Se alguém estivesse à espera que Trump e Putin se entendessem na reunião do Alasca, quanto ao possível cessar fogo na Ucrânia, é porque não os conhecem ou não têm acompanhado as declarações dos dois a este respeito, O que hoje é verdade amanhã é mentira.
Até hoje, Putin fez gato sapato de Trump e nada lhe deu ou prometeu sobre o problema ucraniano. Trump sempre se arrogou de toda a sua vaidade e poder, mas nada conseguiu. Putin usa-o e continua a usar como se fosse uma marioneta que manobra a seu bel-prazer. Basta lembrar a informação à última hora de que os dois não se iriam encontrar a sós e que as conversações seriam feitas através dos respetivos conselheiros. Uma vez mais Putin a ditar as regras, como sempre. Aliás, é bom não esquecer que foi Putin que pediu este encontro.
As promessas de Trump para acabar com a guerra da Ucrânia em dias, falharam. Acabou por dizer que esta guerra não era dele, mas de Biden. Admitia o falhanço, mas como queria dar a volta por cima, ameaçou a Rússia com tarifas elevadíssimas, esperando com isso, levar Putin a alguma razoabilidade. Deste modo, atingia os países que negociavam indiretamente com a Rússia, agravando a economia mundial. Contudo, Putin manteve-se sereno, dizendo mesmo que em nada o afetavam essas tarifas. Trump ficou cada vez mais irritado.
Quem não foi ouvido e é posto de lado de toda estas conversações foi Zelensky como se não fosse ele o verdadeiro interessado no resultado final. O mesmo tem acontecido à Europa que não é tida nem achada neste tabuleiro de xadrez, como se fosse outra carta fora do baralho. Neste jogo, quem dá as cartas é Putin e o líder americano joga com as cartas que ele lhe dá que não são trunfos nem jokers, ou seja, dificilmente vai ganhar. Como sabemos, Trump ouviu os líderes europeus, a quem pouco liga, antes de se ir encontrar com Putin e levou recados que pouco interessam ao líder russo. Os limites estão traçados há muito e ninguém o demove do que ele próprio estabeleceu. A prova está no resultado desta cimeira.
Este “frente a frente” dos dois no Alasca, que Trump ainda pensava, tristemente, ser da Rússia, pouco resolveu. Putin referiu o interesse na paz e reafirmou, entre linhas, o que sempre disse não abdicando dos territórios ucranianos ocupados e o presidente americano, em busca do prémio Nobel da Paz, continua a tentar negociar territórios que não lhe pertencem, arrastando a Ucrânia para um poço sem fundo. Cessar fogo e paz são apenas nomes sonantes para Trump ouvir e continuar iludido. Putin tem todo o tempo do mundo e saiu por cima nesta cimeira. Mas assuntos como o nuclear, as trocas comerciais e as sanções, também foram abordadas certamente e estarão pendentes para novas abordagens. Faltou aqui o único interlocutor que poderia obrigar a Rússia a tomar outra decisão: a China. Esta guerra, no início não interessava à China, mas agora interessa. Depois deste reencontro, falhado ou não nos objetivos principais, isso nunca saberemos, o presidente americano referiu que foi positivo, mas nada foi concreto. Eles querem mesmo a paz. Parece que este frente a frente não foi um falhanço total, pois isso arrastaria a Europa para um conflito de outra escala e possivelmente a Ucrânia para uma guerra de onde não conseguirá sair vitoriosa já que a Europa não tem armamento que se assemelhe ao que os EUA possuem. Sabemos que é a Europa que está a comprar o armamento à América para entregar à Ucrânia.
Agora seguem-se as reuniões técnicas sobre o que ficou combinado na cimeira, mas a Europa tem um osso duro para roer. E Zelensky também. Trump vai falar com ele. Alguma coisa terá para dizer. Zelensky não aceita ceder território à Rússia e vai exigir estar presente na discussão sobre os interesses do seu país numa próxima cimeira. Além da paz, a entrada na UE e na NATO continuam a ser as suas pretensões. Trump deu a entender que os próximos contactos que fizer com as entidades europeias e não só, terão de levar a um acordo. Mas que acordo? Não sabemos. Putin saiu da cimeira mais satisfeito do que Trump e isso é enigmático.
Apesar do visível enfraquecimento russo neste conflito, um cessar fogo e a paz, ajudariam muito, mas o resultado do reencontro foi um conjunto de meras ideias vãs, promessas veladas e desconhecidas, para que num futuro próximo se chegue a um acordo. Putin não tem pressa. Mas o acordo está longe e não era preciso ir ao Alasca para perceber isso, mas para Trump era bom acontecer para poder mostrar ao Mundo que está interessado na paz entre os dois beligerantes.
Interessa a Putin dar alguma credibilidade a Trump ao mesmo tempo que lhe dá esperança de chegar a um acordo, seja ele qual for. Assim mantém acesa a chama da esperança. O tempo corre a seu favor e ele sabe disso. A verdade sobre o que verdadeiramente ficou combinado entre os dois, não sabemos, apenas especulamos. As reuniões dos técnicos vão continuar.
Foi tudo muito vago. Sabemos, isso sim, que os dois “amigos” voltaram a encontrar-se e Vladimir quer o fim das sanções, quer ficar com os territórios ocupados e quer paz. Trump quer o cessar fogo e a paz numa guerra que não é dele e Zelensky quer paz, quer a UE e quer a NATO. Nada disto receberá da Rússia, por agora. O que mudou afinal? Chegaremos a saber?
Nenhum deles conseguiu mostrar a parte positiva deste encontro. Para já não houve acordo nenhum. A montanha pariu um rato.