Vila Real distingue Alexandre Parafita e Ribeiro Aires
Pouco e louco para quem merece mais
No passado dia 20 de Julho, integrado nas comemorações do Centenário da elevação a cidade de Vila Real, Alexandre Parafita e Joaquim Ribeiro Aires foram homenageados pelo município. Foi preciso o ex-presidente da Câmara de Vila Real sair desse cargo, para deputado da Assembleia da República, para distinguirem dois dos mais produtivos e fecundos escritores do distrito de Vila Real, onde produziram literatura abundante e de caráter cientifico, seja no campo da antropologia, da monografia ou das áreas do misticismo, em que a Região Transmontana é riquíssima.
A notícia acaba de chegar-nos pela Academia de Letras de Trás-os Montes. E de imediato a proclamo, porque os meus quase setenta e três anos de jornalismo, dos 86 de idade, sempre em defesa dos Transmontanos, exigiam que abordasse este tema.
Abracei esta aposta em 30 de Junho de 1962, dia e ano em que, nos primeiros Jogos Florais (do movimento Setentrião), me foi atribuído o primeiro prémio de reportagem, no valor de mil escudos, que nessa altura me deram para ânimo para, na Toca da Raposa, convidar para jantar: o João Granja da Fonseca, o Padre Albano Silva e o saudoso Padre Maximino Barbosa de Sousa. Tenho comigo as assinaturas dos três, na brochura que a organização distribuiu aos presentes no Teatro Avenida, na sessão de entrega dos prémios.
Essa data foi uma satisfação que marcou a minha tendência para a organização de jogos florais em Chaves, Montalegre, Guimarães, Vila das Aves, Vizela e nos quinze Encontros Nacionais de Poetas realizados entre 2000 e 2015. Foi por essa altura que retomei o jornal nacional Poetas & Trovadores que ainda paira na cabeça de inúmeros autores e artistas plásticos que colaboraram, leram, arquivaram e mencionam, como se ainda perdurasse. Esse periódico, que existiu durante 35 anos, entre 1982 e 2015, deu espaço, voz e visibilidade ao mundo dos poetas lusófonos que muitos jornais nunca publicariam por não fazerem parte da “elite cultural” estabelecida.
Escrevo este naco de leitura na tarde do dia em que - finalmente - dois autores Transmontanos, do melhor que temos no universo da lusofonia, mormente o distrito onde nasceram e ensinaram a vida inteira, desde que nasceram, até ao fim do primeiro quarteirão do século XXI. É por isso que, como quarto outorgante da Academia de Letras de Trás-os-Montes, com sede em Bragança e com uma direção que sabe o que faz e me fez chegar a notícia nos seguintes termos:
«É com grande honra que partilhamos a notícia da atribuição da Medalha de Prata de Mérito Municipal aos nossos estimados associados Alexandre Parafita e Joaquim Ribeiro Aires, no âmbito das comemorações do Centenário da cidade de Vila Real, celebrado no passado dia 20 de julho de 2025. A Câmara Municipal de Vila Real distinguiu personalidades que se notabilizaram pelo seu contributo cívico, cultural e académico para a cidade e para a região. Entre os homenageados, destacamos com especial orgulho dois membros da nossa Academia de Letras de Trás-os-Montes: Alexandre Parafita – jornalista de reconhecido mérito na imprensa regional e nacional, escritor de vasta obra na literatura infantil e tradicional, docente no Liceu de Vila Real e mais tarde na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD); e Joaquim Ribeiro Aires – historiador dedicado à memória viva de Vila Real, antigo docente da Escola de São Pedro, jornalista e subdiretor do jornal Notícias de Vila Real e autor de várias obras sobre a história local. Felicitamos calorosamente ambos os homenageados por esta distinção justa e merecida, que muito enobrece a ALTM e fortalece os laços entre a nossa Academia e a cidade de Vila Real.»
Como sócio fundador da Academia de Letras de Trás-os-Montes e de ex-presidente do Conselho Fiscal na terceira direção da Academia, subscrevo este aplauso à Câmara de Vila Real. E só lamento que a mesma cidade, mas com políticos diferentes, não tenha louvado boa meia dúzia de outros Vila-realenses, como, por exemplo: o Monsenhor João Parente e o seu irmão Salvador Parente, Silva Gonçalves, Natália Marinho Ferreira-Alves e outros que, neste momento, não consigo recordar. Certo é que Vila Real foi viveiro de vários e sóbrios escritores, artistas e personalidades de proa e outras que a história perpetua, como é o caso de Carvalho Araújo.
Alexandre Parafita e Ribeiro Aires mereciam esta distinção, pela vida profissional, social, familiar e cívica que construíram. Um exemplo claríssimo que envergonha tudo e todos é o de João Parente, que nasceu há 93 anos em Águas Santas, freguesia de São Tomé do Castelo, Vila Real, a 13 de maio de 1932. Completou o curso de Teologia no Seminário de Vila Real em 1957 e, mais tarde, licenciou-se em Teologia na Universidade Católica do Porto. Exerceu diversas funções pastorais, incluindo a presidência da Comissão Diocesana da Catequese. A obra que produziu, quer para a sociedade Vila-realense, quer para a cultura portuguesa, quer em outros domínios, deverá entristecer quem ao longo de 93 deu tudo e a todos. No mínimo merecia que o seu nome figurasse no museu que criou e ofereceu graciosamente aos atuais e futuros concidadãos.
Como decano dos jornalistas Portugueses felicito, vivamente, este reconhecimento. Pelo seu enorme contributo intelectual em prol da região, Alexandre Parafita e Ribeiro Aires mereciam esta distinção e muito mais.