Luis Ferreira

Luis Ferreira

Medo e risco de mãos dadas

Na insofismável mentalidade de cada ser e dependendo de cada momento que o mesmo vive, há sempre presente uma percentagem de medo acompanhado de um risco que por vezes o medo não consegue controlar.

Embora muitos neguem a ausência de medo perante situações desconhecidas, a verdade é que ele está presente, sendo que o risco faz com que o medo passe para segundo plano. Isto é válido para qualquer situação, seja um simples jogo disputado numa mesa de xadrez ou uma partida de futebol onde a necessidade de pontuar é um objetivo real.

Mas a realidade vai muito para além do que se possa imaginar e até do que o medo pode controlar no atual momento que atravessamos. Assumir riscos faz parte da natureza do homem, ser pensante, mas nem por isso mais atinado ou assertivo. Diz o povo e com alguma razão, que quem não arrisca, não petisca, o que significa que a necessidade de correr riscos é inevitável se queremos atingir objetivos. Na verdade, até pode ser assim, mas há riscos e risco, assim como necessidades. Estas fazem com que os riscos que se correm sejam mais ou menos perigoso e tenham consequências diferentes. Por exemplo, os treinadores de futebol fazem substituições com o objetivo de conseguir melhores resultados e de ganhar os jogos, mas podem não resultar, como sabemos. Joga-se no campo e com os jogadores, planos de jogo e correm-se riscos que por vezes não compensam. Perdem-se os jogos. Pois se cada vez que se fazem substituições se ganhassem jogos, então tudo estaria resolvido e todos os riscos compensariam, mas não é assim a realidade. O treinador corre riscos porque tem medo de perder o jogo ou, numa perspetiva mais animadora, para manter um resultado positivo. Mas nada lhe diz que até ao final do encontro, o resultado não possa ser diferente. O medo mantém-se.

Alargando horizontes, vejamos o que se está a passar em vários países incluindo Portugal, no que se refere ao alargamento das restrições face ao Covid19. O Verão chegou com baixas perspetivas económicas já que se impunham restrições a alguma circulação aérea e as zonas mais procuradas viram goradas as suas expectativas. Procurando salvar um pouco a nossa economia, o governo abriu o leque das liberdades, que económicas, quer sociais e as consequências podem ser desastrosas. Muitos perderam o medo e correram riscos tremendos, sem pensarem nas consequências que daí possam advir. Outros, para não perderem a oportunidade de salvar uns dias de férias depois de tanto confinamento, correram o risco de ir até ao Algarve, por exemplo, acompanhados pelo medo terrível de se encontrarem com o vírus invisível, que por lá se passeia, também ele a banhos. De mãos dadas, medo e risco, por lá se passeiam, ambos de férias, juntos com os veraneantes que a medo, pedem aos deuses que afaste deles o cálice do desespero e da dor e deixem gozar os poucos dias a que têm direito depois de tanto trabalho em confinamento imposto.

Mas, mais longe ainda e abrangendo o Mundo inteiro, não podemos esquecer os Jogos Olímpicos e todo o medo que o Japão viveu e viverá e o risco que correu para manter a realização destes jogos. Foram os primeiros jogos da Humanidade em confinamento. Sem público e sem glamour eles aconteceram, mas o medo e o risco, estiveram presentes em todos os momentos, fazendo com que, no fundo, fossem uns jogos falhados. Os atletas não conviveram, o público esteve ausente, não houve confraternização entre delegações, não houve calor humano, não se ouviram os aplausos, não existiu o entrosamento necessário entre os atletas e os apoiantes. Existiram somente e com muito medo, os atletas competindo, cada um por si, solitários, para depois, ainda solitários, se enfiarem no seu quarto, sozinhos e deitarem-se em camas de cartão, remetidos a um silêncio sepulcral. Aqui, só a possibilidade das medalhas, diminuiu o risco e o medo dos atletas.

De mãos dadas, o medo e o risco, ensombraram estes jogos e o Japão não saiu vencedor.


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