Nem todos temos a mesma conceção de destino. Uns são fatalistas, como o foi Camões, que acreditam que o destino está marcado e nada podemos fazer para o alterar, outros são positivistas acreditando que tudo pode ser melhor e que podemos sempre contribuir para essa melhoria. Ainda há os que não se importam com o destino e nem sequer acreditam nele.
Afinal o que é o destino? A humanidade sabe que todos caminhamos para um fim, pelo menos terreno e, esse será o destino final. Como chegar até lá é uma incógnita. Os caminhos são infinitos e muitas vezes demasiados sinuosos. Também não sabemos quão distante é esse final. Há caminhos curtos e outros mais longos, mas todos acabam. Têm de acabar. É o destino.
Quando esse caminho que supostamente poderia ser longo e vitorioso é interrompido abruptamente, leva a um sentimento de abatimento, desanimo e vazio imenso.
Foi esse caminho que foi interrompido a Diogo Jota e ao irmão. Foi esse caminho que levou a um destino terrível, impensável. Um destino criminoso que roubou a vida a dois jovens irmãos e os afastou do amor familiar que tanto partilhavam. Foi esse destino que roubos a três crianças o amor do pai e à mulher, esposa e mãe, o pilar de uma construção que se imaginava segura, forte e duradoura. Como se pode acreditar num destino positivo depois disto?
Não podemos negociar com o destino. Nem com o tempo. E se pudéssemos negociar com ele, o que lhe pediríamos? O que poderíamos oferecer em troca? Será que o destino aceitaria alguma coisa? Não, porque ele é intemporal, é abstrato, é impessoal. Não tem sentimentos. Se fosse possível, certamente a viúva tentaria negociar de alguma forma com o destino, o reverso da medalha que ele lhe deu.
Do mesmo modo, o tempo é inegociável. O fio do tempo é indelével e irreversível. Mas é pesado. Nem que fosse somente negociar o esquecimento para aliviar o peso imenso que sobrecarrega o corpo entorpecido pela perda e pela tragédia, seria certamente uma possibilidade. Mas o esquecimento é impossível. Esquecer é o suicídio da alma e como a alma é imortal, esquecer é impossível.
Dobrada pela consternação que a morte violenta de Jota lhe causou, agora só sente falta de apoio, de amparo, de consolo, de amor, de carinho, de palavras. O peso do vazio e do silêncio é demasiado. De momento, é invadida pelo entorpecimento. A realidade é sentida dentro de dias. O silêncio torna-se enorme. Terá de enfrentar momentos irrealistas. O luto não é ultrapassável, mas é integrado e terá de aprender a viver com ele. O tempo é grátis!
Um acidente terrível e violento que dizimou dois únicos irmãos e deixou os pais sozinhos para enfrentar um futuro que nunca imaginaram, não tem palavras para descrever. Deixou igualmente três crianças, que não entendem absolutamente nada do que se passa, mas questionarão dentro de poucos anos, o porquê de lhe faltar o pai. Vão viver um tempo diferente, um sofrimento diferente e um vazio insubstituível, mas aprenderão a viver com ele. O tempo será um aliado do destino que lhes calhou em sorte.
Alguns críticos referiram-se ao facto de Jota e o irmão terem o impacto que tiveram em todo o mundo, quer na sociedade civil quer no meio futebolístico. Adiantaram que se fossem outros jogadores, nada disto se faria e o impacto seria quase nulo. Talvez assim fosse. A diferença está na visibilidade que tinham e para a qual a imprensa e a comunicação social contribuíram. Apesar de não ser um jogador de topo, Jota era conhecido e bem visto como pessoa de fácil relacionamento e amigo de ajudar, além de ser um bom atleta. Muitas vezes ficava no banco de suplentes e quando entrava resolvia os jogos marcando os golos necessários. Era querido no Liverpool e todos conheciam e eram amigo do Jota, o número 20. E assim será eternizado em Inglaterra.
Por cá, foi rodeado de amigos, de colegas portugueses e ingleses, de políticos e por uma família destroçada, sem forças, que o acompanhou até à última morada. Constrangidos por uma morte violenta, avassaladora e demasiado imberbe que resolveu roubar dois jovens que tinham uma vida pela frente, todos pisaram o mesmo chão que os conduziu a uma morada para a qual ainda não tinham feito qualquer contrato de arrendamento. Demasiado violento.
Na realidade, se fosse possível negociar com o destino, nada disto teria acontecido, mas o destino não se revela e a irreversibilidade dos acontecimentos ainda não está ao alcance dos humanos. Que descansem em paz.