O diretor do Teatro Municipal de Bragança (TMB), João Cristiano Cunha, quer que a comunidade sinta que esta sala é delas, com uma aposta num serviço educativo que ausculte as instituições e as pessoas que estão no terreno.

João Cristiano Cunha chegou em janeiro ao TMB e, imediatamente a seguir, tudo o que tinha pensado caiu devido à pandemia da covid-19. Em entrevista à Lusa, não esconde que “houve uma ponta de frustração”, mas os tempos foram de “aprendizagem” e preparação do regresso a cena.

A nova temporada abre no próximo sábado com as limitações impostas pela pandemia, mas o diretor, está “bastante confiante de que o Teatro Municipal de Bragança vai receber mais público e conseguir convocar mais pessoas da cidade e fazer com que as pessoas sintam que o teatro é delas, (que) esta casa é das pessoas e é para as pessoas”.

João Cristiano Cunha, professor de educação estética e artística, tem para o TMB, como “grande objetivo, a fidelização de públicos, a criação de novos públicos e o reforço inequívoco de um serviço educativo que ausculte as instituições e as pessoas que estão no terreno”.

“Mais do que impormos espetáculos, devemos ouvir o que as pessoas querem, obviamente com a qualidade sempre como chancela, como denominador comum porque há coisas que não fazem sentido num teatro municipal desta envergadura”, defendeu, em entrevista à Lusa.

Para o diretor “é impensável” fazer um arraial no Teatro ou alguns apontamentos de comédia que as pessoas pedem. Todavia, entende que não pode descurar, nem pôr completamente de parte o que o público quer.

“Não podemos é baixar a fasquia da qualidade”, vincou, destacando a vertente educativa que este espaço tem na formação de públicos.

“Nós não podemos gostar daquilo que não conhecemos, mas para conhecer tem que frequentar, tem que ver, tem que ouvir, tem que sentir e tem que lhe ser proporcionado”, reiterou.

O diretor quer “dialogar com as instituições, ouvir quem está no terreno, professores, educadores, as restantes pessoas de outras instituições e associações”, para programar em conjunto e de algum modo “ir ao encontro dos gostos e interesse dessas pessoas e daquilo que faz sentido, nos seus projetos educativos, e naquilo que faz sentido nos seus planos anuais de atividades”.

“Poderei ter cinco espetáculos para a infância, mas eu quero ouvir um representante de cada agrupamento de escolas dizer-me: se calhar isto faz mais sentido, tendo em conta o nosso projeto educativo; é importante ouvirmos”, concretizou à Lusa.

João Cristiano Cunha acredita que ouvindo, também consegue convocar “as pessoas a virem mais ao teatro e a trazerem os seus alunos que são os públicos de amanhã”.

Numa altura em que o interior de Portugal ganhou nova visibilidade com a procura turística pela segurança, o diretor quer que o Teatro Municipal de Bragança seja “uma mais-valia na promoção e projeção do próprio território, para as pessoas que ali vivem, mas também para quem visita a região.

“Esta questão de fruir a natureza e depois à noite vir ver um espetáculo de qualidade, se calhar é apelativo para as pessoas ficarem e, se calhar, passam mais uma noite nas unidades hoteleiras locais, e ficam mais um dia e visitam ainda mais umas aldeias”, considerou.

O Teatro Municipal de Bragança está encerrado há cerca de cinco meses, devido às medidas de contingência da pandemia da covid-19, e reabre no próximo sábado, com uma programação que preenche todos dos fins de semana, de setembro a dezembro.

 

Teatro Municipal de Bragança reabre para escape da rotina da pandemia

O Teatro Municipal de Bragança (TMB) reabre no próximo fim de semana com a expectativa de servir de escape em tempo de restrições e de que a pandemia leve mais gente à principal sala de espetáculos da cidade.

A programação de setembro a dezembro apresenta propostas de música e teatro e algumas estreias nacionais, com todos os fins de semana preenchidos, entre 05 de setembro e 19 de dezembro, e bilhetes entre seis e onze euros, com espetáculos gratuitos para a infância e adolescência.

