Cruzes a simbolizar um “cemitério de cultura” em Trás-os-Montes foram hoje colocadas pela Filandorra em frente ao Tribunal de Vila Real, em protesto contra a exclusão da companhia dos apoios sustentados da Direção-Geral das Artes.

O palco para o protesto da companhia de teatro foi o anfiteatro ao ar livre, localizado em frente ao Tribunal de Vila Real, onde foram colocadas 13 cruzes a simbolizar os 13 projetos que a Filandorra poderá não concretizar por não ter o apoio financeiro da Direção-Geral das Artes (DGArtes), apesar de ter tido uma classificação de 74,02%.

“É um cemitério de cultura em Trás-os-Montes. São todas a produções dos autores que estão no nosso quadriénio, na candidatura, e que metaforicamente estão sepultados na relva verde, mas em frente a um tribunal. Esta imagem apela ao bom sentido de honra da justiça de Trás-os-Montes”, afirmou o diretor da companhia de teatro, David Carvalho.

Este, acrescentou, também poderá significar “o ato final da luta” que hoje se inicia e que poderá acabar no Tribunal Administrativo.

A partir da cidade transmontana, a Filandorra juntou-se ao “Protesto pelas Artes” que, à mesma hora, decorria junto à Assembleia da República, em Lisboa, antes da audição parlamentar do ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva.

“É óbvio que será difícil, apesar de termos uma boa retaguarda e estarmos bem institucionalizados na região. Estão ali trabalhadores efetivos e metade terá de ir para o desemprego e o Estado vai gastar mais”, afirmou o responsável.

Entre elenco, técnicos, produção e direção artística, a companhia de teatro conta com 18 elementos, 11 dos quais efetivos.

A companhia conta com 37 anos de atividade e a parceria de 20 câmaras da região Norte que garantem 50% do apoio financeiro ao projeto.

A atriz Débora Ribeiro, 34 anos, disse temer pelo seu futuro se a companhia tiver de dispensar trabalhadores.

“Este momento já começa a ser repetitivo há alguns anos. Já cá estou há 12 anos e parece que, de quatro em quatro anos, uma pessoa precisa de lutar pelos seus direitos e é angustiante”, salientou a atriz.

Para o ator Silvano Magalhães, 35 anos, “caso não haja uma solução para esta calamidade por parte do Governo”, poderá estar em risco “o elenco da companhia”.

Para além dos postos de trabalho, Silvano Magalhães disse que poderão estar em causa também “vários projetos” que poderiam vir a ser concretizados e “várias digressões por Trás-os-Montes e o Norte de Portugal”.

“Para além da perda de atores na companhia, pode haver a perda de cultura”, frisou.

O palco da companhia é toda uma região, com um trabalho que se estende pelos municípios transmontanos e do Douro, atuando nas salas de espetáculos, mas também nas ruas das aldeias ou em monumentos. Tem também um serviço educativo que dá a conhecer os grandes autores aos alunos.

“Nós levamos o teatro onde raras companhias levam os seus espetáculos e chegamos ao ponto de, se calhar, estas pessoas irem perder cultura. Eu perco o meu local de trabalho e as pessoas perdem cultura”, salientou Débora Ribeiro.

Para David Carvalho, “sensibilidade e bom senso é o que falta ao ministro Pedro Adão e Silva”.

“Os concursos da DGArtes estão falseados porque têm vícios de forma”, frisou David Carvalho, lembrando que a Filandorra já antes ganhou no Tribunal Administrativo, pela mesma situação de exclusão de apoios, num processo que demorou “sete anos e meio a resolver”.

Em 2022, a companhia estreou três produções, contando com a parceria dos municípios de Vila Real, Amarante, Mesão Frio, Vila Pouca de Aguiar, Montalegre, Murça, Carrazeda de Ansiães, Vila Flor, Vila Nova de Foz Côa, Vinhais, Miranda do Douro, Freixo de Espada à Cinta, Penedono, São João da Pesqueira, Sabrosa, Cinfães, Resende, Valpaços, Santa Marta de Penaguião e Lamego.

A Câmara de Vila Real divulgou uma declaração de apoio à Filandorra, manifestando o seu descontentamento com a exclusão dos apoios e pedindo ao Ministério da Cultura para “encontrar formas de manter o apoio”.

“Não se defende a coesão nacional aumentando a diferença entre o número de projetos artísticos apoiados no Litoral e no Interior”, salientou o município, que defendeu que a companhia “dá um forte contributo para a preservação e promoção da identidade cultural” da região e para a “atividade económica e turística da região, com ações de animação teatral associados a eventos nessas áreas”.

A Filandorra foi uma de sete estruturas excluídas na modalidade quadrienal do Programa de Apoio Sustentado da DGArtes, na área do Teatro, na qual 48 foram apoiadas.

As sete candidaturas não apoiadas nos apoios quadrienais do Teatro obtiveram classificações acima de 60%, estando cinco sediadas no Norte, uma no Alentejo e outra no Algarve.

Foto: DR




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