Whales Don't Fly

Neste percurso que temos vindo a fazer de divulgação de bandas de Trás-os-Montes apresentamos hoje banda Whales Don't Fly, que surgiu da união de dois jovens de Vila Real com dois jovens de Bragança, que se encontraram algures nas aulas do Instituto Politécnico de Bragança onde estudam música, mas o elo surge do gosto comum da música metal. Prometem um álbum de originais para o fim do verão. 

 

César, baterista

Zé, baixista

Jorge, guitarrista

Rafa, vocalista e guitarrista

 

DTM: Como é que chegaram a um consenso sobre esse nome?

César: A ideia do nome surgiu do Rafael, o vocalista. A nossa visão é associar o nome ao nosso estilo musical - como o Metal é considerado música pesada, e a baleia é um animal pesado, nós dizemos "Whales Don't Fly" para reforçar a ideia que realmente, a baleia é um animal pesado e não voa;  Embora a nossa música se enquadre neste género, temos influências diversas, e queremos que os ouvintes "flutuem" com ela.

 

DTM: O vosso estilo é pesado, um estilo de música que vos identifica... Essa opção de fazer música pesada tem a ver com os vossos sentimentos, tem a ver com o quê exatamente? Porque vocês sabem tocar outras músicas, mas onde foi que vocês foram buscar esse sentimento, essa vontade de tocar música pesada?

Rafa: Tem a ver com a inspiração de todos nós. Cada membro da banda tem uma influência e inspiração diferentes. Por exemplo, embora o Jorge ouça Metal, o seu género é o Hard Rock. A primeira banda que eu me lembro de ouvir é Pink Floyd, por exemplo. Só depois é que me interiorizei no Metal, etc. O Zé é o verdadeiro metaleiro da banda, Metalhead full on. E César é o gajo das brasileiradas e afins (risos da banda).

César: Não é bem assim (risos). Basicamente gosto de música alternativa, variando um pouco pelos diversos estilos.  Não rotulo o Rock como o meu género preferido, gosto de toda a música no geral. A par de todas as nossas diferentes influências, sem dúvida que o Rock é aquele comum a todos. Gosto de música com bastante energia, daí o meu especial apreço por este género.

Zé: Cada um de nós traz coisas diferentes à mesa e acabamos por criar a nossa própria cena.

Jorge: O resultado final dessa convergência de influências é Whales Don't Fly.

 

DTM: Vocês são um grupo de Bragança, mas vi que vocês são dois de Vila Real e dois de Bragança. Como é que surgiu essa união, como é que vocês se reuniram numa banda, num objetivo único, que é fazer música de Metal?

WDF: Foi através do IPB, estamos todos a estudar no IPB, na Escola Superior de Educação...

 

DTM: Isso era o elo comum, para vocês todos?

E: Sim, conhecemo-nos na escola.

 

DTM: Conheceram-se na escola, cada um a tocar seu instrumento ...

Rafa: Sim, excepto eu e o Jorge que já nos conhecíamos desde o secundário e de bandas em comum que tivemos quando eramos mais novos. O César conheci no IPB visto que ambos frequentamos o curso de Música, e somos da mesma turma.

César: E pelo menos da nossa parte, o interesse sempre foi a música.

Zé: Eu conheci o Rafa através do Jorge e a partir daí começamos a falar de música, até que depois surgiu...

 

DTM: E depois surgiu com naturalidade a banda, não é?

WDF: Sim, sim.

 

DTM: Vocês são de Trás-os-Montes, de Bragança, daqui da região, e sentem-se bem a fazer esse tipo de música, essa música um bocado mais pesada ? Tem público para isto, há público aqui que vos adere, que goste da vossa música?

Jorge : Sim, tivemos essa prova no concerto que demos no TendaArmada. Creio que ninguém estava a espera que houvesse uma banda de Metal a tocar neste evento. E também nós ficamos surpreendidos com a excelente reacção do público.

 

DTM: A Tenda Armada foi no IPB?

Jorge : Sim, é um festival organizado anualmente pelos alunos de  A.P.A. O resultado final foi bastante positivo. Como disse, acho que ninguém estava a espera do nosso som. Sendo realista, já há anos que não se vê uma banda original de Metal na nossa região, e creio que isto foi uma lufada de ar fresco.

César: Sim, mas acho que existem sempre grupos, não é? O Metal, sendo um estilo que envolve diversas ramificações, acaba por se dividir em grupos e sub-grupos. Como é um estilo mais underground, digamos assim, é inevitável isso acontecer. É um estilo de música muito abrangente, e o nosso sub-género pode não ser aceite por todos os fãs de Metal. Mas acho que nós conseguimos juntar o melhor de 2 mundos, agradando tanto ao pessoal do Metal, porque realmente é a base da nossa música, tanto para o restante público, que pode ser conquistado através da melodia das nossas músicas e do facto de ser bastante audível para todos.

