Um homem bom. Porte e semblante calmo, meio anarquista, meio filósofo, a espelhar os traços cândidos dos velhos pensadores estoicos, para quem os desafios da vida são para enfrentar com serenidade, aceitando o que não pode ser mudado, com acomodada resignação perante as adversidades.
Foi assim que conheci o meu amigo Giovani Maria. 71 anos. Saiu de Turim, no norte gélido de Itália, junto aos Alpes Suíços, onde, nos seus melhores anos, carregava e descarregava no mercado local, e resolveu agora (por razões que só ele sabe) sair do seu país e procurar um país melhor para estar. As boas e más recordações ficaram para trás. Passou por Alemanha, não lhe agradou. França também não. Espanha igual.
Aqui sim. Está-se bem. É dono e senhor das ruas. Príncipe do nada. Um grupo de jovens quis quotizar-se para lhe proporcionarem o regresso à sua terra. Não aceitou. “Lá fá molto frédo (frio)”, justificou-se num português impercetível. Por cá, dão-lhe de comer e dormir na Misericórdia. Ninguém o chateia. Ele não chateia ninguém. Que melhor vida, afinal, podia ter o meu bom amigo Giovani?