“Mãos que fazem Bisalhães” é uma exposição de fotografia, peças de barro negro e vídeos que abriu ontem, em Vila Real, e faz um tributo aos oleiros que mantêm viva esta arte classificada pela UNESCO há cinco anos.

Foi a 29 de novembro de 2016 que o processo de confeção e cozedura da olaria negra de Bisalhães foi inscrito na lista do património cultural imaterial que necessita de salvaguarda urgente da UNESCO.

Para assinalar os cinco anos de classificação, a Câmara de Vila Real inaugurou na segunda-feira, no Museu da Vila Velha, a exposição “Mãos que fazem Bisalhães”, que tem a curadoria do Museu do Douro, com sede no Peso da Régua.

Mara Minhava, vereadora da Cultura da Câmara de Vila Real, afirmou hoje à agência Lusa que o objetivo é “homenagear os oleiros” que ainda “mantêm viva a tradição do barro negro de Bisalhães”.

O diretor do Museu do Douro, Fernando Seara, destacou “o tributo” aos artesãos e salientou que “as mãos dos oleiros de Bisalhães são o testemunho vivo da transformação alquímica dos elementos presentes no barro preto”.

A exposição quer dar a conhecer na primeira pessoa a relação de cada oleiro com a arte do barro negro. Para o efeito, os técnicos recolheram as histórias de vida e selecionaram as peças que estarão expostas.

Cada um dos núcleos expositivos é dedicado a um oleiro com atividade documentada, testemunhando aspetos da sua vida e contexto familiar, associando-os a peças, objetos e imagens (fotografias e vídeos).

“As mãos de Bisalhães têm uma história, um percurso dentro da comunidade que se deve conhecer para melhor salvaguardar a arte. Mostram que os objetos de nada valem sem as pessoas e o conhecimento que acumulam”, refere o catálogo da exposição.

São seis os oleiros com atividade documentada e que, conjuntamente com as suas famílias, participaram neste projeto, um número muito inferior às dezenas de artífices registadas em meados do século XX.

Albano Carvalho tem 88 anos, Cesário da Rocha Martins tem 85 anos e o irmão, Manuel da Rocha Martins, tem 89 anos, Querubim Queirós da Rocha tem 80 anos, Jorge Ramalho tem 53 anos e Miguel Fontes 42.

Aos oleiros juntam-se as suas mulheres, filhos e uma rede de parentesco dentro da aldeia que se estende por várias gerações. Esta é uma arte que tem sido transmitida de geração em geração.

Também na segunda-feira é inaugurada a exposição “Traz, Zás, Taz! – vamos ver como o oleiro faz” que conta com trabalhos realizados por crianças do concelho no ano letivo 2020/21.

Mara Minhava referiu que se pretende “sensibilizar, também, os mais jovens para a necessidade de valorizar esta arte ancestral”.

“O valor histórico da olaria de Bisalhães, símbolo de cultura local, cuja ancestralidade está documentada num modo único de fazer, é hoje um património que é de todos e pelo qual temos de lutar, começando por melhorar as condições de trabalho dos oleiros, dar-lhes visibilidade, contribuindo para cativar outras gerações para a aprendizagem dessa arte milenar”, salientou Fernando Seara.

Para o diretor do Museu do Douro, esta olaria deve ser pensada como “um saber que é urgente preservar em toda a sua originalidade, originalidade dos gestos, do processo produtivo, da forma e da decoração, onde as mulheres têm uma forte participação”.

Mara Minhava referiu que “manter viva esta arte ancestral implicará recuperar o passado, naturalmente, mas, também, conquistar o futuro, tornando mais apelativo este artesanato”.

Este é considerado um ofício duro, exigente, com recurso a técnicas ancestrais. O processo de fabrico inclui desde o tratamento inicial que se dá ao barro até à cozedura.

As peças que nascem pelas mãos dos artesãos são depois cozidas em velhinhos fornos abertos na terra, onde são queimadas giestas, musgo, carquejas e abafadas depois com terra escura, a mesma que lhe vai dar a cor negra.

E foi este processo de fabrico que foi classificado pela UNESCO.


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