Em uma manhã, de um domingo de primavera chego a pequena Aldeia de Pinela logo na entrada da aldeia há um belo grafiti evidenciando a influência da cerâmica na aldeia.  Por toda a aldeia vemos estátuas e até uma paragem de autocarro também grafitada, sou recebida por dona Julieta a única artesa em atividade em Pinela, as ruas se encontram desertas e o único local com algum movimento é o café da aldeia.


 Dona Julieta me busca no café e me leva até sua casa onde nos fundos se encontra seu atelier, a artista fala com entusiasmo da sua arte, faz questão de mostrar a fabricação de uma peça de cerâmica essa que é uma das mais antigas atividades humanas, as peças dessa artesã feitas à mão, utilitárias e decorativas e com adereços da região como o carvalho, as castanhas, os musgos e os caretos de Podence, são únicas e completamente diferentes das peças industrializadas. 


Pinela já teve uma Olaria muito importante para a região de Trás-os-Montes, as suas origens são desconhecidas, mas em escavações na região foram encontradas peças que comprovam que a olaria já existia no século XIX e provavelmente vem de um período mais antigo, uma Olaria que contava exclusivamente com trabalho feminino e com um forno comunitário existente até os dias de hoje, que vai passar por um processo de restauração com o apoio da Junta de Freguesia de Pinela.

As referências bibliográficas acadêmicas da Olaria de Pinela podem ser a obra de Abade de Baçal (Alves, 1910-47: II, 476/7) e também o trabalho do Dr. Belarmino Afonso sobre olarias no distrito de Bragança (Afonso,1881).


Dona Julieta, me leva ao Centro Interpretativo de Cerâmica fundado em 2015, abrigado na antiga Escola primaria da aldeia e detalha todo o processo de fabricação das peças de cerâmica da antiga olaria, que era a maior fonte económica da região, seguida pela agricultura.


O centro ajuda a contar a história com peças antigas de cerâmica e até uma réplica do formo, na antiga olaria o trabalho era feito no decorrer do ano, começava no outono com os homens da aldeia recolhendo o barro, único no país retirado das minas de estanho.

As oleiras faziam as peças em suas casas durante o inverno na frente da lareira e com a ajuda de uma peça de madeira feita de freixo ou castanho chamada roda, na primavera deixavam secar, as peças não podem ir ao formo sem secar bem senão racham, e depois de secas as levavam ao forno comunitário, as peças já finalizadas eram vendidas no dia 3 de maio no que viria a ser a Feira das Cantarinhas em Bragança, dando origem a feira.

A aldeia é participante assídua representada atualmente por Dona Julieta, hoje a feira é um modo de tentar manter a cultura da olaria viva não só em Pinela, mas também em todo o distrito de Bragança. 


Dona Julieta além do atelier nos fundos de casa tem outro em Bragança que também funciona como loja, fala com orgulho da sua profissão e se preocupa que em uma aldeia onde a Olaria foi tão importante para o desenvolvimento, e mesmo com todo o incentivo dado, os jovens não tenham a mesma paixão pela profissão e teme que com ela essa cultura se encere.

Para Dona Julieta, o artesanato é compensador, uma terapia, uma profissão onde se vive muito bem, já deu muitos workshops para pessoas com muito talento para o artesanato, mas que acharam a profissão muito ingrata. 


Reportagem: Lidiane Moraes, estudante de Comunicação e Jornalismo no Instituto Politécnico de Bragança (Mirandela)


Cerâmica, a essência da aldeia de Pinela

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