 

DTM: E as vossas músicas, falaste que as vossas músicas são algo melódicas, são músicas criadas por vocês, são originais, ou nesta fase inicial estais a tocar músicas de outros?

WDF: Não, é 100% original.

 

DTM: Todas as músicas originais! já tendes músicas originais suficientes para fazer uma hora de concerto?

WDF: Sim, sim.

 

DTM: Quantas músicas já tendes, vossas?

Rafa : Neste momento, concluídas temos 7. Estamos a construir mais 3.

 

DTM: E essas músicas que vocês fazem, essas 10 músicas, são criadas por vocês em conjunto, algum de vós leva a ideia e depois formais todos, ou há um que é mais criativo e que faz as músicas e os outros acompanham? Como é o vosso processo criativo das músicas?

César: Inicialmente cada um trabalhava em casa, ou então surgia com uma ideia nova no ensaio, e em conjunto, desenvolvíamos a partir daí. Era a maneira mais fácil para nós criarmos música, juntando as partes de cada um até surgir o produto final. Mas agora temos de separar as músicas que irão para o EP das que irão para o álbum, logo o processo criativo será diferente para os dois. O álbum faz parte de um conceito em que todas as músicas têm uma ligação entre si. No EP são músicas independentes umas das outras, que serviram como forma de nos unir musicalmente. Daí a necessidade de separar as duas ideias.

 

DTM: Falaste que esse álbum tem uma história, ou é criada à base de uma ideia. E essa ideia exatamente qual é, qual é essa história?

Jorge: Falando de forma geral, conta a história de um peregrino que parte em busca do Golden Sea. Ele pouco sabe o que é, ou o que lá vai encontrar, apenas existe uma lenda sobre esse tal Golden Sea. É um homem rico e com bens materiais, que vê no Golden Sea a possibilidade de encontrar a paz de espírito que procura. Esse mar é na verdade um deserto, que há milhões de anos foi um oceano. Daí o nome "Golden Sea".

Zé: Tento ver a história de maneira abstrata, a viagem que ele faz é como se fosse uma passagem pela vida dele. Os locais que ele visita e os obstáculos que ultrapassa, etc.

César: Fazer uma espécie de introspeção, não é? Fazer uma revisão de todo o seu caminho ao longo da sua vida. Ele é uma pessoa que tem quase tudo, no entanto falta-lhe qualquer coisa, e então vai à procura de algo. E é aí que ele entende que aquilo que procura não está na conclusão dessa jornada, mas sim na viagem em si.

Rafa: Para mim é mais literal por acaso. A forma como estamos a fazer o álbum, o Golden Sea...

 

DTM: É assim que se chama o álbum?

César : Sim, vai-se chamar "The Golden Sea". E o final do álbum, portanto, é a morte, o final de uma vida. E o álbum todo é a viagem dessa vida . Na minha cabeça eu vejo assim o álbum.

Jorge: Cada pessoa pode ter a sua interpretação, acho que parte da magia está aí.

Rafa: Cada um interpreta à sua maneira, no entanto a ideia está lá, acabamos todos por chegar à mesma conclusão.

Zé: As pessoas conseguem-se identificar com a história. É um bocado pessoal a maneira como interpreto isto.

 

DTM: Cada um de vocês contribuiu com uma ideia, a vossa maneira de ser e a vossa identidade, o álbum reúne isso tudo?

WDF: Sim.

 

DTM: É uma viagem coletiva, mas cada um de vós tem lá um bocado!?

WDF: Exatamente.

 

DTM: Esse álbum e essas músicas e essas letras são cantadas em Português ou Inglês?

V: Inglês.

 

DTM: E essa música é construída por vocês, é com base em poemas de terceiros ou mesmo construída por vocês?

WDF: Construída de raiz.

 

DTM: O que é que vocês fazem primeiro, a música ou a letra?

César: Depende. Neste caso acabou por surgir primeiro a letra, como foi a criação de uma história, tornou-se mais fácil e intuitivo dessa forma. Já tínhamos a ideia na nossa cabeça de um início, meio e fim, então foi como escrever um livro. Fomos escrevendo aos poucos sempre com a ideia estrutural da história em mente.

Rafa: A parte letrista do álbum está completa, só falta mesmo o lado musical. Já não é um livro em branco, basta completarmos ...

 

DTM: Mesmo em termos musicais?

Rafa: Sim, mesmo em termos musicais.

Zé: Acabou por se tornar mais fácil assim, porque ao ler e conhecer bem a história, sabemos que sonoridade lhe devemos acrescentar.

Jorge: É como fazer a banda sonora de um filme. A narrativa já está lá.

