Luis Ferreira

Luis Ferreira

O limite do poder

Há quem apelide o poder como um mal necessário. Porém outros classificam-no como a necessidade de exercer o bem e o mal, dependendo de quem o exerce. A verdade é que sem poder ninguém consegue governar. Resta saber como se utiliza esse poder.

O Mundo vive hoje momentos demasiado controversos e perigosos e é, substancialmente governado por quem vai exercendo o poder a seu modo sem se importar muito com o que os outros possam pensar a esse respeito. Os conflitos a que todos nós assistimos diariamente pelas televisões consubstanciadas em opiniões de pessoas supostamente dentro dos problemas, informam-nos cabalmente do que se passa e, ao mesmo tempo, do que possam pensar os governantes que lideram tanto os conflitos como as possibilidades de os resolver.

No entanto, esses governantes supostamente sábios e poderosos, brincam aos jogos de poder, impondo linhas vermelhas a quem estiver contra os seus interesses ou quiser ultrapassá-los.

A guerra da Ucrânia, o conflito do Médio Oriente, as invasões da Síria, do Líbano e os ataques ao Irão, levam estes acontecimentos para um patamar impensável. As consequências colaterais são enormes para todos os países e aqui não existem linhas vermelhas. O poder passa por cima sem se importar com elas.

A invasão da Ucrânia pela Federação Russa, é a demonstração do poder de Putin. Ele próprio impõe limites aos países que podem ajudar a Ucrânia a defender-se desta guerra aberrante e cheia de contradições. A Ucrânia nada fez para merecer ser invadida, mas a sede de poder e de controlo, levou-o a tentar algo que, por acaso, lhe saiu muito mal. A Ucrânia estava bem preparada militarmente e tem sabido defender-se, embora com a ajuda de outras potências. Agora, muito mais debilitada, a Rússia de Putin, promete paz, quer negociação, mas bombardeia no mesmo dia que promete negociar. O poder sobrepõe-se e não se subjuga a uma ideia de paz.

E mesmo os supostos compromissos com Trump, não são cumpridos. O Presidente dos EUA está farto de promessas. O “amigo” Putin afinal tem andado a enganá-lo. Resolve tomar uma posição mais dura e ameaça com ajuda à Ucrânia, mas Putin não se amedronta.

A Europa reúne forças e agrupa frentes de defesa. A Grã-Bretanha, a Alemanha e também a França, alinham o seu poder para ajudar a Ucrânia. Acelera a produção de armamento. Isto acelera um possível confronto Leste Oeste e tudo fica mais perigoso. Medvedev já adiantou a hipótese de “atacar preventivamente” a Europa. Loucura completa. Só da cabeça de um fanático! Ou será que é o estrebuchar do moribundo? Isto porque quer queiramos ou não, a Rússia está muito debilitada militarmente e tem valido uma certa ajuda da Coreia do Norte, quer em homens, quer em armamento.

No Médio Oriente, especificamente em Israel, assistimos igualmente a uma movimentação desorientada de tropas e de ataques israelitas quer na Faixa de Gaza, quer na Síria, quer no Líbano, quer ao Irão. Apesar do apoio de Trump, este não está a gostar do rumo que Netanyahu está a levar. Este, preso a dois ministros de extrema direita ou ultraortodoxos que querem a exterminação do Hamas a todo o custo, não sabe bem o que fazer. O seu limite de poder vai até à possibilidade de sair do governo, caso não cumpra as ameaças dos ministros de extrema direita que sustentam o governo. Ou Netanyahu cede e continua a guerra, ou o governo cai e ele vai preso pelos crimes de que é acusado. A solução é conseguir apoios ao centro de modo a manter o poder e ter a possibilidade de rumar a uma paz mais duradoura que permita uma reconstrução da Faixa de Gaza. Mas como? Será que Trump vai permitir?

Trump cansa-se de dizer que não quer guerras, mas sustenta Netanyahu e Israel no Medio Oriente e vai dar ajuda a Zelensky para se defender dos sucessivos ataques de Putin. Mas a ajuda é paga pela NATO, ou seja, a Europa paga. Como está a ser ultrapassado por Putin, agora para se tentar impor, ameaça aplicar taxas de 100% às importações de Moscovo. Ridículo. Não será esta ameaça que vai pôr fim à guerra da Ucrânia. Mas os cinquenta dias dados por Trump a Putin para alcançar um cessar-fogo, podem dar alguma inquietude ao poderoso Czar. Nem tudo é o que parece e o poder tem destas coisas. Umas vezes é forte e outras demasiado fraco. Tem limites, como tudo.

A linha do poder não é definida por quem manda, mas por quem obedece. Lembremo-nos só do que fez Bolsonaro e Trump para quebrarem essa linha. Qual foi o resultado? Convém não esquecer que até a democracia tem limites.



Partilhar:

+ Crónicas