O Diário de Trás-os-Montes divulga hoje mais um projeto musical com origem em Trás-os-Montes, desta vez convidamos o cantautor Henrique Rodrigues, músico que canta em português e que já tem um disco de originais “Actos de Crer” com 8 músicas compostas pelo próprio. Um ato criativo que tem a ver com a necessidade de expressar os sentimentos e a paixão pela música desde pequeno. Henrique Rodrigues é fundador também dos "Parede sem Fachada”, grupo Brigantino de que falaremos noutra ocasião.

 

Um músico de Bragança que tem um projeto a solo, com o mesmo nome …

DTM:  Como é o seu nome?

HR: Henrique Rodrigues (HR), 38 anos, sou de Bragança

Ligado a dois projectos, Os “Parede sem Fachada” desde há 12 anos para cá e também um projecto de originais a solo que também já começou há alguns anos, 6, 7 anos que se iniciou esse projeto, “Henrique Rodrigues”.

DTM:  Diga-me como surgiu esta ideia de fazer, de lançar-se a solo já com um disco…

HR: Portanto, tem uma razão, tem a ver mesmo com a necessidade de fazer músicas originais. Portanto, em Bragança o início desta aventura musical, começou por 2007 com os “Parede sem Fachada”, inicialmente começou por ser um projeto de originais, mas diga-se a verdade, os bares querem, ou a maioria dos bares, falemos aqui da nossa região querem que a gente toque músicas conhecidas e então a gente entre os “Parede” decidiu, por todos, vamos experimentar tocar músicas de outras bandas, opah! E realmente resultou. Mal começamos por esse caminho, a gente começou a tocar em muitos bares, muitos bares aqui no distrito de Bragança.

Só que o bichinho de fazer música original, que começou nos Parede sem Fachada e depois pôs-se parcialmente de lado para dar lugar aos “covers”, esse bichinho ainda existia, e opah!  E porque não, ninguém se chateia, eu vou trabalhar em músicas originais e vou gravando aos poucos, até que passados 5 ou 6 anos reuni tudo num CD, que tem o nome de Actos de Crer, no fundo é uma compilação que temos gravados ao longo de 5, 6 anos.

DTM:  Você gravava em casa?

HR: Não, gravei na Vamusica com o Paulo Barrigão

DTM:  E foram gravadas por si essas músicas?

HR: Foram divulgadas por mim na net, algumas com videoclip, Videoclip de suporte as pessoas iam conhecendo, vão surgindo alguns concertos, mas foram gravadas no estúdio do Paulo Barrigão.

DTM:  No fundo, a necessidade do álbum de originais tem a ver com essa necessidade criativa de ir fazendo sempre coisas novas?

HR: Exatamente, o fundamental é isso … o criar é uma coisa que preenche muito e para mim esse processo criativo, de escrever, inventar uma melodia, fazer uns arranjos, preenche-me… preenche-me totalmente.

DTM:  Como músico é a parte criativa que gosta mais … inventar as músicas, é a criação?

HR: Exatamente, o ato de criação

DTM:  O que faz primeiro a música ou as letras?

HR: Normalmente, quase, se calhar, 99,9% das vezes, surge a música e depois uma letra que vai encaixar na música.

DTM:  Portanto primeiro nasce a música, o processo é na viola ou no piano?

HR: Normalmente é na viola, é na viola acústica, depois é que há transposição para a guitarra eléctrica, as vezes ficasse ali pela acústica…porque a música realmente pede que seja uma acústica, mas normalmente é na viola acústica que surgem as melodias. E o processo criativo, tanto pode ser um processo mais demorado. Estou aqui a fazer uma música e está-me a demorar 2h, 3h …pah! isto não esta encaixar, não está a correr bem, como se calhar em 10 minutos surge uma coisa espectacular.

Portanto a criatividade é um processo também imprevisível.

DTM:  Portanto faz primeiro a música depois encaixa a letra, vai experimentado as letras, as harmonias…

HR: Exatamente, vou experimentado letras, vou escrevendo sobre temas que me interessam, que tem a ver comigo, tem a ver também com a sociedade …

DTM:  O temas são da realidade atual de Bragança, como exemplo, ou não?

