Dia 8 de Março, comemora-se o Dia Internacional da Mulher. Esta data ficou registada no ano de 1857, quando algumas operárias têxteis de uma fábrica em Nova Iorque entraram em greve e ocuparam a empresa, de forma a reivindicarem a redução do seu horário de trabalho, que na altura era de 16 horas diárias. A greve correu mal e, após terem sido fechadas dentro das instalações da empresa, deflagrou um incêndio que acabou por matar 130 mulheres. Assim, este dia que ficou dramaticamente marcado é hoje a data escolhida para chamar a atenção do mundo para o papel e a dignidade da mulher. Apesar disso, os seus direitos e a sua dignidade são por vezes esquecidos pelos seus próprios maridos ou companheiros. Felizmente, existem associações onde as mulheres vítimas de maus tratos se podem dirigir para pedirem ajuda. Hoje, a mulher não deve nem pode calar e consentir ser vítima de violência.

Dos 285 processos que deram entrada na APAV em Vila Real, 101 envolvem mulheres vítimas de maus tratos e a "grande maioria são de grande gravidade", segundo Elisa Brites, gestora do Gabinete da APAV em Vila Real. A agressão tanto pode ser psicológica como física, mas o modo de actuação é comum em quase todos os agressores. Isolam a vítima dos seus amigos, da família e até da sociedade e humilham-na até esta perder a sua auto-estima. Uma situação que pode arrastar-se durante muitos anos pois, na maioria dos casos, a vítima tem esperança que o agressor mude de atitude, algo que, no entanto, nunca chega a acontecer, porque "o agressor é agressor por natureza e nada o fará mudar", explica Elisa Brites.

Vila Real integra uma região onde o alcoolismo é um problema dominante. Este pode, em algumas situações, ser o impulsionador da agressão, "mas nunca o responsável", afirma a técnica.

Vila Real em sexto lugar

Dos 12 gabinetes que a APAV tem espalhados pelo país, o de Vila Real encontra-se em sexto lugar no que toca ao número de processos registados, logo a seguir aos de Lisboa, Coimbra, Cascais, Setúbal e Porto.

O facto do número de mulheres a procurarem este gabinete ter vindo a aumentar consideravelmente de ano para ano deve-se à maior divulgação que se tem feito nesta área. "As pessoas começam a ser sensibilizadas para o assunto e já têm consciência dos seus direitos", afirma Elisa Brites.

Normalmente, o crime de violência doméstica é praticado dentro da residência do casal. Por isso, é muito difícil de obter provas, mas o facto de se tratar de um crime público leva a que vizinhos ou conhecidos possam denunciar o caso, o que também se tem vindo a registar na APAV de Vila Real.

Uma situação que normalmente acontece em casos deste género e que, inclusivamente, pode impedir a resolução do problema, é o facto da vítima ou do agressor não reconhecerem esta violência como crime mas sim como "algo normal", levando a que a vítima continue a sofrer em silêncio sem denunciar a situação. Para além disso, nem todas as vítimas apresentam queixa nas instituições competentes.

Em casos mais graves, já registados em Vila Real, a vítima vê-se obrigada a esconder-se durante muito tempo, de forma a fugir ao agressor. Nestas situações, as mulheres são encaminhadas para centros de acolhimento, mas estes não oferecem um número suficiente de vagas para os casos existentes. No distrito de Vila Real não existe nenhum centro do género e, no caso de se necessitar de um, a vítima será colocada onde houver vaga.

A APAV, com os meios que tem, financeiros, técnicos e humanos, tenta dar resposta a todos os casos que lhe chegam. Para que isso seja possível e para que haja uma resposta mais eficaz, a associação conta com a cooperação de várias instituições do distrito. Para além disso, está receptiva para acolher todos os voluntários que quiserem prestar apoio ao gabinete em qualquer das áreas de que se ocupa.



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