Zé: Nós vamos dar-lhe a identidade sonora.

Rafa: Por exemplo, na música final, fazer algo mais épico visto que é o fim.

Zé: O culminar...

César: Sim, ser o culminar da viagem. Chegar ao fim.

Rafa: Engraçado que começamos pelo final (risos).

Zé: O Jorge escreveu a letra do que viria a ser o Golden Sea...

Jorge: No ínicio escrevi-a como música independente, uma espécie de poema. Até que a ideia de " e se fizéssemos disto algo maior " surgiu por parte dos restantes membros da banda.

Rafa: E até foi engraçado, visto que estavamos numa espécie de impasse e sem criatividade, até que vimos essa letra e decidimos levar a ideia avante.

César: Nós começamos por fazer a música e foi aí que surgiu a ideia de fazer disto algo maior. Pensamos : " Esta música tem um contexto, a história está mesmo boa, não podemos desperdiçar a ideia só numa música. Vamos transformá-la num álbum". Então a partir dessa música, surgiu aquela separação que eu falei anteriormente, e pensar nessa música como uma parte de um todo. Quisemos explorar este mundo mais a fundo e daí surgiu a necessidade de fazer um álbum a partir dessa música.

 

DTM: Esse álbum Golden Sea incluiu as tais 10 músicas?

WDF: Nove..

 

DTM: Nove músicas. Mas esse álbum já incorpora as outras músicas que vocês já fizeram?

WDF: Não.

 

DTM: São separadas?

César: Sim, por isso é que falei nessa separação. O EP vai ter cerca de 3/4 músicas, é um "short", como se fosse uma curta-metragem. Essas 3/4 músicas são as tais músicas independentes, que criamos no inicio quando a banda ainda não tínhamos um rumo definido. Depois vai haver o " The Golden Sea" que vai ser o nosso álbum conceptual com as músicas interligadas entre si.

 

DTM: Então vocês vão lançar um álbum, já tem uma data marcada ou ainda não?

Rafa: Tem de ser até setembro.

Zé: Não há um dia certo, mas já temos uma pequena noção.

Jorge: Traçamos uma meta.

César: Traçamos uma meta. Por exemplo, neste momento, estamos a trabalhar na construção do EP, as quatro músicas iniciais. A ideia era lançar essas quatro músicas e depois irmos para estúdio trabalhar no álbum e lançá-lo. Agora, em termos de datas, estamos a pensar, até inícios de julho gravar o EP, que estamos a fazer por nossa conta, com os nossos computadores, com o nosso material, gravar por nós, produzir nós, digamos assim, ...

 

DTM: E gravais num estúdio vosso?

César: Gravamos em casa. Com o computador gravamos tudo. A bateria é a parte mais complicada porque não temos o material necessário para a gravar. Temos de fazer digitalmente embora o som seja bastante real. Mas é tudo feito por nós. Depois, a divulgação será feita quando o EP estiver terminado, que em princípio será no inicio de Julho, como tinha dito. A partir daí lançá-lo e promovê-lo visto que já temos material disponível para mostrar às pessoas. O ideal é conseguir arranjar 2/3 concertos até agosto para arrecadarmos algum dinheiro e irmos para estúdio gravar o álbum em finais de agosto. Não sabemos o dia ao certo, mas será entre dia 20 e 31.

 

DTM: Esse é o vosso trabalho de verão, digamos.

Rafa: É um bom trabalho. (alguns risos)

Zé: E depois se tudo correr bem, dependendo da progressão e do desenvolvimento do trabalho que será feito em estúdio, lançaremos o álbum. A nossa previsão é que esteja disponível em setembro.

 

DTM: Vocês já falaram que vocês são uma música Metal, que música é que vocês ouviram antes para gostarem de Metal? Já começaste pelos Pink Floyd e tal, e outros? Moonspell?

César: Não. vou contar o meu percurso, que foi variando por muitos caminhos. Somos todos da geração de 90, acho que também fomos influenciados pela música que passava muito nessa década, eu principalmente. A fase do Rock, do Rock Alternativo,  de bandas como Nirvana, Pearl Jam, que marcaram a geração dos 90 no que toca ao género. No que diz respeito ao Metal, as influências vieram do meu primo mais velho , mostrando-me bandas como Metallica, Megadeth, Dream Theater etc, quando eu ainda era pequeno. Depois fui crescendo e embora  habituado a ouvir este estilo musical, o meu gosto por querer levar a música mais a sério, fez com que eu explorasse também outros géneros musicais que também gosto bastante.

 

DTM: Vocês também têm esse percurso assim?