HR: Não tão focado em Bragança, mas focado nos problemas da juventude, da sociedade também …portanto há uma referência ao mundo.

DTM:  As suas referências musicais e da poesia, digamos, tem a ver com que género musical, com que te identificas?

HR: Portanto, poesia…não é que eu leia muito… embora também escreva alguns poemas. Normalmente esses poemas não consigo musicar. Normalmente a letra tem que se adaptar a melodia, no meu caso. Mas claro, gosto de Fernando Pessoa … gosto muito de Florbela Espanca, Sofia de Melo Breyner. Acho que são as três principais.

Tenho uma música dos Parede sem Fachada, que inicialmente foi sobre um poema da Sofia de Melo Breyner, depois foi alterada a letra …porque nós dissemos assim, não sei se nos dão autorização para isto. Portanto vamos … se calhar até teria corrido bem não é? Vamos alterar a letra, mas nunca musiquei poema desses autores, nem nunca musiquei nenhum poema meu. As letras vão surgindo à partida que surge a música.

DTM:  Que engraçado essa citação…. Posso deduzir daí que você já tem mais músicas gravadas do que aquelas que estão aqui no CD? O seu acto criativo é um acto continuo ou decide criar …vou criar um álbum …pára como alguns músicos fazem, vão para estúdio uma ou duas semanas e fazem o disco, ou o seu ato criativo é como calhar e depois cria, grava a música e guarda-a para fazer o LP?

HR: Sim, o ato criativo pode surgir a qualquer instante por vários motivos …há muita música ali na gaveta que ainda não foi gravada nem mediatizada…quer através da internet quer através de outra forma. Mas há músicas …que não estão o CD, que são tocadas ao vivo.

Aí também gostaria de referir, que eu me apresento ao vivo é com os amigos, músicos e a formação de apresentação dos temas Henrique Rodrigues ao vivo, tem o nome de Henrique Rodrigues e os Acólitos…

DTM:  Que estão a ajudar na missa … na música heheheh

HR: hehehe … que estão a ajudar exatamente, e que certamente é essa a minha intenção … participarão num próximo trabalho e provavelmente em vez de ser só Henrique Rodrigues será com o nome Henrique Rodrigues e os Acólitos.

DTM:  “Actos de crer” é o nome do primeiro CD, …este nome tem a ver com o quê…actos de crer…  porque é que optou por isso …é para reforçar a ideia do processo criativo, queria criar um ato de criação heheh … disse tenho que fazer isto assim. Porquê?

HR: Tem um pouco a ver com isso, de que realmente é preciso uma força muito grande para a gente fazer isto … é fácil…tocar, até é fácil. E tocar ao vivo também não é difícil na nossa região nesse sentido, tenho tido um percurso muito interessante … até com vários projetos. Embora defina este projeto e os Parede como principais.

Agora fazer originais, acho que é preciso uma grande dose de coragem, não ter medo, embora seja uma coisa por uma lado nos alimenta, e nos faz bem por um lado é um bocadinho complicado expor trazer cá para fora, tendo em conta que as pessoas não me conhecem e aceitar pelo menos quando se ouve a primeira vez também não é nada fácil, não é? Então Atos de Crer, tem a ver com essa crença, em que realmente as coisas são possíveis de fazer e são possíveis de acontecer.

DTM:  Depois de fazer um CD …vocês aqui, pelo facto de viverem nesta zona, há limitações, quer dizer … isto …imagine que você vivia em Lisboa e lançava um disco e um dia ia a televisão … a seguir era passado numa rádio ou um amigo da rádio ouvia a música…eh pah é interessante! E começava a pôr na rádio na manhã, nas manhãs da rádio de um canal qualquer e vocês tinham uma projeção nacional, entretanto vocês vivem aqui nesta região fronteiriça, não há esses apoios, têm maneiras de chegar mais longe, a rádio local ajuda-vos … como é que vocês dão o salto?