“Não é pelos custos associados à bilheteira que os brigantinos não vêm ao teatro”, realçou à Lusa o diretor João Cristiano Cunha, convicto também de que a pandemia covid-19 não será também um obstáculo e até pode servir de incentivo à procura deste espaço cultural.

Para o diretor, “o medo que está instalado e esta instabilidade que estamos a viver pode ser até uma forma de incentivar as pessoas a virem ao teatro”.

“Nós precisamos de um escape porque estamos um bocadinho cansados desta rotina e do casa e do confinamento. Apelo às pessoas que podem vir, temos todas as condições de segurança e de higiene”, assegurou à Lusa.

A sala de 400 lugares ficará reduzida a 200, com planos sanitários para garantir segurança “no regresso à Cultura”, que o diretor do TMB entende como “importante também para o equilíbrio mental, para a nossa a saúde mental, para o nosso bem-estar emocional”.

A programação que abre a temporada 2020/2021 promete “companhias de primeira linha a preços bastante reduzidos”, com alguns reagendamento de espetáculos que a crise sanitária cancelou na época interrompida em março.

Os espetáculos arrancam fora de portas, sábado e domingo, com “Música na Paisagem” e quartetos de cordas e pianistas que estarão em diferentes locais da emblemática aldeia de Montesinho, incluindo debaixo de um castanheiro, a tocar Beethoven e Mozart.

“É fruir a música e a paisagem, aquilo que nós temos de melhor e, de algum modo, implicarmos as comunidades locais, quem nos visita, e abrindo a porta para o teatro, ir buscar o público lá fora”, explicou à Lusa.

Na sala do TMB estarão em cena, nos quatro meses, espetáculos como “Napoleão ou o complexo de épico”, com a companhia Chapitô, “Fake", de Inês Barahona e Miguel Fragata, produzida com o Teatro Nacional D. Maria II, e o projeto de espetáculo e oficina de formação do Teatro de Garagem com o Museu Nacional de Arte Antiga.

Bragança recebe a estreia nacional da comemoração do centenário da fadista portuguesa com o espetáculo “Amália no Mundo”, pela Tradisom, que integra uma exposição de capas de vinis do mundo inteiro, alguns inéditos, apresentação do livro e o concerto com Custódio Castelo, o único intérprete de guitarra portuguesa, vivo, que acompanhou a Amália.

A programação inclui também novo circo, com o espetáculo em corda bamba e arame “Asas d`Areia” do Teatro do Mar, sobre os refugiados na Grécia.

Na área da música, está prevista a viagem a um reino maravilhoso, dos Lavoisier, inspirados em Miguel Torga, a despedida de Bragança dos Dead Combo, no âmbito da digressão “Fim”, e atuações de The Gift, da fadista Carminho e de Rodrigo Leão, que fechará a temporada, em dezembro.

Há ainda um recital de ópera com Montserrat Martí Caballé, filha da conhecida soprano, que vai cantar áreas mais conhecidas e reconhecidas de óperas, usadas em múltiplos contextos, incluindo até de anúncios de televisão, e a comemoração dos 250 anos do nascimento de Beethoven, com a Orquestra das Beiras e um concerto comentado.

Outros espetáculos previstos são "Próspero", a partir de “A Tempestade”, de William Shakespeare, e “O Lago dos Caretos”, que se estreou no ano passado e que sobe ao palco em Bragança, quando se comemora um ano da elevação a Património da Humanidade dos Caretos de Podence.

O diretor do teatro municipal sublinhou que a programação teve sempre “como pilar a qualidade dos espetáculos, procurando uma abrangência cada vez maior, no sentido de criar novos públicos e [de os] fidelizar”.

Mas tem também “um reforço do serviço educativo”, pois, para o diretor, “um espaço cultural de excelência deve contemplar um serviço educativo que vá ao encontro de todas as faixas da sociedade, do pré-escolar até à idade maior”.

A agenda tem seis espetáculos de serviço educativo do pré-escolar e primeiro ciclo, um dos quais em estreia nacional ("Os Três Porquinhos").

Devido à imprevisibilidade da pandemia, não será possível adquirir bilhetes para toda a temporada como anteriormente, mas para dois meses, de cada vez, concretamente para setembro/outubro e novembro/dezembro.

Foto: António Pereira



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