Zé: Sim, o meu é bastante parecido ao percurso do César. Também tive um primo que ia várias vezes a minha casa e levava CDs de bandas como Metallica, Iron Maiden, Pantera e Annihilator, e ouvíamos aquilo na aparelhagem. Depois adquiri o meu próprio estilo à medida que fui crescendo.

Jorge: O meu foi um pouco diferente. O meu estilo preferido sempre foi Hard Rock e Rock Progressivo. Bandas como Rush, Pink Floyd, Guns n' Roses e King Crimson. Depois comecei a ouvir Metal de bandas que foram influencias por estas. E hoje é um estilo que gosto muito. No entanto as minhas raízes estão no Rock.

Rafa: Eu sempre ouvi Rock, através dos Vinis do meu pai; Pink Floyd, Rolling Stones etc... Gypsy Kings (risos) também. Depois comecei a procurar bandas por mim, e descobri Linkin Park, Metallica, entre outras. Depois comecei a desenvolver mais isso.

 

DTM: Vocês têm uma coisa em comum, estão a estudar música no IPB, não é?

Rafa: Eu e o César sim. O Jorge e o Zé estudam Línguas Estrangeiras, que também é no IPB.

 

DTM: E isso ajuda-vos, com os vossos instrumentos, vocês aprendem por vós próprios, ou começaram numa escola de músia? Como é que esse processo aconteceu?

César: Sim, inicialmente começamos por aprender sozinhos, acho que foi o caso de todos. Fomos autodidatas, não fomos inscritos numa escola e começamos a aprender música, como acontece com os alunos do Conservatório, os estudantes de um estilo mais erudito, que são colocados numa escola, e aprendem... Não, acho que o gosto surgiu, procuramos aprender um instrumento, e no meu caso, e do Rafa não sei, acaba por ser mais ou menos a mesma coisa, vir para o curso de Música acaba por ser um complemento, não uma forma de melhorar, porque não é um curso de Instrumento, é um curso de Educação Musical, o nosso caso, então não é para completar a nível instrumental mas é mais do saber e do conhecimento da música, e do interesse que temos na música em si. Mais por aí, porque a nível de instrumento, acho que aprendemos todos sozinhos e vamos explorando.

 

DTM: Todos aprenderam sozinhos?

Rafa: Eu não. Os meus pais inscreveram-me na Vamusica desde novo e estudei lá. Depois desenvolvi por mim. Comecei no baixo e só depois é que fui para a guitarra. Saí da Vamusica e comecei a ter outros professores até ir para o curso de Música. Foi como todos nós, um complemento.

Zé: A minha história foi basicamente: eu quis tocar guitarra e pedi aos meus pais que me comprassem uma guitarra elétrica, mas eles só me compravam uma se eu fosse para aulas de música e tivesse formação. Tive um ano e meio a ter aulas de música, mas não deu resultados, e encostei a guitarra porque fiquei desmotivado até que um dia me lembrei: "há pessoal que consegue aprender sozinho, vou tentar a minha sorte". E voltei a pegar na guitarra. Basicamente foi assim.

Jorge: Eu comecei numa escola, também como o Rafa, e fui saltando de várias escolas ... e durante esse tempo, fui treinando em casa, tendo algum acompanhamento por parte de professores que me ajudaram muito, mas grande parte sozinho. Aprendi muito a ver aulas no youtube e mesmo aprender músicas de ouvido.

 

DTM: Vocês já fizeram alguns concertos, não é?

WDF: Fizemos dois concertos.

 

DTM: Fizeram dois concertos, correram bem, como é que foi?

WDF: Um foi em Vila Real, outro em Bragança.

 

DTM: Em Vila Real foi aonde?

WDF: Foi num festival de Metal, foi a primeira edição organizada por um amigo do Zé. Para um projeto escolar. Como tínhamos esse contacto ele chamou-nos, e dentro dos possíveis correu bem.

 

DTM: Tendes agora alguns concertos já agendados, ou ainda não?

WDF: Ainda não. Temos alguns sítios em mente para marcar mais 2/3 concertos até à gravação do álbum, mas ainda nada está definitivamente agendado.

 

DTM: A entrevista está no fim, mas se vocês quiserem acrescentar alguma coisa, que não abordamos e que gostassem de dizer?

WDF: Sigam-nos nas redes sociais (risos).  Acho que foi tudo dito

 

DTM: Tendes redes sociais já? Tendes o quê, Facebook?

WDF: E Instagram.

 

DTM: Facebook e Instagram da vossa banda.

WDF: Sim, sim. Sigam-nos e vejam as novidades do próximo disco.

 

Entrevista e fotos: António Pereira
As fotos dos concertos foram cedidas pela banda.



Galeria de Fotos

SHARE:

Rui Santos promete regressar em 2020, melhor que em 2019.

"Fazer originais, acho que é preciso uma grande dose de coragem"