HR: Não posso dizer que essas colaborações não existem, porque existem … eu lembra-me quando foi a apresentação do "Actos de Crer", foi no Museu do Abade de Baçal eu tive a colaboração a 100% do museu, do diretor … fiz uma entrevista na rádio Brigantia, sei que o mensageiro também penso que colocou o anúncio do concerto, neste momento estou a dar uma entrevista ai seu jornal, o que também é ótimo. Temos aqui a praça Camões onde a gente pode, organizado pela câmara, onde a gente pode também expor o nosso trabalho contudo não é suficiente …não é suficiente. E também acho que dada a dificuldade de fazer originais … talvez este tipo de música sendo representativa da criação que se vai fazendo por ca podia fazer-se um pouquinho mais apoiada, quer pela comunicação social, quer também pelas entidades púbicas da cidade. Contudo todo o apoio que veio e continuará a vir é sempre bem-vindo e só tenho também que agradecer em relação aquilo que também já fui apoiado.

DTM:  Você não vive da música… digamos não é possível viver-se da música aqui?

 HR: Claro que não, não vivo da música, isto é um par-time, mas falando também de Lisboa, sim …ali há um circuito, há bares …há músicos. Como nós nos conhecemos aqui os músicos todos e nos ajudamos uns aos outros …lá os músicos também se ajudam, também se apoiam, um circuito de concertos, bares, música original, de público com muita mais gente, rádios que apoiam e as coisas normalmente acabam por surgir com outra facilidade.

DTM:  Falando do público, o publico aqui da nossa região adere com facilidade aos músicos daqui, aos seus concertos … qual é a reação que você tem, a sua empatia com o público?

HR: sim… sim quer os Parede sem Fachada quer o Henrique Rodrigues, há um feedback muito positivo e um conjunto de pessoas que gostam e que nos seguem, vão aos concertos, outros que vêem pela primeira vez, por exemplo, lembro-me aqui do Museu do Abade de Baçal, foi um concerto com um feedback muito …muito … muito positivo. E outros que já demos, nomeadamente aqui no Praça 16, no JP Rock, isto com o Henrique e os Acólitos,

Mas depois chega a um ponto, já tocamos em todo o sítio, o que vamos fazer agora, não podemos ir lá todas as semanas, não é? Não podemos ir lá todos os meses… tem que se dar um espaço de tempo, não e? Esses concertos teriam que surgir lá fora.

DTM:  Esses festivais, digamos, pelo menos os festivais do interior, o Carviçais, o Rock Nordeste,  Quintanilha Rock, entre outros, não vos convidam?

HR: Também nunca houve talvez uma divulgação muito forte junto, junto deles… também pode passar por aí não e? A gente também não tem tempo para tudo, ou é para ensaiar ou é para criar músicas, ou para divulgar.

Mas lá está, eu não digo, por exemplo o Carviçais Rock penso que já houve uma abordagem até através de uma amiga nossa, mas depois também não houve um feedback … ninguém nos disse mais nada …lá esta, eu penso que nisto como em tudo tem de haver uma proximidade, uma proximidade ainda maior. O estar num circuito, conhecer as pessoas, conviver com as pessoas para que as coisas aconteçam, se nos mandamos, somos uma banda da terra, lá está… devíamos ser apoiados. Acho que todos os festivais rock que se fazem na nossa região deviam apoiar quem faz Rock na nossa região, mesmo o teatro, acho que a única banda de Bragança a tocar no teatro foram os Lacre, e não foi fácil. Também já falei com a directora, dei um cd disse-me que gostou… mas até agora, nunca obtive um feedback. É verdade, eu acho, na minha opinião é igual a de todos os músicos. Deveria haver mais apoio. Devia … Eu acho que não há nenhum músico aqui em Bragança que não diga isso.

DTM:  O apoio…

HR: Neste caso estou a falar dos festivais

DTM:  O apoio deveria ser mais convites, traduzir-se em mais convites … fazer um concerto por ano?

HR: És da terra vens ca tocar, vem ca cantar sim …

DTM:  Vocês Quintanilha Rock também já foram?

HR: Eu já estive no Quintanilha Rock em 2008/2009, os Parede sem Fachada, ainda sem esta estrutura, e este ano também estou convidado para lá ir. Mas é um projeto, tributo a “The Clash”. Portanto a parte dos originais ainda não chegou, ainda não chegou lá. Mas pronto, vou … fico feliz por me convidarem, mas pronto é sempre bom ir, e teria todo gosto, todo o prazer … ficaria muito feliz um dia poder apresentar os meus originais, num destes festivais.

