância do 9º centenário do nascimento de Portugal, que aconteceu em 24 de junho de 1128, na sequência da vitória de D. Afonso Henriques na Batalha de S. Mamede, junto ao Castelo da Fundação, em Guimarães, sobre as forças de sua mãe, apoiada pelos nobres galegos que queriam controlar o destino do condado portucalense, após a morte do seu marido, o Conde D. Henrique. Nesse dia teve início a definição do território que é hoje Portugal.
Recuamos para o 4 de Junho de 1920, em que foi publicada a Lei n.º 983, considerando feriado nacional o dia 10 de Junho de cada ano. Mas a escolha do dia de Portugal remonta à morte do nosso maior épico, Luís de Camões, em 10 de junho. Simplesmente nos anos 20 do século passado vivia-se um tempo anarquizado e de guerra, com pandemias devastadoras, e milhões de mortos e feridos da Primeira Grande Guerra.
Só em 2 de março de 1978, pelo Decreto-Lei nº14/1978, já com Mário Soares como 1º ministro se entendeu revogar o Dia da Raça, que foi suporte ideológico e moral aos militares dos 13 anos de guerra do Ultramar. Nessa altura o 10 de junho passou a chamar-se «dia de Portugal, de Camões e das Comunidades», revogando o dia da Raça. Ainda lhe anexaram o «Dia da Universidade Aberta».
O 10 de Junho, afinal, ficou órfão, porque: com a explosão de Universidades, Escolas Superiores, Politécnicos; com a construção do Monumento aos mortos do Ultramar que bem mereciam um dia específico, o poder político deveria centrar o dia de Portugal numa data consensual: o 24 de Junho da «primeira tarde Portuguesa». Não seria mais um feriado, nem um dia santo. Bastava o Parlamento extinguir o 10 de Junho, trocando-o pelo dia 24 do mesmo mês. Tal troca acabará com as muitas divergências, até porque ainda não se conhecem, com fidelidade, o local e a data do nascimento e morte do autor de Os Lusíadas. Porto, Braga e outros concelhos que celebrem o S. João, ficariam na mesma bem servidos. E os empresários que pagam os dois feriados em 10 e 24 de junho agradeceriam.
Mas há mais um fator que seria de celebrar nesse dia: o nascimento de São Nuno de Santa Maria, que esteve na origens da Casa de Bragança. O maior guerreiro Português, ombreando com Afonso Henriques, este undécimo filho do Prior do Crato, Álvaro Gonçalo Pereira, nasceu em dia 24 de junho de 1360. Foi um dos últimos santos Portugueses, canonizado em abril de 2009. Curiosamente, neste último dia 10 de junho, a Junta de Freguesia de Pedraça, do concelho de Cabeceiras de Basto, inaugurou uma escultura artística do Condestável, nas imediações da Casa da Torre, onde D. Nuno Álvares Pereira viveu durante cerca de quatro anos, após as núpcias com Leonor de Alvim, uma jovem e bela e graciosa barrosã, do concelho de Montalegre, e herdeira da maior fortuna da região. A inauguração da nova escultura em Pedraça contou com a participação festiva da população local, bombos e fanfarra, e um simpático almoço volante nos jardins da Casa da Torre, que abriu as portas àqueles que estiveram presentes neste ato nacional. A concretização de um desafio do presidente Junta de Pedraça, João Luís Mouta que surgiu da nossa parte, numa reunião de 12 de Abril de 2024, na Casa do Tempo de Cabeceiras de Basto.
Praticamente os mass media nacionais, silenciaram esta inauguração, que devolveu aos nossos dias, duas grandes figuras humanas da história de Portugal: D. Nuno de Santa Maria e sua esposa Leonor Alvim.