Luis Ferreira

Luis Ferreira

As ondas do mar revolto

Quando no mar não há grandes ondas, dizemos que o mar está chão e, neste caso, o perigo é bem menor para quem o enfrenta e atravessa. Não obstante, nas suas profundezas os perigos continuam a ser os mesmos de sempre. Quando está revolto todos o temem, mas nem todos deixam de o enfrentar, até porque ele continua a ser o meio de sustento para muitos.
Embora utilizando o mar metaforicamente, isto aplica-se a tudo o que a vida nos impõe, ou não. É o caso das vicissitudes da política e tudo o que a elas diz respeito. Quando não há eleições por perto, tudo está calmo e sereno. Quando elas se aproximam tudo se transforma e as ondas são enormes e perigosas. Os que se metem nelas sabem bem o que os espera, mas enfrentam os perigos, até porque muitos não sabem viver de outra forma. Vivem simplesmente da política, mesmo fazendo muito pouco.
Nos últimos tempos temos vindo a constatar as movimentações políticas devido ao aproximar das eleições legislativas. Se alguma serenidade se notou a este respeito até há pouco tempo atrás, agora o mar deixou de estar chão para se tornar revolto. Ondas enormes fazem-se e desfazem-se neste mar deveras perigoso, arrastando consigo alguns desses menos preparados que pensam que sabem flutuar, só porque aprenderam a dar umas braçadas. Puro engano! Elas engolem os mais destemidos na primeira quebra de onda.
A vontade de sobrevivência, leva alguns deles a desfraldar a bandeira das eleições presidenciais. Adivinham já a possibilidade de fracasso e como não têm bóia de salvação, procuram um madeiro que a próxima onda possa arrastar, mesmo vivendo a aflição e os perigos que o mar revolto significa.
A verdade é que as eleições despertam o panorama político português e mostram-nos como os representantes dos vários partidos esgrimem as suas razões. Se atentarmos bem aos pormenores que cada um defende, diríamos que todos têm razão. De facto têm. Não nos podemos eximir dessa concordância, embora isso a muitos custe admitir. Deixemo-nos de clubismos e sejamos sinceros, sob pena de cairmos nos tais fanatismos que condenamos tanto aos outros, especialmente aqueles que estão lá para os lados do médio oriente. O difícil é conjugarmos essas razões e fazermos com elas um só propósito, uma só política, um só objectivo. Mas não é possível. O que é fácil não interessa a ninguém. É preciso haver luta para que a vitória sorria.
Embrulhados nesta azáfama eleitoral, aí estão os partidos a justificarem as razões que o governo não tem e as suas próprias razões que julgam ser as mais acertadas. Nada disto é pacífico. É um mar tão revolto que os próprios navegantes têm medo de submergir. E alguns submergirão certamente.
Entretanto, atiram-se para a cena política sondagens que agradam a uns e desagradam a outros e os mais descontentes acham que são irrelevantes e chamam a atenção para as presidenciais. Os mais expeditos chamam à atenção para não misturarem as coisas. É o acontece com os principais partidos. Se ao partido social democrata não interessa muito embarcar no barco das presidenciais, já o mesmo não acontece a outros partidos, nomeadamente o socialista que, apesar de não adiantar nada a respeito, vê candidatos a candidatos aparecerem de todo o lado sem que nenhum se afirme deveras. António Guterres já se posicionou. Finalmente, para mal dos socialistas. Nóvoa anda à procura e a enervar os socialistas. Já Rui Rio, Santana e Marcelo, continuam ao sabor das ondas, enquanto o mar ainda está chão. O que será quando se tornar revolto?
De qualquer forma, o mar já está suficientemente agitado com as legislativas e quer se queira quer não, dentro de uma lógica de sondagens o partido socialista vai à frente, mas também é verdade que ninguém ganha as eleições de véspera. Há que esperar, portanto. Neste entretempo, o mar vai-se tornando cada vez mais agitado, as ondas mais alterosas e quem não souber arranjar tábuas de salvação, vai mesmo ao fundo. Isso é uma certeza. Esperem só até o mar se tornar mais revolto. A batalha naval aproxima-se.


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