DTM:  Vamos ver se conseguimos trazer ao publico o género de música que você faz, nós vamos apresentar na entrevista, vamos por a música lá para as pessoas ouvirem …penso que esta no youtube, nós pomos o link. Mas fale para as pessoas que nos estão a ler, estão ver …que género de música você se encaixa, não é que se encaixa, mas pelo menos para as pessoas perceberem o que é que você faz

HR: Pronto, falando de influencias desde os Doors, Nirvana, Heroes del Silencio, uma influencia muito importante, costumo dizer sou da época do Grunge,  muitas bandas dessa época, dos anos 90 tem muita influencia, mas também muitos autores portugueses, desde o Zeca Afonso, ao António Variações, o próprio rock português, desde Xutos, Ornatos… essa mixórdia cabe toda aí. Podem se situar dentro do Pop Rock alternativo, há umas músicas mais rock outras mais Pop Rock, mas o rock sempre muito…muito presente. Algumas mais eléctricas, outras mais acústicas … algumas mais animadas outras mais melancólicas, portanto é uma mixórdia destas influencias todas.

DTM:  Você disse que o próximo álbum vai ser gravado com o nome de “Henrique Rodrigues e os Acólitos”, mas já tem uma perspetiva futura para isso, já sabe mais ou menos quando será?

HR: Sim, há músicas que são para tocar ao vivo, já estão trabalhadas e passarão para …para o estúdio, penso que em breve.

DTM:  Quando diz em breve, daqui a um ano…meio ano?

HR: Eu queria começar, até porque se precisa de uma golfada de ar fresco. O projeto Esta um bocadinho parado neste momento, depois do concerto no museu do Abade de Baçal. E se calhar também será uma forma de por as coisas outra vez a andar e a mexer, portanto a ver… se calhar no máximo 2, 3 meses estaremos a gravar novamente.

Queria dizer também, já agora, os Acólitos que é o Rómulo Ferreira que esta no baixo, que é ex-Lacre, era o violoncelista dos Lacre, na guitarra é o Rui, que também toca comigo nos Parede sem Fachada, o Rui Miguel, e o baterista tivemos inicialmente o Milton que toca nos Zingarus e agora tenho o Patrício que é irmão do Cristiano, do guitarrista, deve conhecer, o Patrício é um excelente baterista e excelente pessoa também e que toca em vários projetos e pronto estamos a ver se lhe pegamos outra vez e se levamos a coisa pra frente, mas fizeram-se já uns 15 concertos com essa formação.

Ah! É verdade e estaremos aqui, também na Praça Camões se Deus quiser …

DTM:  Quando?

HR: É nas Verbenas, será entre julho e agosto

DTM:  Alguma coisa que gostaria de falar.

HR: Pronto, eu na internet tenho divulgado o Acidental, o Sr. da Condição, o Mundo Melhor, o "Actos de Crer", o Poeta. Ainda não estão estes dois. Ah! Há aqui uma coisa que eu queria referir, eu disse que nunca tínhamos musicado um poema, mas …a minha poesia é um poema meu, portanto, é… há uma música de fundo que eu recito o poema, portanto este álbum tem uma poesia minha …recitada como uma música de fundo.

DTM:  Quanto é que custa o disco?

HR: Pronto, isto é uma edição caseira, eu comecei no primeiro ano …vendi por 8 euros, porque era o ano de lançamento e agora baixei para os 5 euros.

DTM:  5 euros um CD, isto é um convite ao pessoal para comprar, é excelente …já ninguém faz músicas …8 músicas por 5 euros, originais.

HR: Eu antes dizia que era 1 euro por música, hehehe, agora já está em promoção… hehehe

Entrevista e Foto de António Pereira

 

Este é o link da página oficial do cantautor

https://www.facebook.com/henriquerodrigues30581/

Já agora, este é o link da página de poesia de Henrique Rodrigues

https://www.facebook.com/Amador-Rodrigues-518387814947760/



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